quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Ilhas de Sirinhaem - PE - Descaso com a população local

Iminência de despejo de uma das últimas famílias de pescadoras tradicionais das Ilhas de Sirinhaém


Maria de Nazareth, pescadora tradicional e mãe de dois filhos, vive nas Ilhas de Sirinhaém, litoral sul de Pernambuco, desde que nasceu. Mas a sua família, uma das últimas que vive nas Ilhas, pode ser despejada a qualquer momento pela Justiça, a pedido da Usina Trapiche.

Uma semana após o Brasil eleger uma mulher à presidência da república, o Estado e a Justiça de Pernambuco, aliados ao agronegócio, tiram de uma outra mulher o direito de viver com dignidade. Maria de Nazareth, pescadora tradicional e mãe de dois filhos, vive nas Ilhas de Sirinhaém, litoral sul de Pernambuco, desde que nasceu. Mas a sua família, uma das últimas que vive nas Ilhas, pode ser despejada a qualquer momento pela Justiça, a pedido da Usina Trapiche. O juiz da Vara única de Sirinhaém, Luíz Mario de Miranda, já anunciou o despejo da trabalhadora, que tem até hoje pela manhã, dia 08/11, para aceitar uma das propostas impostas pela Trapiche, ser despejada das Ilhas e ir para a periferia do município. A outra família que vive nas Ilhas é a de sua irmã, Maria das Dores. O processo judicial atual anuncia o despejo da pescadora Maria de Nazareth, entretanto, através de uma manobra judicial, a Usina pretende também despejar a pescadora Maria das Dores, sob a qual não recai nenhuma ordem de despejo. As Colônias de pescadores da região, religiosos e entidades que acompanham o caso, como a Comissão Pastoral da Terra, a Comissão Pastoral dos Pescadores e a Terra de Direitos estão em alerta e mobilizados no local.



Não se trata de uma questão pontual. A família de Maria Nazareth e Maria das Dores são vítimas de um conflito que dura mais de 25 anos e que envolve também outras 51 famílias de pescadores, que viviam nas Ilhas de Sirinhaém e que foram sendo expulsas, uma a uma, pelas ações criminosas da Usina Trapiche, com sucessivas ameaças, queima das casas e perseguições. Atualmente só as famílias das duas irmãs permanecem na área. Essas mulheres tornaram-se símbolo de luta e resistência contra os crimes cometidos pela Trapiche e pelo monocultivo de cana-de-açúcar na região.



Governo do Estado conivente com o conflito - A justiça e a Usina Trapiche caminham para por um fim na história de mais uma comunidade tradicional. E o Governo do Estado de Pernambuco se posiciona de forma conivente diante do conflito. Desde 2006, como forma de solucionar o conflito, as famílias, com o apoio da população local, da Colônia e da Associação de pescadores e por diversas organizações ambientalistas e de direitos humanos, solicitaram ao ICMBio e ao Ibama o pedido de criação de uma Reserva Extrativista (Resex) na área. Com a criação da Resex a proteção ambiental na área e a permanência das famílias em seu local de origem fica garantida.

O processo administrativo para a criação da Reserva já foi concluído, dependendo apenas de uma posição favorável do Governador do Estado de Pernambuco, Eduardo Campos, para que seja criada. Entretanto, mesmo com a iminência do despejo das últimas famílias que resistem nas Ilhas, o Governo do Estado se posiciona de forma conivente com a violência promovida pela Trapiche.

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