domingo, 17 de maio de 2009

Texto base do XII Intereclesial das CEBs

CEBs, ECOLOGIA E MISSÃO

DO VENTRE DA TERRA, O GRITO QUE VEM DA AMAZÔNIA

Estrutura do livro:

Apresentação

Introdução

Parte I. “O grito da terra e dos povos amazônicos” – sete artigos

Parte II. “A Igreja que vive na Amazônia proclama o Evangelho da vida” – cinco artigos

Parte III. “Clamor por justiça, partilha e paz” – cinco artigos

Apresentação (D. Moacir Grechi – Bispo de Porto Velho)

O texto-base do XII Inter tem como proposta um aprofundamento da dimensão missionária e ecológica das CEBs.

Identidade da CEBs na Igreja da Amazônia:

  • “Povo reunido na unidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo (AS n.1)
  • Uma Igreja discípula da Palavra
  • Testemunha do diálogo
  • Servidora e defensora da vida
  • Irmã da Criação
  • Fonte de inspiração
  • Discípula, tornando-se parecida com Jesus Cristo
  • Experiência das primeiras comunidades
  • Instrumento de revitalização da Igreja, de evangelização e de formação de cristãos comprometidos com sua fé

O XII Intereclesial das CEBs ajuda-nos a compreender a sociedade pluriétnica, pluricultural e plurireligiosa da Amazônia e de todo Brasil.

Quer fortalecer a articulação e a comunicação das CEBs; aprofundar sua identidade, comunhão e espiritualidade missionária e ecológica, à luz do Documento DA.

Quer ser ponto de convergência para o exercício de uma cidadania solidária e corresponsável em prol de uma nova ordem, nova civilização e uma nova Amazônia.

Sobre a proteção de Nossa Senhora de Guadalupe, Estrela da Evangelização.

2. Introdução (Valdecir Luiz Cordeiro – Padre do secretariado)

O cuidado com a vida é desafiante e principalmente agora em que ela se encontra ameaçada.

Quando falamos de ecologia, ligamo-nos, sobretudo a uma maneira harmônica e integrada de pensar e viver a realidade em todas as suas dimensões.

Deus confiou ao ser humano o cuidado e o cultivo de sua obra criadora (Gn 2,15; Lc 12, 27).

“CEBs/Ecologia e missão” se articulam num todo coerente. Elas são células de vida, formam o Corpo de Cristo, prolongam sua ação no mundo – “Eu vim para que todos tenham vida” (Jo, 10,10).

PARTE I – O GRITO DA TERRA E DOS POVOS AMAZÔNICOS

I. DIMENSÃO LATINO-AMERICANA DA AMAZÔNIA: UMA REALIDADE COMPLEXA (Sebastião Antonio Ferrarini – Irmão Marista, historiador).

O espaço Amazônico – possui mais de 7 milhões de quilômetros quadrados, composto por Bolívia, peru, Equador, Colômbia, Venezuela, Guianas, Suriname, Guiana Francesa e Brasil.

O grande rio que dá unidade a toda a Amazônia é o Amazonas que pé conhecido por diferentes nomes: Maranon, Solimões, Amazonas.

A rica variedade de vegetação está presente em todos os países que compõem a Amazônia.

As paisagens – A Amazônia é um BIOMA que abriga uma infinidade de espécies animais e vegetais.

Os recursos amazônicos – A Amazônia é tida como berço de inumeráveis povos que habitam a região há mais de 10 mil anos.

Esses povos construíram um modo de vida compatível com o meio ambiente. Eles tinham suas leis, seus costumes, sua religião.

Acredita-se que por volta de 1500 habitavam na região entre 3 e 6 milhões de pessoas autóctones.

Uma cultura banida pelos confrontos entre portugueses, espanhóis. Com a força das armas dos estrangeiros milhões de nativos foram mortos, no espaço de poucas décadas.

A primeira tentativa de exploração de trabalhos humanos foi com os nativos, em seguida com os africanos. A escravidão e a servidão indígena provocaram o genocídio de inúmeros povos e o despovoamento de grandes áreas em toda a Amazônia.

O bioma amazônico – bioma é um espaço geográfico com características próprias, interagindo em seu interior climas, fauna, flora, hidrografia etc.

No Brasil existem cinco biomas:

1. Amazônia, 2. Cerrado 3. Caatinga 4. Pantanal 5. Mata Atlântica

Podemos dizer que os biomas, no planeta, têm uma função específica de equilíbrio e cada um contribui para qualidade de vida dos seres vivos.

Desfigurar o bioma amazônico latino-americano, com estilo de vida e tecnologia do mundo do hemisfério norte, ou dos países capitalistas, é violentar a identidade da Amazônia.

Os perigos que ameaçam a Amazônia:

a) mineradoras que provocam alteração nas paisagens, como ex. mercúrio que é despejado nas águas e contamina também a fauna aquática. Os povos nativos sofrem e adoecem com a degradação do meio ambiente.

b) Agronegócio destrói em grande escala o meio ambiente. Usa uma quantidade enorme de venenos (os CIDA = herbicida, formicida, inseticida etc.)

c) As estradas – cortam os biomas, destroem as reservas indígenas e provocam êxodo inter-regional.

d) Indústria farmacêutica que não leva em conta a milenar cultura autóctone, a sua sabedoria e seus conhecimentos.

II. O BIOMA AMAZÔNICO E A REALIDADE SOCIAL DOS POVOS AMAZÔNICOS (mesmo autor)

No Brasil, o bioma amazônico, conforme IBGE tem 4,19 milhões de km², ou seja, 49,29% do Brasil correspondem aos estados do Pará, Amazonas, Acre, Amapá, Roraima, Rondônia, Mato Grosso, Tocantins e Maranhão.

A Amazônia brasileira possui mais de 3,65 milhões de km² de florestas contínuas, divididas, principalmente, em três tipos:

  • Floresta de igapó ou várzeas: áreas que ficam alagadas durante parte do ano
  • Floreta de terra firme: terra mais alta da Amazônia, com árvores de grande porte e dossel fechado.
  • Manguezal e florestas costeiras

Fala-se ainda da economia, do PIB de cada Estado demonstrando o nível de pobreza em contraste com a riqueza que a Amazônia representa. Há aproximadamente 2,7 milhões de hectares de terras produtivas utilizadas, enquanto se desmatam novas terras.

Há dois principais sistemas de produção agropecuária, o patronal-monocultural e o familiar-policultural.

A extração de madeira responsável por 127 mil empregos diretos e 105 mil empregos indiretos dentro da região e ainda mais de 120 mil empregos indiretos fora da região.

Há ainda produtos medicinais, cosméticos, pesca entre outros...

O turismo, o turismo científico e a prática de esportes radicais.

A economia de substância, de mandioca, feijão, milho e arroz; as coletas de produtos típicos, como açaí, castanha, seringa, cipó e ou o peixe que forma a base protéica do Amazônia.

O contexto social – a diversidade étnica e cultural da população indígena é marcante, existindo aproximadamente 160 povos que falam cerca de 160 línguas consideradas isoladas. Esses idiomas codificam o conhecimento da natureza e dos comportamentos de convivência harmônica com a floresta.

70% das terras indígenas estão demarcadas ou em processo demarcatório, perfazem um total de 450 áreas.

Grande parte da população possui herança indígena ou indodescendência notáveis: ribeirinhos, caboclos, seringueiros, castanheiros, quebradeiras de coco e pescadores.

Migrantes estrangeiros – entre eles destacam-se: japoneses, enquanto nas fronteiras há interação constantes com os países vizinhos, da Bolívia ente peruanos à Guiana Francesa.

Conflitos: fundiários, jazidas minerais, madeiras nobres e acesso à pesca.

Socioeconômico: Infra-estruturar precárias, pobreza, baixa escolaridade, falta de estruturas institucionais apropriadas.

III. UM CERTO BIOMA E OS SEUS SINTOMAS OU CIDADANIA & FLORESTANIA NA AMAZÔNIA (Armando Dias Mendes – Professor Universitário)

A natura amazônica: o seu bioma, biócoro ou biocenose (simbiose entre cultura e natureza); A cultura na Amazônia: o ser humano e seu idioma.

O autor fala da criação (Gn) como um bioma que Deus confiou ao ser humano, assim que os criou – “Deus formou o ser humano com o pó do solo, soprou-lhe nas narinas o sopro da vida e ele tornou-se um ser vivente...” (Gn 2, 7-15).

A sustentação do ser humano ele próprio propõe o cultivo inteligente e a “guarda” ou preservação global, do ao redor, do entorno do ser humano – do próximo. A sustentação da cultura supõe e impõe a sustentação da natura.

Na medida em que a biocomunidade é completada pala inserção humana, ela acolhe um fator de perturbação – um fator de risco ou de aperfeiçoamento – e nunca mais será a mesma.

A realidade urbana perversa atual, favelizada e desprovida dos equipamentos urbanos básicos (CF. p. 37 1º§)

O autor termina com as palavras de Euclides da Cunha: “...o homem, ali, ainda é um intruso”. E, no entanto, ali é também a “terra da promissão” brasileira.

IV. OPÇÕES POLÍTICAS E ECONÔMICAS NA AMAZÔNIA (Fean Hébette – Teólogo e economista)

Na origem, o Brasil e Grão-Pará/Maranhão são irmãos afastados desde o berço

Como ser irmãos sem se conhecer mutuamente? Brasil e Amazônia nasceram num mesmo berço – a Corte real de Portugal – mas se criaram em ambientes distantes.

A Amazônia fez sua entrada no império Português mais de um século depois, com a posse da terra de Santa Maria de Belém e a instalação do Forte do Presépio na foz do rio Amazonas, em 1616.

Em 1621, ela recebia seu nome de batismo: Estado do Maranhão – posteriormente Estado de Grão-Pará e Maranhão – como outra Colônia portuguesa e com administração distinta da Colônia Brasil. (Cf. p. 44 2º§)

Getúlio Vargas – Vai buscar o irmão abandonado – “Vim para ver de perto as condições de realização do plano de reerguimento da Amazônia...” (Cf. p.45 2º§).

Juscelino Kubitschek – O Presidente faz a transferência da capital federal como ponto estratégico de uma integração em dimensões nacionais e com a abertura da rodovia Belém-Brasília.

O frenesi militar – grandes projetos dos anos 1970-1980: criação de uma gigantesca rede rodoviária; o enorme movimento migratório que dele decorreu; a desenfreada apropriação privada da terra; e a corrida nacional e internacional aos recursos minerais energéticos. E, em contraponto negativo, a rejeição da reforma agrária.

Problemas decorrentes:

a) Marginalização dos povos nativos e a diversa miscigenação

b) As grandes migrações

c) A apropriação legal e ilegal da terra pela agropecuária e pelas madeireiras

d) Os macros projetos de mineração e hidrelétricas

O que vemos hoje? (Cf. p. 54)

  • O rearranjo espacial da Amazônia
  • Pseudourbanizarão e cidadania
  • Desmatamento, queimadas e mudanças climáticas
  • Crimes contra os direitos humanos
  • A dinâmica social dos excluídos: movimentos sociais e ação das Igrejas

O Concílio vaticano II e suas repercussões na Teologia que levaram a uma nova prática da Igreja Católica. Uma nova maneira de abordar os problemas da pobreza, do atraso econômico, da dependência e da exploração humana, passando progressivamente de atitudes paternalistas e conservadoras para atitudes mais críticas e mais combativas.

As Comunidades Eclesiais de Base – CEBs surgem dessa opção da Igreja. Elas estimularam a participação dos cristãos leigos/as nos movimentos sociais e na ação política.

As CEBs foram responsáveis por formar grande parte dos sindicalistas e políticos amazônicos.

Hoje, seu quadro tornou-se autônomo em relação à Igreja, atuando em suas próprias instituições. Nesse processo a Igreja tendeu a se retirar em suas práticas tradicionais.

Foi na Amazônia que surgiu o Conselho Indigenista Missionário – CIM, em 1972 e a Comissão Pastoral da Terra – CPT, em 1975.

V. CEBs E AS RELIGIÕES INDÍGENAS (Gunter Kroemer – padre, antropólogo, defensor dos indígenas).

A riqueza pluricultural e religiosa na qual se evidenciam novos cenários, marcados pela diversidade, pela lógica da diferença e pelo pluralismo religioso e, conseqüentemente, Pelo respeito à alteridade, ganhou destaque nos últimos intereclesiais.

Neste XII as religiões indígenas, cuja presença de Deus, no imaginário, está na interação como um todo, são convidadas a evidenciar alternativas historicamente construídas, que possam ser constitutivas na forma de responder a ameaças feitas à vida dos seres humanos, de todas as espécies de fauna e flora, à terra, ao ar, às águas; à vida do planeta. Sua dinâmica cultural criou um sistema interdependente, coerente e coeso, em que o econômico, o ecológico e o espiritual fazem parte de um todo.

Os indígenas são capazes de captar a presença de Deus na história cotidiana. Deus é entendido como Pai e Mãe, uma realidade espiritual que se relaciona com a terra, vento, sol, raio e chuva. Deus é um Deus vivo na natureza, no cosmo, na tradição e nos costume do povo.

A espiritualidade está na celebração da presença de Deus, nos ritos, na crença e nos mitos.

Adotam a natureza, fauna e flora com propriedades sociais. Eles tecem relações sociais para explorar a natureza e criam imaginário para domesticá-la.

O sistema econômico não visa o acúmulo de excedente e por serem eles igualitários, desconhecem a exploração do trabalho.

VI. AMAZONAS: MULHERES UNIDAS PELA CINTURA! (Nancy Cardoso Pereira – agente da CPT)

As mulheres da Amazônia são muitas, com experiências diversas, origens plurais e culturas variadas.

As diferenças de classe, raça, etnia e sexualidade dificultam falar sobre as mulheres.

O próprio nome – Amazonas – reúne uma combinação de equívocos e preconceitos por parte de viajantes e aventureiros.

A história diz que os viajantes ao serem confrontados com mulheres nativas, que não se encaixavam nos papéis tradicionais que conheciam, buscaram em lendas e mitos antigos alguma referência que traduzissem uma realidade de mulheres fortes, atuantes em todos os aspectos da vida social, não submetidas ao poder dos homens e com autoridades e lideranças nos combates.

Os viajantes e aventureiros vão usar o mito das amazonas (sem seio) da mitologia grega para descrever o novo e inusitado: a existência de uma região de floresta, com rios enormes e caudalosos, uma natureza fantástica com seres fabulosos, difíceis de serem conhecidos, dominados e submetidos. Também as mulheres.

O que a história guardou – Um espanhol em 1541 ele teria lutado contra uma tribo de índias guerreiras, criou-se o mito e o nome ficou.

As mulheres indígenas da Amazônia estavam sempre em prontidão, armadas e estrategicamente preparadas para vencer os inimigos. André de Thevet (1944: 379) admite que essas mulheres guerreiras intimidaram o grupo de soldados espanhóis liderados por Orllana, colocando- os para correr nas cercaninas da Amazônia. De acordo com as suas palavras, mal desembarcaram os espanhóis à procura de repouso e alguns víveres, as amazonas reuniram- se incontinente. Em menos de três horas, contavam doze mil, no mínimo (...). Todas nuas, mas de arco e flecha em punho, urrando como se estivesse diante de seus inimigos (...). Os espanhóis retiram- se a salvo- âncoras levantadas e velas despregadas.

http://www.fazendogenero8.ufsc.br/sts/ST19/Iraildes_Caldas_Torres_19.pdf

Assim, as populações tradicionais da floresta se organizaram de modo a “guardar” as mulheres, designando os homens para as tarefas externas o contato com a sociedade mais ampla e as mulheres para as funções ligadas ao saber e poder na comunidade: parteiras, rezadeiras, artesãs.

A história de luta das mulheres na Amazônia não são cópias e nem filiais de qualquer movimento de mulher no Brasil. Elas têm nelas mesmas a história de luta e resistência, elas tem o saber tradicional e o saber de quem migrou, elas tem na defesa das florestas a defesa delas mesmas. Unidas pelo cinto, as mulheres da Amazônia vão dizendo suas palavras.

VII. AS CEBs: UMA IGREJA COM ROSTO AMAZÔNICO (Raimundo Possidônio – padre da Arquidiocese de Belém)

“Deus viu que a Amazônia era boa”! CF/2007 – faz um discurso teológico da criação afirma que a Amazônia é obra do Deus Criador, pois neste pedaço do planeta quis presentear-nos com um pedaço do Paraíso, e fez os povos desta terra depositários de uma grande missão: cuidar de sua obra maravilhosa.

Ele critica certas visões sobre a Amazônia tais como: mundo selvagem, pulmão do mundo, inferno verde, paraíso tropical, fonte inesgotável de recursos, lugar exótico, gente exótica – visão externa que só denotam falta de conhecimento. Fala das muitas amazônias!

A Igreja e sua caminhada amazônica: memória e vivência – Parte de Medellín (1968) quando a Igreja assume o rosto latino-americano e em Puebla (1979), em Santo Domingo (1992) em Aparecida (2007) confirmando respectivamente a fisionomia de uma Igreja que é considerada esperança para toda Igreja.

Uma Igreja com rosto amazônico: anuncia a Boa Nova de JC encarnada na realidade, de forma libertadora (Cf. p. 86 2º§)

As CEBs na Igreja Amazônica, sempre foram instrumentos para atuar no meio dos pobres para concretizar seu projeto evangelizador (Cf. p. 87, último §).

Na Amazônia, cenário de tantos contrastes, de sofrimento para os pobres, excluídos e “descartados” do mundo globalizado e sem alma, as pequenas comunidades eclesiais serão como o Bom Samaritano a debruçar-se sobre o caído, curar-lhe as feridas, devolver-lhe a dignidade de viver na certeza de que Le nunca está sozinho nas estradas deste mundo desigual, pois haverá sempre uma comunidade em seu caminho, que fez opção por Cristo em solidariedade com os pobres, para caminhar juntos rumo a um mundo fraterno, a utopia do Reino de Deus, reconstruindo Amazônia como lugar onde Deus viu que tudo era bom e que continua ser este lugar acolhedor de tantos irmãos e irmãs que aqui chegam em busca de um lugar para viver com dignidade. (Cf. p. 92 último§)

PARTE – II A IGREJA QUE VIVE NA AMAZÔNIA PROCLAMA O EVANGELHO DA VIDA

I. SALVAR A TERRA, CUIDAR DA HUMANIDADE E GARANTIR O FUTURO DA VIDA E DA FÉ CRISTÃ (Leonardo Boff – teólogo)

I. O contexto:

Não estamos indo ao encontro do aquecimento global. Já estamos dentro dele. (Cf. p.95)

Cresce a consciência de que só temos uma una Casa Comum, o planeta Terra.

Como humanos somos parte da Terra, melhor, numa perspectiva que considera a evolução ascendente, somos a própria Terra, que num momento de sua evolução, começou a sentir, a pensar, a amar, a venerar.

Esse momento da Terra é representado pelo ser humano, homem e mulher. Homem vem de húmus, terra fértil. Adamah significa, em hebraico, terra fecunda, e Adam é o filho e a filha dessa terra.

Descobrimos, talvez tarde demais (somente a partir dos anos 70 do século XX, que a Terra é uma entidade autorreguladora, ou seja, um superorganismo vivo que articula o físico, o químico, o biológico e antropológico de tal forma que ela se torna benevolente para a vida. É a teoria de GAIA, formulada por James Lovelock.

O problema reside nisto: agora nos certificamos de que a regulação normal da Terra está falhando, que esta está se aproximando do estado crítico e que toda a sua vida corre perigo.

O sistema Terra-humanidade está ameaçado pela atividade irresponsável dos seres humanos. Já ocupamos 83% do planeta e o exploramos irresponsavelmente a ponto de a terra ter passado em 20% sua capacidade de suporte e de regeneração.

Diante desse desafio, em que medida as Igrejas e as CEBs colaboram para garantir um futuro de esperança e de vida?

As Igrejas são desafiadas a empenhar-se, junto com outras religiões e tradições espirituais, nessa missão messiânica, portadoras que são de herança sagrada de Jesus que disse: “Vim trazer vida em abundância” (Jo 10, 10). Aqui se impõe um ecumenismo orientado pela missão comum, de serviço à Terra, à humanidade, à vida e ao futuro coletivo.

A Igreja deve entrar em diálogo cultural e salvífico com as várias culturas, filosofias e religiões da humanidade.

O caminho é o da ousadia. O cristianismo pode ousar.

A situação mundial é de crise e não de tragédia. (Ver pag. 98)

Os desafios

Recursos da terra que não são mais renováveis, como o petróleo, o carvão e outros. A água é um bem mais escasso da natureza. O aquecimento global do clima da Terra devido ao efeito estufa e a contaminação da atmosfera provocando degelo e aumento dos oceanos...

Aponta a idéia de Gore afirmando que dentro de 30 anos o risco de devastação e de James Lovelock que em 20-30 anos se nada fizermos a partir de agora, 80% da humanidade poderá desaparecer pelo excesso de aquecimento e o Brasil em grande parte será inabitável. É a vingança de GAIA (Cf. p. 99).

A porção rica da humanidade (apenas 20%) tende a isolar-se de outra porção (80%). Os humanos estão se considerando não apenas como diferentes, mas como dessemelhantes.

As Igrejas devem se opor a essas políticas excludentes e fazer tudo para manter a humanidade unida como uma única família, habitando numa mesma Casa Comum, a Terra, mãe de todos os viventes.

O texto aponta ainda um gravíssimo problema da injustiça social mundial ao afirmar que 3 bilhões de pessoas vivem ou sob a linha de miséria ou sob a linha de pobreza crônica. Essa situação aos olhos de uma ética mínima representa uma injustiça social e aos olhos da fé, um pecado social que clama aos céus

Outros pontos enfatizados: a questão da guerra, do fundamentalismo e do terrorismo; a dimensão planetária e a destruição do futuro da juventude; a crise da ética e da espiritualidade (Cf. p. 101).

Setores importantes e hegemônicos das religiões são dominados pelos fundamentalistas. O fundamentalismo estima que sua doutrina é a única verdadeira e as demais são falsas. Há uma guerra entre as religiões. E são as religiões que, na prática orientam as pessoas, muito mais que as ideologias e os interesses econômicos.

Não haverá paz entre os povos se não houver previamente paz entre as religiões. (Cf. p.102).

A bela definição que a Carta da Terra dá à paz: “é a plenitude criada por relações corretas consigo mesmo, com outras pessoas, com outras culturas, com outras vidas, com a Terra, com o TODO MAIOR, do qual somos parte”.

Ética e espiritualidade andam juntas. Só a ética não dá conta dos problemas mundiais. (Cf. p. 104)

Diante do clamor ecológico universal, as CEBs devem ser não apenas comunidades eclesiais de base, mas a partir da sua missão religiosa ser também comunidades ecológicas de base CEBs.

Desde que Cristo ressuscitou não podemos mais desesperar. Devemos ser, na bela expressão de Roberto Malvezzi (Gogó) “Como os peixes de piracema que só desovam nadando contra a corrente e assim reproduzindo a vida”.

II. LEITURA AMAZÔNICA DA BÍBLIA (Ir. Tea Frigério – Missionária de Maria e assessora do CEBI)

Ir. Tea faz uma reflexão olhando a Bíblia no seu conjunto. Fala da importância em escutar a Palavra de Deus no cotidiano, na nossa história. Escuta que ilumina e alimenta criativamente nosso pensar, nosso agir, que nos torna capazes de reler e assim continuar a escrever a História Sagrada.

A Vida é o fio que perpassa todo o texto Sagrado. A Vida é o trançado que compõem a trama da Amazônia. A CF/2007 e as CEBs 2009 são momentos históricos, são estrelas que nos guiam, nos provocam a nos colocar a caminho como se colocaram a caminho os sábios e as sábias que viram no céu a estrela, perceberam o novo despontar do antigo (Mt 2,2).

Então silenciamos, aguçamos a vista, colocamos em alerta nossos ouvidos, abrirmos nossas mentes, nossos corações para a Palavra de Deus que somos convidadas, convidados a ouvir, a escrever hoje a partir da Amazônia.

O canto que vem dos povos indígenas convida-nos a acolher os seus textos sagrados, textos sagrados não escritos, mas contados, cantados, mantidos na memória da tradição oral, nas lendas, nos mitos e nos ritos. Beber da fonte dos textos sagrados indígenas e cristãos.

Adotar atitude de reconhecimento, gratidão e compromisso com o fio da vida, protestando contra os verdes que estão sendo mortos, contra os criminosos que ateiam fogo nas selvas, poluem os rios e lagos, exterminam a fauna e matam seus legítimos filhos e filhas.

O ser humano e a terra são casados. Um casamento que não pode ser desfeito. Rompido esse casamento, as pessoas tombam num exílio feito de poeira amarga e estéril. Que este não seja nosso futuro (Cf. p. 117, Sl 104 ultimo §)

III. DIÁLOGO ECUMÊNICO ENTRE AS IGREJAS CRISTÃS EM FAVOR DA VIDA E DA JUSTIÇA (Cláudio de Oliveira Ribeiro – Pastor metodista, em Santo André)

“Ecologia e missão” é um tema que diz respeito a todas as igrejas. O “grito que vem da Amazônia”, “do ventre da terra”, tem de ser dado e ouvido por todos os grupos cristãos, por todas as religiões e por todas as pessoas de boa vontade. É um chamado de Deus em favor da vida e da justiça no mundo.

Por que refletir sobre o ecumenismo? Porque a teologia ecumênica tem formulado novas perspectivas. O termo que melhor expressa esse panorama é a transconfessionalidade. Na proposta ecumênica, não se trata de menosprezar as raízes confessionais. Ao contrário, busca-se nas raízes confessionais os elementos positivos, singulares e que se mantém como contribuição permanente. Ou seja, busca identificar os valores comuns que são os valores do Reino de Deus.

A busca de unidade entre as igrejas – De todas as experiências no Brasil, uma das mais significativas tem sido a presença de pessoas e grupos de igrejas evangélicas com visão e práticas ecumênicas nos encontros intereclesiais das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs). A dimensão prática que une os cristãos está na luta pela vida, pela justiça no mundo, pela solidariedade e cidadania entre os pobres. (Cf. p. 123 penúltimo §).

O outro, numa dimensão teológica, ao jeito das CEBs, soma-se com as comunidades de iguais, espaço horizontal de participação, partilha e de encontro com Deus. A Bíblia tem sido a base da vivência eclesial das igrejas (Cf. p. 125 dois últimos §).

Outro elemento da presença conjunta de evangélicos e católicos encontra-se no espaço da pastoral popular.

A participação de pastoras evangélicas nos espaços católicos, ou em esforços comuns, tem possibilitado, nos planos simbólicos e de argumentação que leigas e religiosas se sintam reforçadas em suas lutas por mais espaços de vida eclesial, inclusive pelos ministérios ordenados.

O ecumenismo gera uma mentalidade ecumênica na dimensão do Reino de Deus. É preciso abrir caminhos, dar sinais proféticos de unidade.

Para a pastoral popular e para a produção teológica latino-americana, criar uma cultura e mentalidade ecumênica é algo que se impõe. A realidade é fragmentada e plural. As atividades comuns que venham integrar as igrejas acabam tornando-se tensa por razões históricas, vocacional. (Cf. p. 129 1º §)

Os esforços para a disseminação do ecumenismo nas igrejas devem ser amplos, sem rigidez sectária, e realizados em clima de entusiasmo missionário.

O ecumenismo é um dom de Deus, sinalização da graça divina redentora. É, acima de tudo, um chamado, requer a conversão dos “corações e mentes”, revela a gratuidade de Deus entre os homens e mulheres.

IV. DIALOGO ENTRE AS RELIGIÕES E IGREJAS EM FAVOR DA VIDA E DA JUSTIÇA (Faustino Teixeira – Teólogo)

Conforme Leonardo Boff, as CEBs são portadoras do “sonho de Jesus, da política de Deus no mundo e na história que é o Reino de Deus” (Cf. p. 131 2º§).

Faustino afirma que o pluralismo religioso torna-se um desafio à experiência ecumênica. O número de mulçumanos ultrapassou o número dos católicos: 19,2% e 17,4% respectivamente. Dados de 2006 mostram que a população católica mundial é estimada em torno de 1 bilhão e 131 milhões enquanto que os mulçumanos dados fornecido pelo World Christian Datebase, em 2007, apontam o número aproximado de 1 bilhão e 322 milhões. O hinduísmo com cerca de 900 milhões de adeptos; o budismo com 360 milhões. Na AL e no Brasil em particular, deve-se apontar o fenômeno do crescimento pentecostal. (Cf. p. 133 1º§)

Faustino cita as experiências dos intereclesiais que foram avançando nesta perspectivas de se abrir ao diálogo como o VI Intereclesial de Trindade quando Leonardo Boff falou sobre a gestação de um novo rosto de Deus, com a abertura à religiosidade indígena e africana. Ele afirmava que o rosto de Deus que emergia dos irmãos negros era “luminoso demais para os nossos olhos” e causava temor.

Assim foi acentuando a importância da abertura ao diálogo religioso nos intereclesiais seguintes. No IX evidenciou um tema que vai sendo assumido cada vez mais nas CEBs: a questão da inculturação libertadora, da construção de um projeto ecumênico, aberto às diferenças e ao diálogo num mundo plural.

Nas experiências dos intereclesiais seguintes, a sensibilidade ecumênica e interrelogiosa firmam-se com mais tranquilidade, expressando uma acolhida mais serena entre os participantes.

Ser CEBs no tempo atual – O autor cita Zygmunt Bauman que afirma a comunidade como lugar de segurança no mundo atual. A comunidade expressa lugar confortável e aconchegante. Na comunidade há uma proteção que fora, na rua não existe. Faustino continua dizendo que na comunidade há segurança, confiança, valores escassos no mundo de hoje. “Eu sou feliz é na comunidade...”

O desafio é que as CEBs são chamadas a estarem no mundo de forma a conhecer o que há de “sussurro” do plural (Cf. p. 137 1º§).

A carta que os evangélicos lançaram por ocasião do X Intereclesial afirma que a convivência com as CEBs proporcionou uma compreensão do ecumenismo em três sentidos particulares: o ecumenismo como uma conversão do coração, que se abre para acolher a diferença; o ecumenismo como instauração de novas relações entre as pessoas, como espaço de uma nova convivência e de renovação do coração e da mente e ecumenismo como a ‘coragem de assumir ações em conjunto, em defesa da vida’.

Jesus no seu projeto dialogal não se assumiu como o centro de sua pregação, mas o Reino de Deus. Ele foi teocêntrico e não cristocêntrico e apresenta ao mundo um Deus antropocêntrico: “um Deus propício à humanidade, como criador, e, portanto, intrinsecamente interessado e preocupado com o bem estar de suas criaturas”, (Roger Haight. Jesus, símbolo de Deus. SP: Paulinas, 2003, p. 145).

Jesus se surpreende com a fé dos estrangeiros (Cf. p. 140 1º e 2º§).

V. POVOS CRUCIFICADOS, PROFETAS E MÁRTIRES DA NOVA CRIAÇÃO (Marcelo Barros – Monge Beneditino e assessor das CEBs e da CPT)

João Paulo II, na celebração do Jubileu do ano 2000, ao fazer memória dos mártires do século XX falou do “ecumenismo dos mártires”. Santo Agostinho ensinava: “O que faz o mártir não é a forma de morte. É a causa pela qual ele dá a vida”.

No caso da AL a causa do martírio está ligada a resistência a um modelo autoritário e injusto de mundo e também de Igrejas.

Marcelo Barros afirma que há um clima de torturas e assassinatos no meio indígena e rural. Relatórios da CPT e CIMI relatam o número de mortos. Também as CEBs contam ainda com testemunhas do reino que arriscam a vida para manter a luta pacífica, em defesa de lavradores, de indígenas e da terra.

Lembramos que já em 1986, no 6º Intereclesial as CEBs escreviam em sua mensagem: “Queremos nossos mártires vivos e não mortos”.

Ao lado dessas considerações nos deparamos com certos modelos de Igreja triunfalista e centrada em seu próprio prestigio, não havendo lugar para memória dos mártires.

A igreja que não tivesse liberdade interior e espiritual para enfrentar o poder social e político vigente não saberia o que fazer com seus mártires e não reconheceria como profecia palavras e atitudes que a chamassem a voltar ao seu “primeiro amor”.

O martírio cristão deve ser coerente com uma ação comunitária, integrada e consciente, que recorre a diversas etapas de ação, antes de aceitar arriscar a vida.

As CEBs são portadoras de uma profecia que contesta o modelo de desenvolvimento socioeconômico, predatório, ainda hoje vigente, mesmo usando termos disfarçado e fala de sustentabilidade.

As CEBs sabem que podem aprender muito do diálogo e da inserção com as comunidades indígenas, afrodescendentes e grupos tradicionais que mantém sua sabedoria no trato com a Terra-mãe, a Água e todos os seres vivos.

PARTE III – CLAMOR POR JUSTIÇA PARTILHA E PAZ

I. A URGÊNCIA DA MISSÃO (Sérgio Bradanini – Missionário do Pontifício Instituto Missões Exteriores – P.I.M.E)

Sérgio Bradanini fundamenta seu trabalho no anúncio da “Boa notícia”. Afirma que a fraternidade exprime claramente a essência universal e consiste levar adiante a missão de Jesus Cristo.

A comunidade fraterna exige uma relação de gratuidade, de responsabilidade e de serviço. A fraternidade dos discípulos/as, em sua dimensão mais profunda, torna-se o grau mais alto de liberdade! E é bom saber que Deus, desde sempre, quis a seu serviço pessoas extremamente livres! E é bom saber também que Jesus quer que o núcleo do “novo povo de Deus” seja constituído por uma “comunidade de irmãos” formada desde o início por pessoas livres!

Para ser anunciador/a do Reino precisa estar com Jesus; ser mensageiros/as de Jesus; ter autoridade sobre o mal e a possibilidade de vencê-los. Sobretudo testemunhar o anúncio proferido.

A missão perde a credibilidade se não estiver profundamente ligado ao testemunho vivido (Cf. p. 166 4º§).

Novo paradigma missionário: Do Espírito da missão se passa à missão do Espírito. Se a missão consiste determinar onde o Espírito está agindo, o discernimento se torna a primeira tarefa da missão.

Os desafios dos tempos atuais: Globalização e o individualismo, o pluralismo cultural e religioso e a imposição do pensamento único; o pentecostalismo e a teologia da prosperidade; a banalização da religião (cf. V Conferência, Documento de participação nº 94-158, entre outros documentos citados na p. 169).

II. EVANGELIZAÇÃO E SANTAS MISSÕES POPULARES (Pe. Luis Mosconi – Santas Missões Populares – SMP)

A base do texto do Pe. Luis é o DA. Ele inicia dizendo que a V Conf de Aparecida trouxe boas notícias para as CEBs: “As

  • As CEBs tem sido escolas que tem ajudado a formar cristãos comprometidos com a fé, discípulos e missionários do Senhor” (DA 178).
  • “As CEBs são expressão visível da opção preferencial pelos pobres. São fontes e sementes de variados serviços e ministérios a favor da vida na sociedade e na Igreja” (DA 179).

Aparecida exige que as CEBs continuem vivas e fortes: “A paróquia deve chegar a ser comunidades de comunidade” (DA 309)

Afirma que a missão é testemunhar a Boa notícia de Jesus

Assumir a missão do jeito de Jesus de Nazaré há uma exigência fundamental: vivê-la a partir do lugar, dos pobres, dos pequenos, da vítima de todo o tipo de exploração, e contra sistemas perversos e mentirosos; sem desconhecer, ao mesmo tempo, que o mal existe em todo lugar, também no meio dos pobres. Todos somos chamados a um processo de conversão permanente, cada um partindo de sua situação concreta.

As Santas Missões Populares (SMP) são instrumentos que age nessa perspectiva de libertação. Na busca de solução para motivar mais as CEBs que estavam se esfriando é que surgiu a idéia de organizar e realizar Santas Missões nas comunidades. Assim, a “Santa Missão Popular é uma flor perfumada que nasceu no jardim das CEBs”, canto de Pureza, um dos “parteiros” das SMP e grande animador de comunidades.

O rumo da SMP é: a) tornar as pessoas cada vez mais discípulas e missionárias de Jesus Cristo e do Reino de Deus; b) fazer crescer em quantidade e qualidade a caminhada das comunidades eclesiais, acolhedoras, fraternas, participativas, proféticas e missionária; c) trabalhar em mutirão com todas as forças vivas da sociedade, para construir vida e cidadania para todos, e para cuidar da natureza como casa de todos.

“Onde há povo, há missão; onde há missão, há razão de ser feliz” (Dom Luciano de Almeida)

III. CEBS E EVANGELIZAÇÃO LIBERTADORA (Antonio Cechin – Irmão Marista, Teólogo catequista)

A catequese libertadora nasceu e robusteceu aqui no Brasil. Em 1968, num Encontro Nacional no Rio de Janeiro teve sua fundamentação teológica bem consolidada.

Cechin cita D. Helder Câmara, fundador da CNBB por sugestão do Papa João XXIII, no ano de 1952. Ele foi cognominado de o bispo dos pobres; foi ainda protagonista por excelência da opção pelos pobres. Reconheceu o grande talento trazido por Paulo Freire, na metodologia do oprimido e da alfabetização de adultos. D. Hélder sugere a Paulo Freire que fosse além da alfabetização conscientizadora, seja dada uma verdadeira educação de base, ampliando ciclo da cultura, com noções de saúde e higiene, reconhecimentos dos direitos fundamentais etc.

Houve então uma simbiose entre alfabetização e evangelização. Assim, a caminhada da Igreja do Brasil rumo à catequese libertadora teve como passos importantes: o método ver-julgar-agir; a opção pelos pobres; o método Paulo Freire; as CEBs.

A CNBB, mais tarde, fez um apelo a todos os catequistas do Brasil para que empenhassem com sugestões para a elaboração de um documento com as diretrizes básicas para a catequese. Depois de vários anos de trabalhos foi lançado o documento “Catequese Renovada – Orientação e Conteúdo” aprovado pelo episcopado brasileiro, na 21ª Assembléia Geral da CNBB, em Itaici (1983).

Novo conceito de Evangelização (Catequese): A evangelização (Catequese) é a ação pela qual a comunidade, se conscientiza, se politiza, à luz do Evangelho, do processo total da caminhada da humanidade, processo do qual Deus chama a comprometer-se.

A Catequese libertadora se dá no envolvimento dos membros da comunidade. Ela evangeliza a si própria. Em outras palavras, ela é o lugar da própria evangelização.

As CEBs constituída de mulheres e homens de todas as idades o que representa a caminhada da comunidade, a história da comunidade é iluminada pela fé comum, sob a luz do Espírito Santo. A comunidade se torna catequista facilitando a catequese especial em preparação aos sacramentos.

IV. CINCO PASSOS DA MISSIONARIEDADE: ANIMAR A CAMINHADA PARA FORTALECER O PROJETO (Paulo Suess – Teólogo e professor do ITESP)

Do território missionário à natureza missionária da “Igreja Povo de Deus” (Ad gentes 2 e 6). Jesus é o primeiro missionário enviado por Deus Pai/Mãe ao mundo (Jo 5, 36s). a partir dessa natureza missionária, a Igreja Povo de Deus procurou reconstruir a sua identidade, seus serviços pastorais e sua teologia.

Da missão ad gentes à missão inter gentes – A “missão ad gentes”, no seu sentido tradicional, hoje é “missão inter gentes”, missão entre povos e continentes, entre igrejas locais e comunidades. O paradigma da “missão ad gentes” surgiu no contexto do pluralismo religioso da Ásia, onde vive mais de 60% da humanidade. É um contexto de diálogo entre as religiões, as culturas e os pobres.

Na AL e no Caribe quanto à missão “ad gentes” (Cf. p. 195 5º§)

Da criação a partir do nada à continuidade com rupturas: na caminhada fizemos experiências transcendentes e históricas, experiências de Deus e de fé. Onde a Igreja com suas missionárias e missionários chega, Deus já está presente.

Do eclesiocentrismo à centralidade do Reino: A Igreja por ser essencialmente missionária, não vive para si. Ela não está nem se coloca no centro. Ela vive a serviço do Reino. Esse Reino é central para todas as suas atividades e reflexões. A meta da Igreja é o RD (cf. LG 9). Ela é serva e testemunha do Reino. No Espírito Santo, é enviada para articular universalmente os povos numa grande “rede”. Sob a senha do Reina ela propõe um mundo sem periferia e sem centro (Cf. p. 199 1º§).

Da supervisão à inculturação – A eficácia missionária não está nos instrumentos utilizados nem na liderança em “nossas obras”, mas na consciência entre a mensagem do Reino e sua contextualização, também através do nosso estilo de vida (Cf. p. 200 2º§).

V. CEBS E EXPERIÊNCIAS ECOLÓGICAS ALTERNATIVPAS (Pe. Luisppi - Padre Diocesano e coordena o Secretariado Nacional do XII Intereclesial; Dom Sérgio Castriani – Bispo de Tefé/AM e Maria Eva Canoé – professora, indígena do povo Canoé )

A primeira experiência fala do projeto de manejo florestal comunitário (m.f.c) implantado em Cachoeirinha, em 1998, com a colaboração do Governo Federal, Governo do Estado do Acre, da Igreja Católica, entre outros. Uma bela experiência de desenvolvimento sem agressão ecológica.

A segunda experiência, o Bispo de Tefé fala de um trabalho em defesa dos lagos. Ele afirma que a Igreja Católica propôs a formação de comunidades que fossem eclesiais, isto é, que vivessem em comunhão com a Igreja, e de base, radicadas na vida e nas necessidades das populações ribeirinhas, centradas na Palavra de Deus e transformadora da sociedade na qual estavam inseridas. Esta proposta foi elaborada pela Igreja da Amazônia em 1972, no encontro dos bispos em Santarém.

A terceira experiência, Maria Eva fala da conquista de espaço administrativo por indígenas, que até então era administrado por Guajará-Mirim/RO. Assim explica: “Durante 30 anos, de 1965 a 1994, a administração da aldeia foi da responsabilidade da Prelazia de Guajará-Mirim, que a partir da década de 1970 vinha preparando algumas lideranças e, a partir de 1995, passou a ser assumida por nós, indígenas.

A aldeia conseguiu uma cooperativa de um depósito de alimentos evitando ter que comparar a altos preços dos comerciantes ambulantes (Cf. p. 210 1º§).

Resumo do texto-base do XII Intereclesial das CEBs – Porto Velho/RO


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