Apresentação
“É para liberdade que Cristo nos libertou” (Gl 5,1)
A liberdade nos foi doada na cruz de Cristo. Ele nos
libertou e, por isso, concedeu-nos participar da plenitude de sua vida. Na
morte, deu-nos a vida; no sofrimento, conquistou para nós a plena liberdade
dos filhos e filhas de Deus.
O tempo quaresmal, por ser tempo de conversão,
possibilita o caminho da verdadeira liberdade. Os exercícios quaresmais do
jejum, da oração e da esmola nos abrem silenciosamente para o encontro com
Aquele que é a plenitude da vida, com Aquele que é a luz e a vida de toda
pessoa que vem a este mundo (cf. Jo 1,10). Jejum, muito mais do que uma
privação, é esvaziamento, uma expropriação; tentativa de deixar-nos atingir
pela graça da liberdade com que Cristo nos presenteou. O jejum abre o nosso ser
para a receptividade da vida nova, da liberdade. A oração é a exposição de quem
espera ser atingido pela misericórdia d'Aquele que nos amou primeiro e até o
fim (cf. Jo 4,10). A esmola é o amor partilhado; é deixar-se tomar pela
dinâmica da caridade; é sair de si mesmo; é deixar-se tocar pela presença do
outro, especialmente do mais necessitado.
No caminho de conversão quaresmal, a Conferência Nacional
dos Bispos do Brasil (CNBB) nos apresenta a Campanha da Fraternidade como
itinerário de libertação pessoal, comunitária e social. Tráfico Humano e
Fraternidade é o tema da Campanha para a quaresma em 2014. O lema é inspirado
na carta aos Gálatas: "É para a liberdade que Cristo nos libertou" ( 5,1).
O tráfico humano é o cerceamento da liberdade e o
desprezo da dignidade dos filhos e filhas de Deus. Jesus recorda que o
conhecimento da verdade liberta: "conhecereis a verdade, e a verdade vos
tornará livres" 00 8,32). A verdade liberta, pois traz à luz o sentido da
grandeza, da beleza, da dignidade da pessoa humana. Ser filho, filha de Deus é
a verdade que liberta, torna livres, deixa viver na liberdade! A liberdade
deixa entrever a dignidade única e transparente da pessoa humana. Todos os
laços, amarras que impedem a liberdade desfiguram o homem e a mulher criados à
"imagem e semelhança de Deus" (cf. Gn 1,26). O tráfico humano é um
dos modos atuais da escravidão.
O tráfico
humano de hoje é, certamente, fruto da cultura m que vivemos. A Campanha da
Fraternidade, ao trazer à luz este verdadeiro
drama humano, deseja despertar a sensibilidade de todas as pessoas de boa
vontade. "A cultura do bem-estar, que nos leva a pensar em nós mesmos,
torna-nos insensíveis aos gritos dos outros; faz-nos viver como se fôssemos
bolhas de sabão: são bonitas, mas não são nada, são pura ilusão do fútil, do
provisório. Esta cultura do bem-estar leva à indiferença a respeito dos
outros; antes, leva à globalização da indiferença. Neste mundo da globalização,
caímos na globalização da indiferença. Habituamo-nos ao sofrimento do outro;
não nos diz respeito, não nos interessa, não é responsabilidade nossa!"
(Papa Francisco, Lampedusa, Itália, 8 de julho de 2013)
O tráfico humano viola a grandeza de filhos, destrói a
imagem de Deus, cerceia a liberdade daqueles que foram resgatados por Cristo.
As comunidades, as famílias, as pessoas certamente buscarão superar a globalização
da indiferença em relação ao tráfico humano.
Provavelmente, diante do desespero das pessoas
traficadas, despertaremos para o "padecer com". E, assim, não
seremos tomados pela globalização da indiferença que nos tirou a capacidade de
chorar (cf. Papa Francisco, Lampedusa, Itália, 8 de julho de 2013).
"Peçamos ao Senhor a graça de chorar pela nossa
indiferença, de chorar pela crueldade que há no mundo, em nós, incluindo
aqueles que, no anonimato, tomam decisões socioeconômicas que abrem a estrada a
dramas como este" (Papa Francisco, Lampedusa, Itália, 8 de julho de 2013).
Maria das Dores nos acompanhe no caminho de conversão!
Jesus Cristo crucificado-ressuscitado, que nos libertou do pecado e da morte,
anime nossos passos na participação em sua morte e ressurreição.
A
todos, irmãos e irmãs, famílias e Comunidades, uma abençoada Páscoa!
Brasília, 6 de agosto de 2013. Festa
da Transfiguração do Senhor.
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Leonardo Ulrich Steiner Bispo
Auxiliar de Brasília Secretário Geral da CNBB
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