Esse neologismo foi recolhido pelo autor deste artigo durante um Sínodo Mundial de Bispos, realizado no Vaticano, nos anos 80, para rememorar o Concílio Vaticano II (1962/1965) e suas revolucionárias decisões. Na ocasião, houve protestos de feministas contra uma administração difusa e confusa, integrada por homens idosos e que, em sua maioria, burocratizam as decisões.
A maior e a mais evidente dificuldade do papa Francisco, em seu incipiente pontificado, será a de tornar hegemônico o seu poder sobre a Cúria Romana. Em termos políticos, esse governo dentro do governo da Igreja Católica Romana constitui uma ‘gerontomachoburocracia’, ou seja, uma administração difusa e confusa, integrada por pessoas idosas, do sexo masculino e que, em sua maioria, tendem a transformar numa instância burocrática a tomada de decisões e sua execução.
Esse neologismo foi recolhido pelo autor deste artigo ao fazer a cobertura jornalística de um Sínodo Mundial de Bispos, realizado no Vaticano, nos anos 80, para rememorar o Concílio Vaticano II (1962/1965) e suas revolucionárias decisões.
De um momento para outro, naquela ocasião, o Altar da Confissão, na basílica de São Pedro, foi ocupado por feministas norte-americanas que imitavam a celebração de uma missa. Paralelamente, algumas militantes distribuíam um panfleto em que apontavam o Estado do Vaticano, e a Cúria Romana, em particular, como redutos ‘gerontomachoburocráticos’.
O próprio Sínodo, em sua composição, parecia dar razão às feministas, em alguns aspectos: entre os 400 participantes da assembleia sinodal, havia apenas quatro mulheres, entre elas a madre Teresa de Calcutá. Fomos tentar entrevistá-la na porta de saída sobre as suas impressões a respeito dos debates: “O Papa já falou tudo”, respondeu madre Teresa, a religiosa que doou a sua vida aos mais miseráveis entre os mais excluídos.
Parafraseando madre Teresa, seria o caso de perguntar: e o papa Francisco, já falou tudo?
É claro que não. Afora os belos e oportunos gestos de simplicidade e afora os seus sermões em que prega a mensagem de Jesus Cristo misericordioso, o Papa ainda não enfrentou as manobras dos lobbies que manejam a Cúria como se fosse uma propriedade particular, de cunho mafioso.
Em termos de política externa, ainda não se confrontou, por exemplo, com a questão das Ilhas Malvinas, sobre as quais o governo do seu país legitimamente reivindica soberania. O Papa será naturalmente chamado a se pronunciar de forma clara, quando acontecer o momento oportuno.
Mesmo assim, depois de décadas em que as palavras pontifícias praticamente só se escutavam exortações à disciplina, ouvem-se agora pregações em linguagem simples. Elas são acompanhadas por gestos modestos e motivadores do diálogo. Gestos que incluem um ‘bom dia’, ‘um ótimo almoço’ e a dispensa da pompa e da circunstância.
A própria nota em que negou cumplicidade com a ditadura argentina teve um toque diferente. Refere-se às denúncias com o uso do seu nome de batismo e não com o nome de pontífice. Confirma ter sido ouvido pela justiça, como testemunha, no caso da Esma (Escola Mecânica da Armada) e de seu então amigo, o almirante Emilio Massera.
Aponta, sem citar, o jornal ‘Página 12’, de Buenos Aires, como um veículo transmissor de uma campanha ‘anticlerical’. Ao fazer essa denúncia, desperta o corporativismo do clero, como despertaria se se tratasse de pastores, de rabinos ou de militares.
Mesmo assim, não faz uma defesa belicosa. Abre-se para o diálogo. É justamente nessa direção que vários teólogos da libertação, latino-americanos e europeus, propõem que o novo pontificado caminhe, como disseram em programa da tevê GloboNews os teólogos Leonardo Boff e José Eduardo de Oliveira e Silva, da diocese de Osasco/SP, e o jornalista espanhol Juan Árias.
Esse diálogo tem necessariamente como referência fundamental o Concílio Vaticano II e abrange tanto o plano interno quanto o plano externo da Igreja Romana.
Dermi Azevedo
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