Christopher J. Katulka
Naim Ateek acredita que não se pode tomar a Bíblia literalmente. Ele
tem um problema especial com a Torá (o Pentateuco), que considera um “texto
sionista”, e com os livros de Josué, Juízes, 1 e 2 Samuel, e 1 e 2 Reis -- os
quais confirmam que Deus deu a terra de Israel ao povo judeu. Ele fala de paz e
de não-violência, mas não pede desculpas pelo terrorismo palestino.
De fato, muito da sua retórica com relação a Israel é indistinguível
daquela de um palestino muçulmano. Mas Naim Ateek não é muçulmano. Na verdade,
ele é um cristão palestino altamente respeitado, educado nos EUA, e ordenado
sacerdote episcopal. Com a idade de 75 anos, ele é presidente e diretor do
Centro Ecumênico de Teologia da Libertação em Jerusalém, também denominado
Sabeel Center (em árabe, “o caminho”), o qual ele ajudou a fundar nos anos
1990.
Naim Ateek, líder cristão palestino que defende uma Teologia da Libertação Palestina |
Crendo que seu povo não pode aceitar a “perigosa teologia” dos
cristãos sionistas,[1] o Dr. Ateek ajudou a desenvolver a Teologia da Libertação
Palestina (TLP), a qual ele e o Sabeel Center dizem proporcionar uma maneira
relevante de interpretar as Escrituras para os crentes árabes, que precisam de
uma dose saudável de encorajamento por morarem em Israel. Hoje, a TLP é a
principal doutrina dos cristãos palestinos, enraizando-os e fundamentando-os em
uma forma de Teologia da Substituição altamente politizada.
Ativismo Político
A Teologia da Libertação em si não tem nada de novo. Nos anos 1960
ela veio à tona na América Latina, promovida pela Igreja Católica Romana para
incentivar os assolados pela pobreza a reagirem contra o plano de
desenvolvimento econômico do presidente John F. Kennedy para a América Latina, o
qual, conforme acreditava a igreja, iria causar maior injustiça.[2]
Os proponentes da Teologia da Libertação incentivavam o ativismo
político contra aqueles que buscavam preservar o sistema de classes. Os líderes
do movimento na América Latina manipulavam a mensagem do Evangelho para
significar libertação da injustiça política, social e econômica. Como resultado,
a teologia se espalhou por todas as denominações cristãs tradicionais e tem sido
tipicamente rotulada de uma forma cristã de marxismo.[3]
A Teologia da Libertação inspirou a formação de movimentos sociais e
políticos. Nos últimos 20 anos, ela tem emergido como a principal teologia dos
cristãos palestinos em Israel porque enfoca a libertação dos desamparados e dos
oprimidos.[4]
A questão mais importante contra a qual os cristãos palestinos lutam
é a interpretação literal da Bíblia. Antes da criação do Estado de Israel, em
1948, a maioria considerava o Antigo Testamento crucial para as Escrituras. Ele
permanecia como uma testemunha e um guia da vinda de Jesus Cristo. Contudo,
depois de 1948, os cristãos árabes abandonaram a leitura e pregação do Antigo
Testamento porque ele é “sionista” demais para o gosto deles. Em vez de
reconhecerem a fidelidade de Deus ao verem as promessas da Aliança Abraâmica
serem cumpridas diante dos seus olhos, muitos acharam o Antigo Testamento
repugnante e ofensivo.
O Dr. Ateek e o Sabeel Center têm usado a dispensa do Antigo
Testamento como uma oportunidade de propagar a TLP, que deseja “dessionistizar”
a Bíblia a fim de promover um programa anti-Israel.[5] De fato, a definição que
o Sabeel dá à TLP se refere a Jesus como tendo vivido “sob a ocupação” e tenta
juntar pessoas para “se posicionarem em solidariedade com o povo
palestino”:
A Teologia da Libertação Palestina é um movimento ecumênico de
pessoas comuns da sociedade, enraizado na interpretação bíblica cristã e nutrida
pelas esperanças, sonhos e lutas do povo palestino. (...) Em uma situação em que
a justiça tem sido há muito tempo negligenciada, a Teologia da Libertação
Palestina abre novos horizontes de entendimento para a busca de uma paz justa e
para a reconciliação proclamada no Evangelho de Jesus Cristo. Ao aprender de
Jesus -- sua vida sob a ocupação e sua resposta à injustiça -- esta teologia
espera conectar o verdadeiro significado da fé cristã com a vida diária de todos
aqueles que sofrem debaixo de ocupação, violência, discriminação e violação dos
direitos humanos. Além disso, este esforço teológico que está desabrochando
promove uma conscientização internacional mais acurada sobre a atual situação
política e encoraja os cristãos de todo o mundo a trabalharem pela justiça e a
permanecerem firmes em solidariedade com o povo palestino.[6]
Acabe e Nabote
O fundamento bíblico usado para a TLP é o relato sobre o rei Acabe e
Nabote, que está em 1 Reis 21. Geralmente, a Teologia da Libertação usa o êxodo
dos israelitas do Egito para estabelecer sua mensagem de liberdade da opressão
política. Mas, para os palestinos, o Êxodo é demasiadamente pró-Israel.
Portanto, o Dr. Ateek ensina como Acabe, rei de Israel, e sua malvada esposa,
Jezabel, assassinaram Nabote por causa da terra que este possuía e como o Senhor
enviou-lhes o profeta Elias para pronunciar o julgamento sobre eles. A morte
deles finalmente proporcionou a justiça divina que Nabote merecia.
A interpretação que o Dr. Ateek faz de 1 Reis 21 retrata o rei Acabe
como sendo o moderno Estado de Israel, roubando a terra dos palestinos, que são
protagonizados como o determinado Nabote. Ele prega que está chegando o dia em
que Deus julgará Israel pelo que Ateek diz ser o abuso contra os árabes, e a
justiça divina prevalecerá para aqueles que sofreram nas mãos dos israelenses
sionistas.
Para o Dr. Ateek, Nabote é a história de todos os cristãos
palestinos. Ele disse: “A morte e o despojamento de Nabote e sua família de suas
terras têm sido realizados novamente milhares de vezes desde a criação do Estado
de Israel”.[7] Ateek tinha onze anos quando sua família perdeu sua casa em
Beth-Shean na Guerra da Independência em 1948. Hoje, ele diz que os cristãos já
não precisam mais reconhecer as profecias do Antigo Testamento relativas ao
retorno do povo judeu à terra porque, na sua visão, elas revelam um entendimento
sobre Deus que contradiz a mensagem de Jesus no Novo Testamento.[8] Ele afirma,
usando uma nova e relevante interpretação das Escrituras, que: “a Bíblia pode
ser reivindicada pelos cristãos palestinos”.[9]
Um Muro de Separação
À medida que a TLP avançava para se tornar a principal teologia dos
cristãos palestinos, ela construiu um muro de separação entre os crentes -- algo
que Jesus morreu para remover (Ef 2). Com isso, é crescente a tensão entre as
igrejas israelenses e palestinas.
Meno Kalisher, pastor da Assembléia de Jerusalém, disse em recente
entrevista: “Sempre que nosso grupo de jovens promove atividades de comunhão com
outras igrejas que incluem os cristãos palestinos, eles imediatamente ouvem como
Israel é o problema e o opressor do povo palestino. Como resultado disto, nossos
jovens perderam o desejo de terem comunhão com os cristãos palestinos, o que é
tremendamente triste”.
Infelizmente, embora o Dr. Ateek e o Sabeel Center afirmem se basear
em princípios cristãos, a retórica deles não é nada diferente daquela dos
palestinos muçulmanos, que incitam a violência contra Israel. Na verdade, em sua
busca pela paz, Ateek não pede desculpas pelo terrorismo palestino, tampouco
responsabiliza os palestinos muçulmanos pelos maus tratos aos cristãos
palestinos.[10] Ironicamente, os árabes muçulmanos consideram os árabes cristãos
fracos e medíocres.
Embora o Dr. Ateek e o Sabeel Center afirmem que a TLP oferece aos
cristãos palestinos uma maneira nova de ler as Escrituras, a verdade é que não
há nada de novo sobre ela; TLP é Teologia da Substituição. Shelley
Neese, vice-presidente de The Jerusalem Connection Report,
escreveu:
A Teologia da Substituição ensina que a Igreja substituiu os judeus
como beneficiária das alianças de Deus. A TLP vai um passo adiante, dizendo que,
para começar, os judeus jamais ocuparam um lugar de favor especial. Em alguns
casos, ela apaga Israel completamente da Bíblia. Muitas igrejas palestinas que
ensinam a TLP mudaram os Salmos, removendo todas as referências a “Israel” ou a
“Sião”.[11]
A TLP desdenha ostensivamente as promessas eternas de Deus ao povo
judeu ao manipular as Escrituras para se encaixarem em suas necessidades. Neese
afirmou:
[A TLP] é um instrumento perigoso de propaganda política, astutamente
empregado pelo Sabeel para minar o direito que Israel tem à terra. Enquanto
isso, essa teologia anti-semita, dirigida politicamente, e vazia do Evangelho,
se esconde atrás de uma fachada de paz, justiça e amor.[12]
No final, diz Meno Kalisher, quem sairá perdendo serão os próprios
cristãos palestinos. “Devido à sua teologia, eles consideram Israel um inimigo e
perdem as bênçãos que Deus poderia lhes proporcionar”. (Israel My Glory — www.foi.org — www.Beth-Shalom.com.br)
Christopher J. Katulka é representante de The Friends of Israel em
Dallas, Texas (EUA).
Notas:
1. Naim Stifan
Ateek, Justice and Only Justice: A Palestinian Theology of Liberation [Justiça e
Somente Justiça: Uma Teologia da Libertação Palestina] (Maryknoll, NY: Orbis,
1989), 64-65.
2. Ian Linden,
Liberation Theology: Coming of Age? [Teologia da Libertação: Atingindo a
Maioridade?] (London: Catholic Institute for
International Relations, 1997), 3.
3. Phillip Berryman, Liberation
Theology [Teologia da Libertação] (Philadelphia, PA: Temple University Press,
1987), 138-39.
4. Shelley Neese,
“Palestinian Liberation Theology” [A Teologia da Libertação Palestina], The
Jerusalem Connection, www.thejerusalemconnection.us/ news-archive/2007/03/27/ palestinian- liberationtheology.html? pfstyle=wp.
5.
Ibid.
6.“Palestinian
Liberation Theology” [A Teologia da Libertação Palestina] Sabeel Center, www.sabeel.org/ourstory.php.
7. Ateek, 87.
8. Ibid., 82.
9. Ibid., 86.
10. Neese.
11. Ibid.
12.
Ibid.
Publicado na revista Notícias de Israel — www.Beth-Shalom.com.br
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