terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

A 'nova' igreja de Dom Sérgio Castriani

 

Arcebispo revela que está estudando Manaus e diz que ação pastoral será para ver a 'cidade invisível' e ouvir as pessoas

Dom Sérgio é o sexto arcebispo metropolitano de Manaus desde 1952. Ele assume, no lugar de dom Luiz Soares Vieira, após 12 anos na arquidiocese de Tefé (Euzivaldo Queiroz)

Quando recebeu a notícia da nomeação para ser o novo Arcebispo Metropolitano de Manaus, dom Sérgio Eduardo Castriani, 59, estava numa missão de 30 dias na comunidade Gumo do Facão, na Reserva Extrativista do Médio Juruá (a 737 quilômetros de Manaus). Ao aceitar a tarefa, ele reconheceu o desafio que será não só assumir uma arquidiocese com todos os problemas urbanos comuns, mas também de lidar com o que chama de cidades invisíveis aos olhos da sociedade.
 
“Precisamos derrubar barreiras e abrir os olhos para as cidades existentes por trás dos muros das penitenciárias, hospitais, universidades e escolas e ouvir, escutar histórias”, afirmou o novo arcebispo. Membro da Congregação do Espírito Santo, cuja característica é a atividade missionária, dom Sérgio entrou para a igreja pensando em trabalhar na África, mas foi designado para o Município do Juruá, no qual chegou em 1979. Ele lembra ter sido o mesmo ano da nomeação de ex-presidente general João Batista de Figueiredo, quando aconteceram alguns projetos para a Amazônia, como o programa de revitalização dos seringais. “Foi o momento de Chico Mendes, da criação das reservas extrativistas, das Comunidades Eclesiais de Base, do ressurgimento de povos indígenas e de populações fadadas ao desaparecimento”, explicou, citando a vinda de populações inteiras para Manaus.
 
Ao estabelecer como primeiro desafio a adaptação à vida urbana, dom Sérgio promete estudar a história da cidade e conhecer as pessoas. Elas são fundamentais nessa caminhada. “Preciso ouvir as histórias, sobretudo de quem está marginalizado”, explicou o novo pastor de mais de 960 mil católicos de Manaus.
 
Temas polêmicos
Sobre os temas relacionados à igreja debatidos na atualidade, como a renúncia do Papa Bento XVI, ele foi enfático. “Não precisamos fazer elucubrações. Ele foi moderno ao dizer que não tem mais saúde física para dar conta da jornada que envolve celebrações, audiências públicas semanais e toda uma relação diplomática”, assegurou ele, que aposta na nomeação de um papa mais jovem.
Sobre Bento XVI, dom Sérgio destaca a criação de uma congregação para nova evangelização, porque a sociedade atual vive como se Deus não existisse, mesmo acreditando nele. Hoje, vai-se às igrejas em busca de saúde e riqueza, mas isso não tem nada a ver com a Palavra de Deus. “É legítimo, mas numa sociedade secularizada como no Brasil, vê-se muita expressão religiosa, sem qualquer importância na vida das pessoas”, lamentou ele, para quem a Igreja Católica não deve mudar apenas para arrebanhar multidões. “A igreja tem ser mais acolhedora, mas não pode agir como a torcida do Flamengo”, comparou.
Sobre os escândalos que volta e meia envolvem a Igreja Católica, dom Sérgio diz que a instituição tem sua santidade e seu pecado por ser gerida pelas ações humanas. “A igreja não é um museu de santos, mas o importante é que há nela um grupo de pessoas que têm primado pelo bom testemunho”, concluiu.
 
Auxiliares festejam o pastor
Uma igreja animada e disposta a dar muitos frutos é o legado deixado por dom Luiz Soares Viera a dom Sérgio Castriani na Arquidiocese de Manaus, na opinião do bispo auxiliar dom Dom Mário Antônio da Silva. “Temos uma boa base de leigos e leigas e uma caminhada pastoral muito forte e densa”, explicou o bispo, que considera a vinda de dom Sérgio um incentivo à maior participação dos católicos.
 
Para o outro bispo auxiliar, dom Mário Pasqualotto, é um bom momento para renovação diante da necessidade e importância da ação de pessoas mais novas para estar mais perto das novas gerações. “Nós, já com certa idade, fazemos um esforço para nos adaptarmos, mas às vezes isso não é possível”, afirmou ele, que vai se aposentar em junho deste ano, pois em maio completará 75 anos.
Com a aposentadoria de dom Mário, o novo papa, a ser eleito em março, será o responsável por receber a carta renúncia dele e fazer a indicação de um novo auxiliar para dom Sérgio.

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