Uma das teorias escatológicas mais aterradoras – talvez por já estarmos no meio do processo – é a do superaquecimento da Terra. O vilão, neste caso atende pelo nome de efeito estufa. A atmosfera, a camada de ar que envolve a Terra, funciona como um cobertor que retém o calor do Sol e mantém o planeta aquecido. Sem ela, aqui seria um lugar muito frio. Mas, com a emissão de cada vez maiores quantidades de dióxido de carbono e a destruição das florestas, a temperatura média na Terra está aumentando consideravelmente.
Até aí, nada muito alarmante. O problema é que, com o calor, as calotas polares podem derreter e emitir mais gás carbônico. Como? Liberando-o de dentro de bolhas que estão congeladas nas geleiras. Com isso, o calor aumentaria ainda mais. O superaquecimento também liberaria bilhões de toneladas de outro gás responsável pelo efeito estufa, o metano, existente em determinadas rochas. Percebeu o efeito dominó? Quanto mais gases tóxicos na atmosfera, mais o planeta esquenta.
O resultado seria catastrófico: cidades inteiras seriam inundadas, países sumiriam do mapa, tornados e furacões violentíssimos devastariam o que encontrassem pela frente. As plantações secariam e haveria fome. A economia entraria em colapso. Guerras poderiam eclodir nesse cenário caótico de pouca comida. E, quanto mais seco o planeta, mais quente ele ficaria. Até que a superfície da Terra ficasse parecida com a de Vênus – onde a vida, exceto talvez algumas bactérias, é incapaz de vingar. As simulações climáticas feitas em computador por cientistas do apocalipse são quase unânimes: o nosso tempo estará esgotado lá pelo ano 2050.
QUE FRIA!
Mas corremos o risco de tudo acontecer exatamente ao contrário e
entrarmos literalmente numa fria. Isso porque o período de temperaturas
amenas em que vivemos é uma exceção. Explica-se: a Terra é um planeta
gelado que, de tempos em tempos, fica um pouco mais quente. Os períodos
gelados, ou glaciações, normalmente duram 100 000 anos e ocorrem em
ciclos. Entre um ciclo e outro, há os períodos interglaciais, que
costumam durar cerca de 10 000 anos. É num destes intervalos que estamos
atualmente – mas o nosso já dura 12 000 anos. Quer dizer: a qualquer
momento, podemos virar picolés.O mais tenebroso é que as eras glaciais chegam sem aviso prévio. Em determinadas regiões, a temperatura pode cair cerca de 15 graus Celsius. Em outras, pode despencar 40 graus. Nenhuma mudança climática dessa magnitude ocorre impunemente: ela viria acompanhada de tempestades fortíssimas; muitas vezes, de neve. Essa neve se acumularia de tal forma que se transformaria em geleiras. Rios e mares ficariam congelados e muitos animais morreriam. E o que dizer da produção de alimentos? Claro que seria completamente paralisada. Quem não morresse congelado, portanto, morreria de fome. Qual das opções você iria preferir?
É BOMBA!
Outro perigo iminente que enfrentamos é o de uma guerra nuclear.
Entre todas as ameaças descritas nesta reportagem, a explosão nuclear é a
maior, segundo o astrônomo inglês Martin Rees, da Royal Society e do
King’s College da Universidade de Cambridge. Apesar de dizer que a
guerra não exterminaria a vida
no planeta, Rees acredita que seria um tremendo retrocesso na
civilização humana. “Escapamos de um conflito nuclear durante a Guerra
Fria. Mas, no decorrer deste século, a ordem política pode renovar o
confronto de energias poderosas em que teríamos menos sorte”, disse ele a
SUPER. “O risco de um desastre nuclear ocorrer nos próximos 100 anos é
de 50%.”Em seu livro Our Final Hour (“Nossa Hora Final”, inédito no Brasil), Rees afirma que o colapso da União Soviética, por exemplo, deixou como herança uma quantidade de plutônio e urânio enriquecido suficiente para a produção de 70 000 bombas nucleares. Se dividíssemos o poder de fogo só dos Estados Unidos e da Rússia pela população mundial, daria 33 toneladas de explosivos per capita.
Se, por acaso, você tiver a sorte de sobreviver a uma conflagração nucelar, é melhor correr para algum refúgio bem seguro. Onde possa ficar por, pelo menos, um ano. Isso porque haveria uma chuva de partículas radioativas por alguns dias e noites, sem parar. E, até que o nível de radioatividade baixasse, seria preciso esperar umas quatro estações. Na verdade, com tanta fumaça e fuligem na estratosfera, os raios solares ficariam bloqueados por muito tempo. Sem sol nem calor, viveríamos num inverno nuclear, que exterminaria muitas formas de vida, acabaria com nosso suprimento de comida e promoveria, durante algumas gerações, mutações genéticas imprevisíveis.
Outra grande ameaça à humanidade apontada pelo astrônomo Martin Rees é a tecnologia. “Vai ser muito mais difícil tentar controlá-la, pois as novas tecnologias não vão envolver equipamentos grandes e pesados”, diz o cientista. Ao contrário, o que vem por aí será invisível a olho nu: a nanotecnologia. Os aparelhos desenvolvidos por ela têm dimensões medidas em nanômetros, a milionésima parte de um milímetro. Hoje em dia, já há nanotubos e nanofios. E os nanocientistas prevêem o desenvolvimento de nanocomponentes com capacidade de transformar qualquer matéria bruta em outra substância qualquer. Por exemplo: eles conseguiriam rearranjar átomos simples de carbono de forma que o composto vire diamante.
Por causa do tamanho desses nanocomponentes, é muito difícil para os cientistas manejá-los. Por isso, o caminho mais provável é inventar nanocomponentes capazes de se duplicar. Aí é que mora o perigo: um nanocomponente faria uma cópia de si mesmo, e a cópia faria outra cópia, e assim sucessivamente. Até que tudo o que conhecemos neste mundo – inclusive você e eu – fosse varrido da face da Terra. Todos os nossos átomos virariam nanomáquinas replicantes. “O último século foi marcado por imensas conquistas tecnológicas, e o ritmo de mudança deverá ser ainda maior neste novo século. Por isso, o que hoje nos parece ficção científica pode virar uma ameaça concreta”, afirma o astrônomo Rees.
PRESENTE DO CÉU
Outra ameaça que paira no ar é a possibilidade de um meteoro se
chocar com a Terra. Essa hipótese não era levada muito a sério até 1978,
quando o físico americano Luis Walter Alvarez (Prêmio Nobel da Física
em 1968) e o geólogo Walter Alvarez (seu filho) anunciaram que os
dinossauros não haviam sido extintos por alguma razão evolucionária, e
sim devido ao impacto de um corpo celeste gigante que colidiu com a
Terra. A teoria
permaneceu sob desconfiança até 1991, quando satélites da Nasa, a
agência espacial americana, descobriram uma cratera enorme na Península
de Yucatán, no México. Os cientistas calculam que o meteoro que teria
acabado com os dinossauros produziu um impacto semelhante ao de 5
bilhões (!) de bombas atômicas. Pobres dinossauros, imagine você.E não foi somente o impacto em si que causou estragos. A poeira e os escombros da explosão que subiram para a atmosfera obstruíram os raios solares, provocando uma drástica queda da temperatura, o que teria matado muitos seres.
A história deste planetinha azul está recheada de outros casos de impacto de corpos celestes, alguns mais, outros menos desastrosos. Por isso, cientistas do mundo inteiro mapearam o céu e resolveram permanecer em vigilância constante. A Nasa afirma que pode saber com antecedência quando uma dessas ameaças estiver no nosso caminho. Mas, mesmo que nos avisem na véspera, que diabos poderemos fazer? Além disso, há muita gente que não bota fé na bola de cristal dos cientistas. Um exemplo: em março de 1988, um cometa gigante vinha em nossa direção. Ninguém percebeu até que ele já tivesse passado. E, por pura sorte, se desviado da Terra. O argumento de quem acredita que um meteoro é uma grande ameaça é um só: isso já aconteceu. Portanto, pode se repetir a qualquer momento.
Pensando bem, o mais indicado neste momento é acender uma vela e começar a rezar. Ou melhor ainda: esquecer tudo isso, relaxar e aproveitar bastante o pouco tempo que ainda nos resta.
Claudia de Castro Lima
Superinteressante
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