40 anos depois novamente em Santarém se reúnem os bispos da Amazônia (CNBB Regionais Norte 1,
Norte 2 e Noroeste) , para fazer a memória da caminhada, avaliar os erros e
acertos e traçar novas estratégias de atuação na região.
“O episcopado do Brasil
está esperando muito desse encontro na Amazônia. O documento que será produzido
vai ajudar muito a Igreja do Brasil”. Com essas palavras o Secretário Geral da
CNBB, Dom Leonardo Ulrich, expressou a expectativa quanto esse encontro. Afirmou
ainda que há quarenta anos atrás vivíamos numa ditadura militar e hoje vivemos
numa ditadura econômica.
À semelhança do Encontro de Santarém, de 1972, que foi apoiado e prestigiado com a presença
do então Secretário Geral da CNBB D. Ivo Lorscheiter, novamente a CNBB deposita
grande esperança Nesse momento em que “Cristo aponta para a Amazônia’(Encontro
de Santarém-1972) e nela armou sua tenda(Encontro de Manaus 1997).
Muita água rolou nos
milhares de rios e igarapés da Amazônia, nestes 40 anos. Porém existe muita
semelhança entre os dois períodos, ambos marcados pelo desenvolvimentismo, dos acelerados milagres econômicos. Constatou-se,
que além dos gigantescos impactos destruidores dos grandes projetos, a Amazônia
continua sendo tratada como uma espécie de quintal do grado capital protegido e
estimulado pelo governo. “Não Somos nem colônia nem periferia do Brasil”,
afirmou D. Moacyr Grechi, externando sua indignação por sentir uma política de
neocolonização da Amazônia, agora pelo grande capital, promovida pelo governo.
Chegada escoltada
O pequeno aeroporto de Santarém
estava apinhado de chegantes, no dia 2 de julho à tarde. É que de Belém e de
Manaus chegavam dezenas de participantes para o encontro dos Bispos da Amazônia.
Chamou atenção quando a comitiva de bispos e agentes de pastoral deixaram o
aeroporto, o fato de irmos escoltado por
policiais em viaturas e motos, com a sirene ligada. Não se tratava de privilégio de autoridades,
mas porque na comitiva se encontravam um bispo(Dom Erwin, Ir. Henriqueta... )
que estão sob proteção policial. E assim continua ocorrendo durante todos os
deslocamentos do local da hospedagem, até o Seminário Pio X, onde acontecem as
atividades. Vamos e voltamos escoltados.
Há quarenta anos era um grupo de um pouco mais de vinte
pessoas, hoje os participantes chega a quase uma centena, dentro os quais
aproximadamente quarenta bispos. A Amazônia Legal passou de menos de 10 milhões
para 25 milhões de habitantes. A população que morava majoritariamente no
interior, nas beiras dos rios, é hoje eminentemente
urbana, em torno de 72%. A falta de condições dignas de sobrevivência em meio
às florestas e rios, deixou o caminho aberto ao grande capital nacional e
internacional, para satisfazer sua voracidade. As mineradoras lotaram o subsolo
para a exploração de minérios. As serrarias avançam sobre as florestas com seus
afiados dentes de ferro e potentes máquinas. O boi e a soja avançam sobre a
última fronteira agrícola, como é
considerada a Amazônia para o expansionismo (neocolonialista) do capital, com o
estímulo e proteção do Estado brasileiro.
Santarém a
partir dos povos indígenas
Conforme D. Pedro Casaldáliga, o único dos participantes de
1972, que está entre nós, o Documento de
Santarém foi a primeira carinhosa acolhida do Cimi, que recém tinha sido criado. A
Pastoral Indigenista foi assumida como uma das quatro prioridades. “Apraz-nos
apoiar decididamente esse órgão providencial (o Cimi) que já está trabalhando
eficazmente a serviço do índio e das missões indígenas...A nova perspectiva
surgida com a criação do Cimi, por mais alvissareira que seja não pode
dispensar a nossa co-responsabilidade, pelo contrário, além do nosso trabalho
rotineiro , teremos que colaborar com o mesmo Conselho assumindo uma estreita
comunhão com seus membros...”
Esse assumir da pastoral indigenista-Cimi pelas Prelazias e
Dioceses da Amazônia, representou para os povos da região uma um apoio decisivo
na luta por seus direitos. Graças a esse trabalho articulado e incentivado pelo
Cimi, através da encarnação e solidariedade com os povos originários da região,
vários direitos, especialmente da terra, foram conquistados, consolidando-se um
esperançoso processo de articulação e organização que está permitindo uma significativo avanço
na conquista de seus direitos e sua autonomia.
Porém grandes desafios continuam.
Os mais de 70 grupos que vivem em situação de isolamento voluntário correm
sério risco de serem extintos. Várias comunidades lutam pelo seu reconhecimento
e garantia de suas terras. O atendimento
à saúde pela Secretaria Especial de Saúde Indígena-SESAI está caótico, com
proporções alarmantes como é o caso do Vale do Javari, onde a grande maioria da
população (87%) está afetada pela hepatite, já tendo acarretado várias mortes
nos últimos tempos.
D. Erwin tem insistido que não
seja esquecida a questão indígena no documento que está sendo elaborado e será
assumido pelos Bispos das Prelazias e Dioceses da Amazônia. É uma das dimensões
importantes da presença solidária e transformadora da Igreja na Amazonia.
Egon Heck –www.egonheck.blogspot.com.br
Cimi 40 anos
Santarém, 5 de julho de 2012
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