A História tem seus ciclos e estes tendem a se repetir. Porém, quando
não tratada com seriedade e atenção, quando os fatos evidenciados em
algum período não são devidamente esmiuçados e levados em conta pela
sociedade, eles se repetem mais rapidamente. Com este nariz de cera
assumido, pretendo desaguar nos fatos vindos à tona agora, com a CPMI do
Carlinhos Cachoeira, com relação à revista Veja.
O que a revista Veja fez, nada mais é do que a repetição dos
métodos de atuação do Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (Ipês),
no período compreendido de 1962 a 1964, quando amparado de forma
escancarada pela mídia, atingiu o seu objetivo: o golpe.
Foi desta e de outras formas, tais como as gordas doações para
reforçar os cofres do instituto, que a sociedade civil participou da
derrubada do presidente João Goulart.
Tivesse ele um cenário intrincado para governar, ou limitações para
conduzir o momento político delicado, foi a campanha desenfreada,
custeada por empresários, multinacionais e simpatizantes (incluindo os
donos de veículos de Comunicação), que minaram o seu poder e despertaram
na sociedade a ânsia por mudanças. Fosse da forma que fosse.
E da maneira que foi, um golpe, os destinos do país caminharam
para os rumos sombrios que agora conhecemos e começamos a autopsiar.
Esse é o risco. No calor da hora ninguém vislumbra a tragédia que está a
um palmo do nariz. Importa apenas impor seus interesses e surrupiar o
poder. E poder, hoje, não se limita à cadeira de presidente. Já se sabe.
Pelo muito ou pouco que se ouviu das gravações vazadas, sabe-se que o
poder hoje é o casamento da política com a economia, e de forma
espantosa.
Ao mapear pioneiramente o incrível sistema montado por Golbery do
Couto e Silva no Ipês, que acabaria desembocando na vitória do golpe, o
cientista político René Armand Dreifus, (1964: A Conquista do Estado – Ação Política, Poder e Golpe de Classe – lançado em 1981) nos apontou a fórmula que hoje é usada por Veja. Outros autores trataram do tema, e em meu livro: Propaganda e Cinema a Serviço do Golpe,
lançado em 2001, o assunto voltou a ser enfocado, desta vez aproximando
a lupa na direção desse resultado: a atuação da mídia e do cinema
enquanto armas de convencimento. Para o bem ou para o mal.
Não foi, portanto, falta de aviso, de que o método era eficiente.
Quero crer que houve, sim, um alheamento conveniente, já que “os tempos
eram outros”. Eram, mas o vento sempre pode virar. Com outra roupagem,
agora com o auxílio de tecnologias mais sofisticadas, mas a mesma
intenção: o poder. O que o grupo de Cachoeira não avaliou, no entanto,
foi que a tecnologia pode falhar (vide o Nextel que permitiu o grampo,
quando não era o esperado), ou pode trabalhar, agora, a favor dos
caluniados. Não apenas os “grampos”, que isto é do tempo dos arapongas,
mas a Internet, que está aí para infernizar a vida dos que pensam poder
articular à sorrelfa contra o poder constituído, instituições, pessoas.
Não podem. Em tempos de Carolina Dieckmann e de internautas
politizados, a verdade termina por vir à tona.
Denise Assis
jornalista e colaboradora do Correio do Brasil.
Fonte: Correio do Brasil
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