terça-feira, 22 de maio de 2012

As Comunidades Eclesiais de Base, CEBs, na Diocese de Franca


Por Walter Antônio Marques Lelis (Waltinho) e
Sônia Regina Belato de Freitas Lelis CEB-DES)

            Ficou estabelecido já na 1ª Assembléia Diocesana, realizada nos dias 10, 11 e 12 de abril de 1975, confirmado nas duas seguintes, realizadas em 1980 e 1983, priorizar o surgimento e o desenvolvimento de Comunidades Eclesiais de Base (CEB) na Diocese de Franca, como processo original de evangelização, para tornar concreto o objetivo aprovado por unanimidade na 21ª Assembléia dos Bispos do Brasil, ou seja, evangelizar o povo brasileiro em processo de transformação sócio-econômica e cultural, a partir da verdade sobre Jesus Cristo, a Igreja e o homem, à luz da opção preferencial pelos pobres, pela libertação integral do homem, numa crescente participação e comunhão, visando à construção de uma sociedade justa e fraterna, anunciando assim o reino definitivo.
            Em sua Carta Pastoral de 1983, D. Diógenes orienta que, seguindo a metodologia proposta em Puebla, Ver-Julgar-Agir, as CEBs são comunidades de fé, culto e vivência da caridade, célula inicial da estruturação eclesial, célula base da grande comunidade, comunidade que torna presente e atuante a missão eclesial, lugar de evangelização e catequese, comunidade pequena e permanente, vivência da realidade da Igreja como família de Deus, comunidades missionárias e ligadas aos apóstolos, expressão do amor preferencial da Igreja pelo povo simples, colaborando para questionar as raízes egoístas e de consumismo da sociedade. Ainda na mesma mensagem, afirma que CEB não é um fato isolado, mas sim um acontecimento sacramental dentro de um processo global de renovação da Igreja, que não bastam as reuniões dinâmicas e organizações, é preciso a força que está por dentro e que vem do Espírito; não é um grupo de contestação, ainda que seu modo de ser questione a mediocridade, o tradicionalismo e a falta de autenticidade; não é uma comunidade “natural” de base; não é simples grupo de oração, companheirismo ou serviço; não é um movimento apostólico ou pastoral, nem uma confraria ou associação pia; não é uma fórmula milagrosa para todos os males da sociedade e da Igreja.
            Contudo, não foram todas as Paróquias que conseguiram, ou não sentiram a necessidade, de se estruturarem em pequenas comunidades. Das Paróquias que compunham a Diocese de Franca, na década de 1970, em pelo menos três delas tentou-se criar uma rede de comunidades: São Judas Tadeu, São Sebastião e Capelinha.
            Na São Judas Tadeu, não há registro de como foi o processo, todavia, os católicos moradores no Jd. Palmeiras, bairro pertencente àquela Paróquia, qualificaram como uma CEB a sua comunidade, cujo orago é N. Sra. Aparecida. 
            Na São Sebastião, os vigários, Pe. Antônio Edson Mormol e Pe. Pedro Cipolini, pensavam, em 1979, em aproveitar o entusiasmo dos casais que fizeram o ECC para começar as CEBs na Paróquia. Ainda no Encontrão realizado no dia 5 de agosto, no sítio dos Zanetti, Pe. Pedro ressaltou a necessidade vital de um prosseguimento voltado para a formação de pequenas comunidades de vivência do evangelho, mostrando que o caminho da Igreja ... eram as CEBs, devendo os movimentos terem a finalidade de despertar para a vida e a formação de CEBs. Após o Encontrão, os vigários se programaram para visitar cada grupo do ECC para explicar o que são as Comunidades Eclesiais de Base, que se pretendia implantar na Paróquia, e também sobre a nova realidade da Igreja após o Vaticano II e Puebla. Esperava-se que cada grupo se transformasse em uma CEB. As visitas aconteceram até o fim do ano. Todavia, o máximo que se conseguiu foi, para o melhor funcionamento e andamento da pastoral na paróquia,dividir a mesma  em 18 setores, contando cada setor  com um casal coordenador, responsável por fazer a ligação do setor com o vigário. Cada setor poderia ser subdividido em áreas ou quarteirões, com um encarregado, a fim de facilitar o trabalho do coordenador do setor. Posteriormente, foram criados mais 7 setores.
            Na Capelinha, já o primeiro pároco, Frei Estevão Montes da Sagrada Família, antes mesmo da criação da Diocese de Franca, manifestou a necessidade de descentralizar as atividades da Paróquia. Para isso estabeleceu inicialmente três “comunidades de base”: Jd. Boa Esperança, Jd.Brasilândia e Jd. Paulista, nas quais se celebrava a Eucaristia. Como nesses bairros não havia local apropriado, era vontade adquirir alguns lotes de terreno para a construção de “salões paroquiais”. No Jd. Brasilândia conseguiu-se a doação de um terreno do casal Justiniano Alves Taveira e Maria Borges Taveira, que “sugeriram o nome de ‘Sagrado Coração de Jesus’ para a futura paróquia”. No Jd. Paulista comprou-se um terreno da Srta. Maria Amélia Ribeiro Monteiro. No Boa Esperança, devido à falta de recursos dos moradores, desistiu-se da idéia.
            O segundo pároco, Frei Carmelo Aroz, tomou posse em agosto de 1969. Foi sucedido pelo Frei José Alberto Fontanella, que ocupou o cargo de fevereiro de 1976 a março de 1978. Nesse período, pouco se conseguiu fazer avançar a proposta de formação de uma rede de comunidades. Somente era atendida a “Capela de S. Roque”, localizada na área rural, uma vez por mês. Tentou-se implantar o CPP e o CAP.
            Assumindo o paroquiato Frei Ivo Bochetti, que serviu até março de 1979, procurou-se tomar as medidas mais urgentes para que fossem solucionados os impedimentos para que saíssem o quanto antes a construção de salões-capelas. Frei Francisco Xavier Hernandes, em Franca desde 1973, foi designado vigário responsável pela periferia da Paróquia, começando uma experiência de catequese e evangelização num barracão no fim da av.Brasil, próximo às Casas Populares. Frei Paulo Zerbinatti foi enviado em missão a “um local denominado Furnas dos Garcia”, onde hoje se encontra a CEB S.Geraldo Magela.
            Com a nomeação de Frei Francisco Xavier Hernandez como Pároco, em 04.03.1979, inicia-se efetivamente a caminhada das CEBs na Capelinha. Logo em sua primeira reunião com as lideranças, coloca entre suas prioridades descentralizar o trabalho paroquial, favorecendo ao máximo a criação de ‘comunidades de base’ nos bairros da periferia e na roça. Efetivaram-se nessa época os Conselhos Paroquiais de Pastoral (CPP) e de Administração (CAP). Nesse ministério, Frei Xavier teve grande influência de Frei Lauro que já tinha grande experiência com CEBs no Espírito Santo.
            Em 1980 havia 5 CEBs constituídas. Todas as cinco tinham seu Salão-Capela, sua coordenação geral e finanças próprias, assim como várias Pastorais: catequética, assistência aos doentes, juventude, família. A maioria dos coordenadores havia passado pelo Cursilho de Cristandade. Estavam em processo de formação as Equipes de Liturgia de cada comunidade, que também possuíam 2 ministros da Eucaristia para presidirem as Celebrações da Palavra e 1 para levar a comunhão aos doentes. Eram realizados trimestralmente encontros dos líderes das CEBs. As CEBs rurais formavam uma “equipe dos seis”, constituída de 2 representantes de cada uma delas. Havia ainda o Grupo de Apoio, formado por representantes de cada uma das CEBs, cuja função era articular as reivindicações sociais das comunidades junto aos poderes públicos estabelecidos. Posteriormente, esse Grupo veio a se transformar no Conselho Geral das Comunidades (CGC). O Encontro de Líderes das CEBs, posteriormente, em 1986, transformou-se em Assembléia das CEBs, realizada semestralmente.
            Tomando posse em dezembro de 1984, o Pároco Frei José Luiz Igea Sainz, encontrou todas CEBs já formadas, ou em formação.
            As CEBs da Capelinha são cuidadas pastoralmente por um Vigário Cooperador, subordinado ao Pároco, que está encarregado de, nas Comunidades, administrar o Batismo, assistir aos matrimônios e dar a bênção nupcial, e presidir as Celebrações Eucarísticas, que se realizam uma vez por mês e nas festas dos padroeiros.
            Em março de 1985 tomou posse como Vigário Cooperador da Capelinha, com a função de dar atendimento às CEBs da Paróquia, Frei Lauro de Carvalho Borges, que junto com Frei José Luiz, promoveu a construção e reforma das dependências físicas de várias delas. O trabalho sempre aconteceu em mutirão, onde Éder Massakasu diz que tem trabalho do povo, para o povo mesmo, para o louvor de Deus. Tem rito, tem jeito de fazer, tem trabalho partilhado, tem tradição, tem jeitinho brasileiro, tem mãos, tem pés, tem disposição para enfrentar o mutirão. O mutirão é oração na ação, é partilha, é ação de graças.
            Até 2010, integravam a Comunidade Paroquial da Capelinha 15 CEBs. Na área urbana localizavam-se 12:
1. CEB SÃO JOSÉ – A partir de agosto de 1968, começou a ser celebrada a Eucaristia em um barracão no Jd. Paulista. No final de 1976, as celebrações se realizavam nas casas de alguns moradores. Em 10.12.1978, inaugurou-se o salão-capela. O seu primeiro conselho se constituiu em 14.01.1979.
2. CEB SÃO LUCAS – Desde agosto de 1969, havia Celebrações Eucarísticas no Jd. Brasilândia, mas somente em 13.01.1980 formou-se o primeiro conselho da comunidade.
3. CEB S. FRANCISCO XAVIER – Localizada no Jd. S. Luiz, está estruturada, oficialmente, desde 03.12.1979.
4. CEB N. SRA. DE FÁTIMA – Desde 1978, os moradores do Jd. Riviera se reuniam em suas casas para rezarem. Com o nome da CEB escolhido, o primeiro conselho foi constituído em 25.07.1981. A partir de então, o povo pode celebrar aos domingos.
5. CEB SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS – Oficialmente existe desde 11.12.1984, mas já desde fins de 1983, o povo de Deus no Jd. Paulistano II, começou a se organizar como comunidade.
6. CEB NOSSA SRA. DA PENHA – O povo já se reunia, em grupos de  quarteirão, desde 1983. Organizaram-se, e, em 03.11.1984, constituiram oficialmente a CEB. A capela, doação de um devoto, foi inaugurada em 08.12.1984. Sediada no Jd. do Líbano, sua população estende-se aos bairros Prolongamento da V.Aparecida, Jd. Brasil, e Jd. Centenário.
7. CEB DIVINO ESPÍRITO SANTO - O germe da Comunidade foi um Grupo de Reflexão e Terço que existiu, no Conjunto Habitacional construído no Jd. Éden, em 1979. O Grupo que tinha como padroeira N. Senhora Aparecida, da qual a imagem conservavam em um oratório, foi uma iniciativa de algumas moradoras, lideradas pela Eliana Verzola, a Ana Maria Pinto Buraneli e a Sirlei Aparecida Caçola. As reuniões eram semanais, às quartas-feiras, à tarde, cada semana na casa de uma participante. A partir dos encontros para a Novena do Natal em Família, começaram a organizar espaços para a realização de Celebrações Eucarísticas esporádicas, que se realizavam em casas de moradores e no barracão deixado pela Construtora Balieiro, localizado na esquina das ruas José Flávio de Castro e José Brickmann. Também atuavam na área de assistência social, ajudando famílias carentes e algumas creches da cidade, promoviam o Natal para as crianças e a quadrilha infantil nas festas juninas.
Os moradores que estavam na liderança da Comunidade conseguiram, mais a frente, autorização para utilizarem-se as dependências da EMEI Profª. Celina Ortiz para outras atividades da Igreja além da catequese. E na manhã do dia 7 de setembro de 1986 realizou-se a primeira Celebração da Palavra, já no pátio da “escolinha”. Presidida pelo então Ministro Extraordinário da Eucaristia, Pedro Célio das Neves, o Celinho, foi o marco inicial de transformação do grupo de moradores católicos do Jd. Éden em uma Comunidade Eclesial de Base. Assumiu então o jeito novo de ser Igreja das CEBs. Passou a integrar de fato a rede de CEBs em que estava estruturada a Paróquia da Capelinha. Foi a décima-terceira, depois de São Paulo (Paulistano I), antes de São Francisco de Assis (Panorama). Ficou estabelecido que o povo se reuniria, para a Celebração mensal da Eucaristia, no primeiro domingo do mês. Nos demais, se congregariam para a Celebração da Palavra sob a presidência de um Ministro da Eucaristia. Inicialmente a Santa Reserva era trazida da Matriz. Posteriormente, após a construção da Capela do Santíssimo na CEB N.S.Fátima, lá ficavam as hóstias repartidas entre o Povo de Deus do Jd. Éden. Apesar de certa resistência no começo, o povo passou a aceitar plenamente o valor da Celebração da Palavra. A Igreja sempre venerou as divinas Escrituras da mesma forma como o próprio Corpo do Senhor: ambos alimentam e dirigem toda a vida cristã (CIC - Parte I, Seção I, Capítulo II, Artigo 3).
A escolha do nome do padroeiro, Divino Espírito Santo, foi feita em uma reunião, acontecida ainda em 1986, infelizmente sem uma ata registrada. Contou com a participação, além de outros, da Santinha de Paula Pereira e de seu marido José Roberto Pereira, do José da Cunha Barbosa, do casal D. Ilda Maria de Jesus e Sr. Amercino Francisco Tavares e da D. Maria Aparecida Luppi, esposa do “seo” Zeno, uma pessoa que ajudou a Comunidade em muitas ocasiões. Contudo, há dúvida sobre quem teria sugerido o nome aprovado.
Após o envio de uma convocação por escrito a todos os católicos do bairro, realizou-se uma assembléia na CEB-DES para indicação dos membros que formariam o primeiro Conselho da Comunidade. Era o dia 17 de fevereiro de 1988, quarta-feira de Cinzas.
8. CEB STO. AGOSTINHO – Já desde 1981, o Povo de Deus na V. Aparecida, à direita da av. Brasil, se reunia, em suas casas, para encontros de oração. Com o crescimento da região, surgiu o Jd. Bueno e a CEB foi constituída. Em 1988, puderam fazer uso das instalações da EMEI do bairro, para atividades da comunidade. Em 1990 inauguraram o prédio com a capela do padroeiro e demais dependências.
9. CEB STA. MARTA – Oficialmente, passa a se constituir a partir de 26.01.1985. Teve origem, na decisão dos membros dos grupos de reflexão, existentes no bairro, de se desmembrarem da CEB S. Lucas, a partir de um assembléia realizada em outubro de 1984.
10. CEB SÃO PAULO – Desmembramento da CEB Sagrado Coração de Jesus, localiza-se no Jd. Paulistano I. Está constituída oficialmente desde maio de 1990.
11. CEB SÃO FRANCISCO DE ASSIS – Sua caminhada, teve início a partir de um grupo de moradores católicos do Jd. S. Francisco, que se reuniram para refletir a CF-1993, e que continuaram a se encontrar para rezarem o terço e refletir a Palavra de Deus. Em dezembro do mesmo ano, já instalados os moradores do Conjunto Habitacional do Jd. Panorama, formaram-se outros grupos  para a Novena do Natal. A primeira Celebração, aconteceu, na garagem de uma das residências, no início do ano seguinte. Posteriormente, a comunidade conseguiu autorização para fazer uso do prédio da pré-escola, até conseguir sua própria sede.
12 CEB SÃO MATEUS – Situada no bairro Jd. Palestina, originou-se, a partir da união de quatro das famílias pioneiras a se instalarem no loteamento, em meados de 1993. Logo, a 03 de agosto daquele  mesmo ano, celebraram, pela primeira vez, na garagem da residência de uma delas. Em 1994, já se constituiu o conselho de coordenação. A sede, construída em terreno doado pela loteadora, ficou em condições  de ser utilizada já na quaresma de 1995.
            Na zona rural estavam estabelecidas 3:
13. CEB SÃO ROQUE – A mais antiga das capelas, data de 1941 a sua construção. Localizada na região rural, pertencia, até a criação da Paróquia da Capelinha, à Paróquia de N. Sra. das Graças. Como CEB, se estruturou a partir de março de 1979.
14. CEB SÃO GERALDO MAGELA – A comunidade existe desde 28.10.1976, quando o Povo de Deus da Furna dos Garcia se reuniu para celebrar a Eucaristia em um barracão coberto de capim. Estruturou-se como CEB a partir de 28.10.1982.
15. CEB NOSSA SRA DAS DORES – Havia já de há muito uma capelinha às margens da atual rod. João Traficante, altura do km 9. Abandonada, os restos daquela edificação foram demolidos em julho de 1980. Mas já em 16.08.1981, acontecia no local a primeira Celebração Eucarística, dando início à estruturação da CEB. A capela, cuja obra foi assumida pelo Sr. Antônio Della Torre, foi inaugurada no terceiro domingo de julho de 1983.
            A partir de 2010, com a criação da Área Pastoral do Sagrado Coração de Jesus, passaram para esta jurisdição as CEBs Sagrado Coração de Jesus, Divino Espírito Santo, São Lucas, São Paulo, São Francisco de Assis e São Geraldo.
PALAVRA DE DEUS, VIDA E COMUNIDADE
 são as três colunas que sustentam a luta das CEBs pela construção do Reino de Deus.
Fontes de Pesquisa:
- Livro do Tombo, Atas do CPP e Jornal Aão Pastoral da Paróquia N. Sra. Aparecida (Capelinha) – Franca-SP
- Livro Vila Aparecida – Prof. Chafik Felippe
- Atos do Povo de Deus  do Jd. do Éden, do Prolongamento do Jd. do Éden e do Jd. Palma na Comunidade Eclesial de Base Ceb Divino Espírito Santo 1977–1999 – Walter Antônio Marques Lelis e Sônia Regina Belato de Freitas Lelis
- Livro do Tombo da Paróquia São Sebastião – Franca – SP
- Carta Pastoral de D. Diógenes Silva Matthes – 16.outubro.1983

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