IGREJA ROMEIRA E MISSIONÁRIA DO REINO
Dom Fernando Panico, MSC
Bispo Diocesano de Crato, CE
SEMINÁRIO NACIONAL CEBs
Crato, 23 de janeiro de 2012
Sejam bem-vindas e bem-vindos a este Seminário Nacional e III Ampliada Nacional das CEBs, a caminho do 13º Intereclesial em 2014. Saúdo a todas e todos, em nome desta Igreja romeira e missionária que está em Crato, uma Diocese cuja história quase centenária pode testemunhar a presença e o compromisso de formar comunidades eclesiais de base, no campo e na cidade. Que este Seminário seja um momento de graça e de comunhão, pois nos propomos a conversar e aprofundar o sentido e o alcance das CEBs no caminhar da Igreja em sua missão evangelizadora e santificadora, no contexto dos 50 anos do Concílio Vaticano II. Com calma e seriedade, na força do Espírito de Deus, refletiremos o tema ou a teologia do próximo Intereclesial a realizar-se em terras nordestinas, aqui na casa do Pe. Cícero Romão Batista, patriarca da nação romeira, santo popular das CEBs romeiras do Nordeste brasileiro, conselheiro e amigo dos pobres.
Tenho uma consciência que na abertura do Seminário não cabe fazer uma conferência, mas apenas partilhar e revelar um pouco das inquietações e certezas que moram no pastoreio e no coração de um bispo romeiro e profundamente cativado e marcado pelas CEBs. Sim, comprometido com elas, alimentado na espiritualidade do caminho e respaldado por uma história de salvação, sentida e celebrada por milhões de romeiros, ao longo dos 100 anos desta Diocese. Uma história salvífica que, humildemente, desejo agregar ao riquíssimo patrimônio construído pelas CEBs, no Brasil, na América Latina e em tantos outros sítios.
Agregar não é simplesmente ajuntar ou somar, nem fazer uma coisa só, mas buscar portas para inserir a espiritualidade, o rosto da fé e a mística dos romeiros na vida, na expressão de fé e testemunho das CEBs e ajudar os romeiros a encontrarem um sentido mais profundo e missionário no jeito de viver e celebrar das CEBs. Há muito tempo mesmo essa reflexão e aproximação se fazem necessárias, ao menos para nós que vivemos e trabalhamos no Nordeste Brasileiro e apostamos na força evangelizadora das romarias realizadas, é verdade, em todo território nacional.
Temos tantos documentos oficiais que falam das CEBs e valorizam as romarias. Contudo para juntar ou agregar não basta um discurso teológico, apoiado na Tradição e no Magistério atual da Igreja, mas se requer tudo isso, e mais a experiência imprescindível de vivência nas CEBs e o banho na espiritualidade das romarias. Isso começaremos a fazer nesse Seminário e, continuar, com mais profundidade, na preparação e realização do 13º Intereclesial com milhões de romeiros e membros das CEBs.
A Diocese de Crato, diga-se a verdade, foi pioneira na aplicação das orientações pastorais do Concílio Ecumênico Vaticano II que auspiciam uma Igreja aberta ao mundo e parceira na caminhada do povo, uma Igreja solidária e educadora da esperança dos pobres. Nem sempre, porém, soube valorizar e reconhecer-se, como Instituição, nas romarias de Juazeiro do Norte. Hoje, com um olhar de síntese, agradecemos o avanço das nossas comunidades no que se refere à consciência de base desenvolvida mediante tantas iniciativas voltadas para a promoção integral da pessoa humana e da vida social. A memória dos “mártires” da caminhada, como o Pe. Cícero, o Pe. Ibiapina, o Beato José Lourenço, é ocultada e mantida perene, seja pelas romarias aos santuários que os recordam, como pelo propósito de perpetuar a memória deles, na realidade hoje. Fé e vida caminharam juntas. No momento presente, as CEBs encontraram um novo impulso através das Santas Missões Populares, e – particularmente – na proposta pastoral de organizar a Diocese em “rede de comunidades”. O Pe. Vileci, coordenador do Ministério da Caridade na nossa Pastoral Diocesana, poderá depois destacar e enuclear melhor a fisionomia e a presença das CEBs nesta Diocese.
Como bispo romeiro, tenho presente, tantas vezes, na minha oração e na recordação aquele projeto de Igreja, experimentado pelas primeiras comunidades, descrito nos livros do Novo Testamento, especialmente em Atos 2, 42-47. Logo após a ressurreição, os cristãos foram se organizando e testemunhando a fé no meio pagão e hostil, firmando-se em quatro pilares básicos: perseverantes nos ensinamentos, comunhão fraterna, fração do pão nas casas e as orações. Isso porque no centro está viva a consciência da presença e atuação do ressuscitado.
O documento do Celam, em Aparecida, reitera que as CEBs tem sido escolas que ajudam “a formar cristãos comprometidos com sua fé, discípulos e missionários do Senhor, como o testemunho a entrega generosa, até derramar o sangue, de muitos de seus membros. Elas abraçam a experiência das primeiras comunidades, como estão descritas nos Atos dos Apóstolos !At 2, 42-47” (178).
A exemplo das primeiras comunidades e frente à clamorosa injustiça, à luz dos ensinamentos da Igreja, as CEBs se tornaram, progressivamente, o lugar privilegiado da manifestação da fé em Jesus Cristo, revelada aos pobres e pequeninos. Graças às CEBs, o povo chegou a um conhecimento maior da Palavra de Deus, ao compromisso social em nome do Evangelho. Desde o seu surgimento, as CEBs encontraram nos Círculos Bíblicos o alimento da Palavra de Deus que lhes possibilita o confronto direto com a situação concreta de vida e ações proféticas, iluminadas e fortalecidas pela Palavra do Senhor.
Para nós, com certeza, nesse Seminário, cabe a pergunta: O que a Igreja aprendeu, e guarda com carinho, da história de vida, das celebrações e da ação transformadora e profética das CEBs? Ou talvez, dizendo assim: Que força renovadora e profética mora nas CEBs hoje? Com isso, quero me perguntar se a Igreja Institucional (bispos e padres) tem claro o que mesmo quer com as CEBs. Como pastor, bispo, desafiado por tantas interpelações do Evangelho, não aceito que as CEBs sejam uma pastoral ou instrumento pastoral na Igreja; elas são um caminho do compromisso com o evangelho, do viver no Ressuscitado, uma luz para a enculturação do evangelho e uma mistagogia de iniciação na vida cristã e na litúrgica.
As CEBs desenvolveram uma sensibilidade social para os desafios reais da comunidade que exigiram um esforço de mobilização na afirmação do seu valor humano, social e eclesial. E na medida do crescimento da sua consciência crítica e das suas ações de solidariedade, tornam-se o espaço do anúncio da Boa Nova para os excluídos e oprimidos da nossa sociedade.
Na Igreja hoje, em meio a tantos desafios e descaminhos, as CEBs são a expressão mais visível da opção preferencial pelos pobres num sinal evidente da vitalidade da Igreja Particular e respondem à dimensão de evangelização postulada pelo Papa Bento XVI na sua primeira encíclica: “Agora o amor torna-se cuidado do outro e pelo outro. Já não se busca a si próprio, não busca a imersão no inebriamento da felicidade; procura, em vez disso, o bem do amado: torna-se renúncia, está disposto ao sacrifício, antes, procura-o” (Deus Caritas Est, 6).
As CEBs, desde o seu surgimento, têm testemunhado a busca da santidade no seu jeito de viver e entender a mensagem de Jesus Cristo. A santidade do amor, no espírito das Bem-Aventuranças. A santidade na política, como enfrentamento das injustiças até o martírio pela entrega da própria vida e a santidade da plenitude e da graça ao se viver à luz do Cristo Morto e Ressuscitado. Essa prática tem nos ajudado a resignificar o sentido de santidade nos dias de hoje.
Nestes tempos sombrios em que a ganância de poucos estimula a destruição da Natureza – criação de deus para todos – temos estendido o nosso conceito de generosidade e compaixão a todas as criaturas viventes sobre a face do nosso planeta Terra. É necessário, mais do que nunca, na nossa opção preferencial pelos pobres, considerar o mundo natural, pois agora o Bem Comum inclui a Terra e todas as criaturas viventes além dos humanos. Nestes tempos, a natureza é o novo pobre.
Enfim, caros irmãos e irmãs, mais do que nunca, é preciso ousar. Ou a Igreja opta pela chamada “conversão pastoral para a missão” com um projeto de vida em pequenas comunidades, ou terá que amargar consequências complicadoras no dia de amanhã. As CEBs não querem e nem podem ser a tábua de salvação, mas sim reveladoras de um jeito de ser Igreja.
— with Frei Izaías, Clara Nogueira, Vileci Vidal, Benedito Ferraro, Zé Marins, Thiesco Crisóstomo, Liz, Dom Fernando Panico, Maria Lizeuda Ferreira Ferreira, Gelmar Beserra, Maria Aparecida Alcantara, Dom José Luís Bertanha, Brazil, Nininha, Batista Silva, Frei Milton, Dom Giovane Pereira de Melo, Maria Rossi, Rozelia Costa, Teolide Maria Trevisan, Josivan, Anastacio Ferreira de Oliveira, Dom Ricardo, Neurimar Pereira, Ana Lourdes Freitas, Claudiano Sobral, Sérgio Coutinho, Paulo Rafael Ferro, Marta Bispo, Magda Melo, Dom Elias, Joimar, Nelito Dornelas Dornelas, Irmã Gema, Edmundo Alves Monteiro, Lorena Dobrantz, Carla Canuto, Fontinele, Julio Ferreira de Souza, Neidi Paula Heck, Ana Maria Freitas, Roberto Malvezzi - Gogó, Gilvander Luís Moreira and Antonio Lopes de Lima.
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