sábado, 12 de novembro de 2011

Frei Betto participa de debate neste sábado na programação da Fliporto - PE

Frei Betto participa de debate neste sábado na programação da Fliporto. Imagem: Alexandre Gondim/DP/D.A Press/Arquivo


Minas do ouro, romance “(micro)histórico” lançado no último mês de setembro pela editora Rocco, resulta de mais de vinte anos de “gravidez” do dominicano Carlos Alberto Libânio Christo, o Frei Betto. “Sou o pai da família Arienim, nascida na minha imaginação”, diz o ganhador de dois Jabutis e autor de 53 obras, entre romances, coletâneas de contos e infanto-juvenis. Nessas Minas do ouro, a linguagem, exuberante, e o enredo, sinuoso, emulam traços do nosso barroco. É uma associação direta, que se transforma enquanto a leitura singra cinco séculos vividos por uma típica família mineira (Arienim é um anagrama desta origem).

Através de personagens nada eminentes, a noção que a história se desenrola mesmo é nos interstícios pouco visíveis. Frei Betto participa no próximo sábado, da Festa Literária Internacional de Pernambuco (Fliporto), ocasião em que conversa com Bia Corrêa do Lago sobre sua sua prolífica obra literária.

“Minha intenção, ao redigir o Minas do ouro, o que me exigiu 13 anos de trabalho (1997-2010), – era imprimir a cada capítulo um certo ‘sotaque’ da época em que ele se situa. A leitura de autores como o Padre Vieira me ajudou muito nesse sentido. Um leitor atento verá que a linguagem barroca dos primeiros capítulos aos poucos cede espaço à linguagem jornalística dos últimos, ambientados no século 20”, explica o autor. Minas do ouro não é a primeira incursão do tipo realizada pelo dominicano. “Meu primeiro romance histórico é Um homem chamado Jesus (Rocco), de 1997, em que condenso os quatro evangelhos em forma de romance. Iniciei a pesquisa para o Minas de ouro na década de 1980, quando ‘engravidei’ do tema. Li cerca de 120 obras sobre as histórias de Minas e do Brasil. Como, por exemplo, toda a Coleção Mineiriana, da Fundação João Pinheiro, e o Códice (Costa) Matoso. Procurei elaborar um texto demitizador, no qual não há heróis, e cujo protagonismo cabe, não às figuras históricas como Fernão Dias e Tiradentes, mas aos personagens fictícios da família Arienim. O romance abrange cinco séculos da história de Minas”.

Frei Betto é um dos interlocutores mais abertos da Igreja Católica. Como romancista, ultrapassa “os limites da teologia” (ou os limites da linguagem da teologia). Como descreve este lugar de fala e como é visto na Ordem Dominicana? “Meus confrades dominicanos sempre me deram todo apoio, como descrevo em Batismo de sangue (Rocco), sobre o período em que estive preso sob a ditadura. Enquanto romancista, procuro me adequar à linguagem própria da literatura de ficção. Se um dia escrever um romance sobre a Igreja talvez nele apareça algo da linguagem teológica. Mas não escrevo romance para passar mensagem. Cultuo a beleza da palavra. Romance tem que ser, sobretudo, belo.” Conversa sobre a Fé e a Ciência (Agir, 2011), debate com o Marcelo Gleiser e Waldemar Falcão é exemplo de tal abertura do Frei Betto. “Ficamos trancados num hotel durante três dias para produzir este livro que tem tido muito boa aceitação”. Claro, o título não passa ao largo de argumentações agressivas sobre o agenciamento ciência/fé como as de Richard Dawkins (Deus, um delírio). “Essa voga antiteísta vira e mexe volta à baila. Ora, Marcelo Gleiser, em nosso livro, deixa bem claro, como físico teórico que é, que Deus não pode ter sua existência ou inexistência provada. Por isso ele se coloca como agnóstico. E eu, como homem de fé”.

Um dos nomes centrais para Teologia da Libertação, articulador do programa Fome Zero, assessor especial de Lula e de governos de esquerda como o regime fidelista, opositor da ditadura brasileira. O nome de Frei Betto está historicamente associado às mobilizações de esquerda, muitas delas bem-sucedidas ou politicamente hegemônicas. Como ele avalia os 8 anos de governo Lula, os 10 meses de Dilma e o que achou da instrumentalização da doença do ex-presidente (para alguns adversários, Lula deveria se tratar pelo SUS)? “Os governos Lula e, agora, Dilma, são os melhores de nossa história republicana. Sobretudo pela redução da desigualdade e afirmação da soberania brasileira. Quanto à doença de Lula, ele tem recursos para custear seu próprio tratamento. E como ex-presidente – duas vezes! – da República merece o que o nosso sistema de saúde possui de melhor. Deus queira que se recupere o quanto antes”.

Paulo Carvalho

Diario de Pernambuco

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