terça-feira, 1 de novembro de 2011

8º Fé e Política quer democracia plena - Embu das Artes

Embu das Artes recebeu no sábado e neste domingo, dias 29 e 30, na casa de eventos Caipirão (centro), o 8º Encontro Nacional de Fé e Política - movimento ecumênico ou interreligioso, não ligado a nenhuma igreja e apartidário que reúne cristãos que consideram a política uma dimensão fundamental da fé -, que terminou com o compromisso geral de apresentar e defender propostas por uma democracia plena, que não se limite ao voto nas eleições.

"Temos o que se chama de democracia representativa, mas precisamos é de uma democracia participativa. Isso não vem através de uma reforma legislativa, mas de mudança na visão de construção da cidadania", afirmou padre Jaime Crowe, idealizador do encontro. "Temos um longo caminho pela frente, mas demos o passo inicial", disse o irlandês, que no Brasil iniciou seu trabalho no município, nos anos 70. "Embu já tem uma história de fé e política de 40 anos".



Abertura do encontro que reuniu 4.000 participantes, de 25 dos 27 Estados do país

Um dos conferencistas mais aguardados, o escritor e assessor de movimentos sociais Frei Betto atacou a "desfaçatez" de ainda se adotar o voto secreto no Congresso Nacional. "A função do parlamentar é pública, eu como eleitor tenho direito de saber como o meu parlamentar está votando. O que acontece é que ele vota de uma maneira que não me agrada e mente, dizendo que votou como eu queria, e diz para outro eleitor dele que pensa o contrário que também votou como ele queria", alertou.

Ele defendeu prover o Estado de mecanismos anticorrupção. "Não acredito em ética na política, todos nós [humanos] somos vulneráveis, temos dois problemas intransponíveis: defeito de fabricação e prazo de validade - o sujeito fala não ser corrupto até o dia em que oferecem uma bolada. Precisamos é criar a ética 'da' política, um sistema em que ele mesmo que queira ser safado não consiga, seja pelo rigor da punição, seja pela exigência de transparência."

A juventude foi evocada como força capaz de provocar mudanças na política. "Tem uma música cantada pela Gal Costa - 'Não confie em ninguém com mais de 30 anos'. Minha esperança está em quem tem menos, não conheço nenhum grande revolucionário, militante que tenha iniciado seu trabalho depois dos 30 anos", disse Frei Betto, sobre a presença marcante de jovens entre os 4.000 participantes do encontro, de 25 dos 27 Estados do país.

O evento reuniu cerca de 50 parlamentares de várias partes do Brasil que, segundo a organização, "têm origem de militância na fé". Da região, estiveram o deputado estadual Geraldo Cruz, a vice-prefeita de Taboão da Serra, Márcia Regina, os vereadores Maria Cleuza, Silvino Bomfim, de Embu, Wagner Eckstein, de Taboão, e Zé Maria, de Itapecerica da Serra. Participaram os deputados federais Chico Alencar, do Rio, Paulo Teixeira e Vicente Cândido.

Palavra de acolhida e compromisso social do anfitrião prefeito Chico Brito (PT) e mensagem em apoio à luta do movimento de fé e política contra as desigualdades proferida pelo bispo na região, dom Luiz Antônio Guedes, da Diocese de Campo Limpo, abriram o encontro, que homenageou dom Paulo Evaristo Arns, aos 90 anos, que foi chamado de "cardeal dos direitos humanos", por denunciar torturas durante o regime militar, e Santo Dias da Silva (1942-79).

"O encontro aconteceu na terra que foi o chão de Santo Dias. O sangue dele regou essa terra e fez florescer muitos frutos que hoje buscam construir novo projeto de sociedade", destacou Teresinha Toledo, da coordenação nacional do Movimento Fé e Política, sobre o líder operário que foi morto pela Polícia Militar durante piquete em frente a fábrica em Santo Amaro (zona sul de SP), em 30 de outubro de 1979, exatos 32 anos atrás. A viúva Ana Dias estava presente.

O tema central "Em busca da sociedade do bem-viver", conceito da cultura indígena, norteou os 17 assuntos discutidos, desde produção e consumo sustentável até cultura de paz, abordado pelo ex-ministro Paulo Vanucci (Direitos Humanos). "Fazer política, todo grupo, toda religião faz, mas fazer numa perspectiva libertadora é nossa razão de ser. Não é o conceito de viver melhor, ideia capitalista do ter muito; para nós, é bem viver, com menos, mas para todos", disse Teresinha.

Fonte: Adilson Oliveira

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