O arcebispo emérito de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns, dispensou homenagens que seriam organizadas para celebrar seus 90 anos de vida. O aniversário do franciscano é dia 14 de setembro. Ele vive atualmente em Taboão da Serra (SP), na região metropolitana da capital paulista, e deixou de lado até a missa sugerida para a Catedral da Sé, ponto marcante de sua trajetória e marco simbólico da resistência à ditadura.
Segundo pessoas próximas, Dom Paulo aceitou, como celebração oficial, apenas uma reunião prevista para o dia 17 de setembro na Faculdade de Direito do Largo São Francisco, na região central da capital paulista. O evento, três dias após o aniversário, deve reunir parentes e companheiros de clero, e será aberto ao público, com quem o frei deve conversar.
Desde 2007, o cardeal leva uma vida retirada, na Congregação Franciscana "Fraternidade Nossa Senhora dos Anjos", onde recebe auxílio de religiosas e religiosos para as atividades cotidianas. Sempre que tem disposição mantém hábitos de leitura, inclusive em outros idiomas, e chega a traduzir textos.
Nos últimos anos, optou por uma agenda menos intensa e de raras aparições públicas. É esta a linha de argumentação para que as celebrações dos 90 anos fiquem restritas. Pessoas próximas indicam que parte de sua reclusão se explica pelo fato de o religioso não querer elencar eventos mais e menos importantes, e prefere não criar situações desconfortáveis ao presenciar uma reunião em detrimento de outra.
Recentemente, Dom Paulo não compareceu à cerimônia de repatriação dos arquivos do projeto Brasil Nunca Mais, o primeiro quadro sistemático das violações promovidas pelos aparelhos de repressão montado com base em documentos da Justiça Militar. Na ocasião, ele rejeitou o papel de protagonista ao indicar que não era merecedor da homenagem que lhe seria concedida.
Diante da decisão de evitar comemorações, a sessão solene prevista para 3 de outubro na Câmara dos Vereadores de São Paulo pode não contar com a presença do cardeal. A iniciativa foi apresentada por amigos ao vereador Jamil Murad (PCdoB), que apresentou projeto já aprovado na Comissão de Constituição e Justiça e que deve passar em breve pelo plenário da Casa. O político conheceu o então cardeal na década de 1970, sob o contexto da repressão promovida pelos militares.
"Pode até ser que Dom Paulo esteja (na sessão solene), mas a gente trabalha com a possibilidade de que não vá", afirma Paulo Cesar Pedrini, membro da coordenação da Pastoral Operária e amigo pessoal do arcebispo. "É impossível falar da história recente do Brasil sem falar de Dom Paulo. É uma figura que transcendeu a igreja."
Dom Paulo chegou a São Paulo em meio à ditadura. Logo se colocou como autoridade moral contra a violação de direitos humanos, com prisões arbitrárias e tortura, e deu respaldo para que grupos de resistência pudessem existir. "Dom Paulo contribuiu de maneira decisiva para a gente enterrar a ditadura", avalia Jamil Murad. "Lutadores como ele não se aposentam. Ele continua no espírito das pessoas, dos democratas, dos que lutam por justiça."
Nascido em Forquilinha, em Santa Catarina, no ano de 1921, Dom Paulo foi ordenado padre em 1945. Após cursar letras na Universidade Sorbonne, na França, uma das mais renomadas da Europa, retornou ao Brasil e passou a atuar em Petrópolis (RJ), na serra fluminense, onde permaneceu durante dez anos. Foi a partir da década de 1960, em São Paulo, que ganhou projeção como defensor dos trabalhadores.
O Brasil, além da repressão, passava por um momento de intensa migração para as cidades, que se inchavam e não davam condições dignas de vida às massas. Nas periferias, o religioso incentivou a formação e o fortalecimento das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), ressaltando a fé de que a Igreja Católica deve ser feita pelo povo, nas ruas, e não apenas nos templos.
Consagrado bispo em 1966, foi elevado a arcebispo de São Paulo em 1970. Até 1998, permaneceu como principal referência na Arquidiocese paulistana.
Fonte: Brasil Atual
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O arcebispo emérito de São Paulo, d. Paulo Evaristo Arns, referiu-se à “corrupção inacreditável do Senado” no telegrama que enviou ao senador Flávio Arns (PT-PR), seu sobrinho, cumprimentando-o pela “atitude coerente” de se desligar do PT depois que o partido seguiu as ordens do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de arquivar as denúncias contra José Sarney (PMDB-AP). O senador Pedro Simon (PMDB-RS) leu o texto em plenário logo que Arns comunicou sua desfiliação do PT. Em cinco linhas, d. Paulo cumprimenta o sobrinho pela atitude, pede a ele que transmita “votos de apoio benemérito à senadora Marina Silva” - que também deixou o PT -, a Pedro Simon e “aos demais colegas que defendem a ética e decoro dos chamados pais da Pátria”. Arcebispo de São Paulo durante 28 anos, de 1970 a 1998, d. Paulo Evaristo Arns é considerado por Simon “a pessoa mais importante na criação do PT”, por ter permitido, como criador das comunidades de base, que prosperassem “as ideias de dignidade, correção e capacidade de lutar defendidas inicialmente pelo partido”.
Em seu comunicado de desfiliação, Flávio Arns afirmou no plenário que mais grave do que o partido ter arquivado as denúncias contra Sarney, foi a iniciativa de seu presidente, deputado Ricardo Berzoini (SP), de orientar o voto dos senadores petistas no Conselho de Ética. “Como se tivesse autoridade, em primeiro lugar, para orientar, orientando senadores a votarem pelo arquivamento do processo.” Arns disse que a atitude de Berzoini criou mal-estar não só entre a bancada do partido na Casa, mas principalmente na militância.
O senador também criticou o ministro de Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, que chegou a dizer que a decisão de afastar Sarney da presidência era “de um ou dois senadores petistas” e não da quase totalidade da bancada. Mas poupou o líder Aloizio Mercadante (SP), que recuou de sua decisão “irrevogável” de renunciar a liderança em protesto pelo apoio do Planalto a Sarney.
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