Os últimos dias de mamãe conosco foi, na verdade, um momento especial de oração durante 40 dias. Parecia um retiro inaciano que nos fez refletir sobre o sofrimento e descobrir que o amor é eterno. Mamãe, Raimunda Xavier da Luz (Loza), foi a protagonista desse momento.
No primeiro dia, 22 de junho de 2011, ela nos tirava dos festejos de São João para participarmos da preparação de sua vida entregue ao Reino de Deus. Seus filhos sentiram-se convocados a participarem com ela destes longos dias de sofrimento e oração(...)
O primeiro momento de oração começou com preces a Deus pela sua cirurgia. Ela foi operada no começo da noite e aí se iniciou o retiro. Todos foram chegando aos poucos: São Paulo, Alagoas, Piauí, Pará e cidades de Crato, Juazeiro, Barbalha e Porteiras no Ceará. Os 16 filhos participaram deste momento de sua vida, juntamente com a presença de papai Luiz Vidal da Luz: Auci, Vileci, Adermir, Rivania, Antonio Rivaldo, Rivaneide, Ranilda, Gerlane, Eliane, Herlane, Xavier, Josefa, Flávio, Aureliano e Evania. Destes, só Francisco, o filho adotivo, não pode comparecer.Durante os 40 dias, tínhamos duas visitas ao Hospital Geral de Brejo Santo: uma às 14h00 e outra às 19h30 e quando chegávamos a casa de papai terminava o dia com o terço da Divina Providência. Todos foram abraçados e beijados por ela, antes de partir para junto do Pai.
A primeira parte do retiro era de súplica: fizemos preces constantes a Deus por ela, distante ou perto, durante 12 dias. Também muitas outras pessoas amigas se juntaram a nós, em oração. No 13º dia, 4 de julho, mamãe passou pela segunda cirurgia. Foram duas horas de angústia. Quando ela saiu do centro cirúrgico, foi direto para a UTI. Daí, então, começou os encontros de cada um com mamãe, confessamos os nossos pecados. Passamos a contemplar a face sofrida de Cristo. Ela passou a receber apenas três pessoas por visita. Enquanto alguns de seus filhos tiveram que se ausentar por conta de trabalho e família, outros parentes, irmãos e cunhados, participavam também do retiro espiritual. Houve momentos que ela não disse nada, só seu olhar nos falava do amor. Diariamente, quem estava longe, recebia um boletim informativo do estado de saúde de sua saúde. Bastava mamãe olhar ou mexer com a mão que renovava a nossa esperança. “Confiantes, esperávamos pelo Senhor!”
Das minhas mãos sacerdotais, ela recebera a unção e já se preparava para Deus. No trigésimo dia do retiro, 21 de julho, a mensagem foi sobre o texto da ressurreição de Lázaro. O coração de mamãe quase parou; segundo os médicos, Jesus a ressuscitou. Neste dia, todos os parentes foram convocados para se despedirem dela, era o pré-anúncio de sua partida. Nossa presença, entre lágrimas, fez mamãe encontrar forças e recuperar as batidas do coração. Nesta última parte do retiro, compreendemos que a eternidade do amor de Deus passa também pelo sofrimento. “Só o amor apressa o passo, vence o cansaço e faz caminhar” (Santa Teresa). Nada mais pedíamos a Deus, as orações passaram a ser de agradecimento pela nossa mãe: sua ternura, sua preocupação conosco, a educação contextualizada entre campo e cidade que ela e papai nos proporcionaram. O que nos tornamos trouxe orgulho para mamãe. Na UTI, ela já não conseguia falar tanto, mas perguntava pelos filhos mais sofridos. O retiro nos favoreceu compreender o quanto ela nos amava e o quanto ela era amada por nós; esse é o nosso consolo. O último encontro que eu estive ao seu lado foi de muitas carícias. O nosso olhar se cruzou por vários momentos. Neste dia, papai já não aguentava mais presenciar seu sofrimento. Na visita da noite, estavam lá os filhos que pareciam mais frágeis durante este tempo de sofrimento. Mas foram eles que assumiram o papel que Maria Madalena fez quando anunciou a ressurreição de Jesus aos discípulos. Mamãe esperava por eles e depois da visita da noite se entregou a Deus.
Mamãe veio a óbito às 20h00 do dia 30 de julho de 2011. Todos se deslocaram ao hospital para recebê-la. Começou a festa da ressurreição! Vieram pessoas de vários lugares para nos consolar, sentimos a força do amor de Deus presente naqueles que choravam conosco. Os céus se abriram e a chuva anunciava sua chegada ao céu. O retiro terminou no dia 31 de julho de 2011 com a oração do anjo, às 18h00 no cemitério. Mamãe nos preparava para a sua última hora. Deus seja louvado por isto!
As mães são um espelho do amor de Jesus Cristo. Elas deveriam morrer aos poucos para ter esta oportunidade de abraçar, acariciar e beijar seus filhos e também sentirem o amor de seus filhos no momento de solidão, antes de partir deste mundo para junto do Pai; pois, elas são uma expressão do amor de Deus por nós. De fato, elas são uma presença sacramental de Deus na vida de seus filhos.
Agradecemos a todos e todas que rezaram por nós neste retiro!
Saudações cordiais,
Pe. Vileci Basílio Vidal
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