segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Necessitamos viver simplesmente para que outros possam simplesmente viver - Gandhi

De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), em outubro próximo, o número de habitantes do planeta chegará a 7 bilhões. As estatísticas afirmam que durante os próximos dez anos algumas das nações mais pobres do mundo duplicarão sua população e em 2025 serão registrados 8 bilhões de habitantes. Nesse sentido, o Fundo de População da ONU exortou à reflexão e à análise sobre o que significa viver em um mundo com 7 bilhões de habitantes.

A reflexão, a análise e as medidas são mais urgentes se considerarmos as implicações dessa cifra para a realidade dos países empobrecidos ou em desenvolvimento, como também são denominados. Esses terão que fazer esforços consideráveis para atender às necessidades de uma população em crescimento, se não quiserem ver aumentar em milhares de milhões seus níveis de pobreza e de exclusão. Agora mesmo os países empobrecidos têm 98% da população subnutrida do mundo (somente a América Latina e o Caribe têm 53 milhões de famintos); essa região também se caracteriza por uma alta e persistente desigualdade social que, facilmente, aparece devido a um contexto de baixa mobilidade. 14 países têm uma esperança de vida que não chega aos 50 anos. Os últimos nesse ranking são o Afeganistão e Lesoto, com 44,6 e 45,9 anos, respectivamente. O número de pessoas vivendo em extrema pobreza aumentou para 2.6 milhões, segundo o Relatório 2010 da ONU sobre os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio.

Portanto, a situação de precariedade na qual vive uma significativa parcela da população mundial deve ser motivo de preocupação e prioridade, sobretudo, em um contexto global de acelerado crescimento demográfico. Claro está que as soluções para esses graves problemas não são alcançados com programas de controle da natalidade que promovam a anticoncepção, nem muito menos esperar passiva e indolentemente que surjam guerras ou epidemias para que reduzam a população à custa dos mais vulneráveis. Trata-se de orientar as estruturas e o funcionamento econômico e jurídico da sociedade, bem como seu sentido ético rumo a uma convivência digna, com participação e equidade na distribuição de recursos, com justiça ecológica, com equidade solidária, com segurança alimentar e nutricional e, sobretudo, com uma cultura da vida boa, isto é, uma cultura da inteligência, da compaixão e do compromisso.

Ignacio Ellacuría falava de uma civilização da pobreza "onde esta já não seria a privação do necessário e fundamental por parte de grupos, classes sociais ou conjunto de nações, mas um estado universal de coisas no qual esteja garantida a satisfação das necessidades fundamentais, a liberdade das opções pessoais e um âmbito de criatividade pessoal e comunitária que permita o aparecimento de novas formas de vida e de cultura...".

Jon Sobrino, atualizando essa proposta, propôs a necessidade de uma ecologia do espírito, descrita nos seguintes termos contraculturais: "o espírito de comunidade versus o individualismo isolacionista que facilmente degenera em egoísmo; a celebração versus a dimensão irresponsável, que degenera em alienação; a abertura versus o etnocentrismo cruel, que degenera em desentendimento do sofrimento dos outros; a criatividade versus a imitação servil, que facilmente degenera na perda da identidade; o compromisso versus a mera tolerância, que degenera na indiferença; a fé versus o burdo positivismo e pragmatismo, que degenera no semsentido da vida".

Como se pode observar, o desafio dos 7 bilhões de habitantes não pode nem deve ser reduzido a medidas quantitativas de ordem econômica, social, ecológica. Trata-se também de medidas qualitativas, culturais, éticas -nas quais não se costuma falar ao referir-se a esses temas-; de construir um novo modo de civilização que realmente nos torne seres humanos melhores, com capacidade para desenvolver relações humanizantes com a natureza e com os demais homens e mulheres que fazem parte da grande família humana. Dito com as palavras de Gandhi: "necessitamos viver simplesmente para que os outros possam simplesmente viver". O mundo da abundância requer, com urgência, esse modo de ver as coisas.

Carlos Ayala Ramírez
Diretor da Rádio Ysuca

Fonte: ADITAL

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