quarta-feira, 17 de agosto de 2011

MAB discute impactos de Belo Monte com moradores de Altamira

Iniciou-se no último sábado, dia 13 de agosto, um trabalho de visita e debate com os moradores da periferia de Altamira (PA), atingidos pela barragem de Belo Monte. Militantes do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) e do Levante Popular da Juventude visitaram as famílias e fizeram conversas a cerca dos possíveis impactos da barragem sobre suas vidas.

Quatro militantes atingidos pela barragem de Tucuruí e dois de Marabá fizeram as visitas na região. Eles contam suas histórias para os moradores que hoje vive sob essa ameaça. “Para nós é importante vir falar da nossa realidade para essas famílias, para que elas possam abrir os olhos enquanto há tempo e se organizar no MAB para lutar por seus direitos”, afirma seu Valdir, que mora na cidade de Breu Branco, atingida pela barragem de Tucuruí e que há mais de 25 anos luta por seus direitos, negados pela Eletronorte.

Quando indagados sobre as informações a respeito da barragem, as famílias ameaçadas por Belo Monte não sabem dizer quase nada. Mas afirmam com convicção: "somos contra esse projeto", e explicitam: “dizem que vão nos indenizar, vão nos dar outra casa aqui perto, mas até agora ninguém veio falar nada ainda pra nós sobre como vai ser”, afirma um morador do bairro. Outra moradora diz que “a única coisa que a gente vê que está sendo feito pelo consórcio Norte Energia é a entrega de carros para a prefeitura, mas aqui eles não chegam”.

Situação das famílias

Uma miséria! Assim poderia ser descrita a realidade das famílias visitadas no bairro Boa Esperança. Um bairro como muitos outros em Altamira, totalmente esquecido pelos governos, longe de ter as mínimas condições de vida. Não tem água potável, nem sistema de saneamento básico e a violência assombra a vida das famílias. Crianças e idosos vivem numa situação lamentável. Há casas de madeira remendada, cercadas por uma imensa área de brejo. Para se chegar até as casas da maior parte das famílias visitadas, corredores de madeira são erguidos pelas próprias famílias, onde só passam pessoas a pé, motos e bicicletas. No inverno amazônico, toda essa área se alaga e as famílias dependem desses corredores para poderem se deslocar.

Ao lado dessa miséria, as empresas e o Estado planejam uma grande obra, de mais de 30 bilhões de reais, que mais uma vez chega com a promessa de trazer o desenvolvimento para uma região esquecida. Todos os moradores sentem essa esperança no bairro Boa Esperança. Afinal, como diz o ditado, a esperança é a última que morre. Mas enquanto isso, pessoas morrem a cada dia, seja de doenças, seja da violência. São parte de um projeto de exclusão social, jogadas às margens dos mega projetos pensados de longe.

Violação dos direitos humanos

O relatório realizado pelo Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (CDDPH), aprovado em novembro de 2010, aponta a violação de vários direitos humanos em obras de barragens construídas e em construção. As denúncias parecem não surtir efeito, pois a constatação é que mais uma vez as famílias são atormentadas por um projeto de barragem, sem ter direito a informação e a participação no processo. Os militantes do MAB denunciam que as únicas informações vêm de políticos e de propagandas de rádios e televisão, totalmente distorcidas da realidade das famílias.

“É lamentável que se feche os olhos para uma situação dessas, uma obra que vai trazer muitos impactos para a região. A cidade não está preparada para essa movimentação de máquinas e pessoas. São mais de quatro ocupações urbanas que surgiram nas últimas semanas, a violência aumentou, a cidade nos horários de pico para de funcionar. O aluguel aumentou, assim como o valor dos imóveis. E o povo vivendo das migalhas. Quem vai resolver isso?”, indagam os moradores.

Diante dessa situação, durante os próximos dias o MAB e o Levante Popular da Juventude, entre outras organizações, vão intensificar o trabalho com as famílias. “Vamos fazer conversas, entregar material com informações sobre a barragem, fazer assembléias populares nos bairros da cidade e na vila Belo Monte, onde vai acontecer o encontro das CEBs, entre os dias 18 a 21 de agosto. Vamos aproveitar o espaço para dialogar com a população daquela vila sobre os impactos da barragem. E na semana de 22 a 26 de agosto, realizar as ações de massa para discutir com a sociedade: Belo Monte para quê e para quem?”, declarou um dos coordenadores do MAB na região.

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