O sacerdote e deputado federal Luiz Couto (PT-PB), 65 anos, foi proibido de celebrar missas na Paraíba pelo arcebispo Dom Aldo Pagotto. Isso aconteceu após o sacerdote participar de entrevista ao site jornalístico, Congresso em Foco. O sacerdote se declarou contra a obrigatoriedade do celibato, a discriminação de homossexuais e a favor da camisinha. "Defendo o uso da camisinha como uma questão de saúde pública", comentou Couto.
De acordo com Dom Aldo as declarações do deputado federal contrariaram as orientações doutrinais da Igreja Católica. “Preposto à Arquidiocese da Paraíba, vejo-me na grave obrigação de suspender o referido sacerdote do uso de Ordem em nossa circunscrição eclesiástica, porquanto, por suas afirmações sumárias, e enquanto perdurem sem retratação explícita, provoca confusão entre os fiéis cristãos, e contraria 'in noce' as orientações doutrinais, éticas e morais sustentadas pela Igreja Católica”, afirmou o arcebispo em nota oficial.
Trechos da nota de Dom Aldo Pagotto
... Preposto à Arquidiocese da Paraíba, vejo-me na grave obrigação de suspender o referido sacerdote do uso de Ordem em nossa circunscrição eclesiástica, porquanto, por suas afirmações sumárias, e enquanto perdurem sem retratação explícita, provoca confusão entre os fiéis cristãos, e contraria "in noce" as orientações doutrinais, éticas e morais sustentadas pela Igreja Católica (Cf. Cânon 1317 CDC)".
Vida cristã
Em 19 de dezembro de 1976, Luiz Couto, ordenou-se padre e exerceu o Ministério Sacerdotal nas Paróquias de Nossa Senhora das Neves e Sagrado Coração de Jesus, além de diversas Paróquias da Capital e em Cidades do Interior da Paraíba. Ao ordenar-se ele passou a acompanhar os seguidores da Teologia da Libertação. Deputado estadual duas vezes chegou à Câmara em 2003.
Início do calvário
Seu calvário começou quando denunciou a ação de grupos de extermínios no Nordeste, em 2005. Desde então, Couto tem sofrido ameaças de morte. “Perdi a conta do número de ameaças que recebi".
Desde então diversas pessoas foram indiciadas pelo padre na CPI, incluindo políticos, juízes, policiais e promotores.
Nos últimos dias a Polícia Federal ordenou a retirada dos agentes que faziam sua segurança pessoal, as ameaças de morte se intensificaram e como se isso não bastasse ainda foi proibido de exercer suas funções sacerdotais.
Trechos da nota de Luiz Couto
... Alguns pontos da entrevista merecem algumas considerações que fiz e que estão ausentes no referido jornal, e que agora tenho a oportunidade de esclarecê-los.
Primeiro: O celibato é um valor na vida da Igreja. . Muitos celibatários vivem uma vida exemplar e inspiradora. Portanto, não é o celibato que questiono, mas sua obrigatoriedade. Quando o celibato é imposto e obrigado pode trazer sofrimentos humanos desnecessários. O celibato aceito como carisma é abençoado e o celibato obrigatório e imposto pode se tornar um martírio silencioso. Esse tema já foi bastante discutido na Igreja e continua sendo. Recentemente, o bispo Dom Clemente Isnard falou sobre o assunto num livro intitulado: “Reflexões de um bispo”. E o teólogo americano Donald Cozzens, lançou o livro: “Liberar o Celibato”. Entretanto, o que digo na entrevista não desvaloriza a disciplina do celibato.
Segundo: No que diz respeito aos homossexuais temos que amá-los como irmãos. Hoje devido a homofobia que é crescente, se impõe, como nunca, o espírito de tolerância. Caso contrário, assistimos a esgarçamentos do tecido da sociedade civil com conseqüências funestas para o convívio e para o respeito necessário. Como padre e Deputado, luto pela tolerância e contra a discriminação entre os diferentes. Ninguém pode ser alijado dos seus direitos por ser homossexual. Jesus de Nazaré mostrou que o respeito à dignidade humana é o remédio para combater a intolerância e a discriminação.....Os homossexuais nessa sociedade homofóbica são silenciados. Só se liberta dos preconceitos quem é capaz de restituir a palavra aos silenciados. A tolerância para com os homossexuais é antes de mais nada uma exigência ética. Ela representa o direito que deve ser reconhecido a cada pessoa.
Terceiro: A epidemia de AIDS é uma realidade que desafia a Igreja na sua moral. A moral é uma realidade prática que tem conseqüências. Nos confrontamos constantemente entre a Moral Ideal pregada pela Igreja e a realidade. O ideal da moral da Igreja deve ser vista como metas para onde se orientar. Nessa perspectiva, ninguém se sente culpabilizado ou desobediente por não realizar o proposto, mas sabe para onde se dirigir. O ideal seria que ninguém se contaminasse com a AIDS, mas a realidade é outra. Devido ao número crescente de pessoas vítimas de doenças sexualmente transmissíveis, o preservativo entra como uma questão de saúde pública, como é o caso da gravidez na adolescência. Lembro-me de uma entrevista que o Cardeal Arns disse nos anos noventa que o preservativo era um mal menor. No entanto o cardeal, em nenhum momento desrespeitou a doutrina da Igreja.
Inacreditável
Em pleno século XXI ainda existem pessoas que desrespeitam e insistem em negar direitos básicos da convivência humana, a liberdade de expressão, de idéias.
À Igreja Católica cabe repensar esta proibição e sua doutrina, pois em tempos modernos o uso da camisinha é essencial para a saúde humana, sim. Além disso, todos somos iguais perante a lei de Deus e dos homens.
Fonte: Jornal do Brasil
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