terça-feira, 14 de junho de 2011

A Teologia da Libertação no Brasil

Gustavo Gutiérrez confessou várias vezes que as intuições originárias da Teologia da Libertação nasceram no Brasil da década de 60.

Reinava no país duplo fato de crescente dominação, aguçada pelo regime militar, e de ampla reação contra tal situação, especialmente no mundo universitário e em setores populares, alimentados pela pedagogia de Paulo Freire e pelos movimentos sociais.

Este choque permitiu pensar a libertação. A Igreja do Brasil aí presente o fez em termos de fé. E assim interpretou o Concílio Vaticano II de maneira original, renunciando definitivamente reproduzir uma teologia que fosse mero reflexo da europeia.


Maneira simples de definir a teologia da libertação é relacioná-la com a práxis libertadora dos pobres.

Plataforma fundamental para lançar ao ar diferentes expressões teológicas. Ela existe com o duplo propósito: realizar cristãmente a libertação dos pobres e nesse empreendimento pensar a fé cristã.

Articula vida, práxis e ação transformadora com fé, reflexão teológica e experiência de Deus. Dois universos se conectam.


Com o uso de cinco preposições estabelecemos a relação entre a ação libertadora com a fé. Ela é teologia da práxis: assume dela a matéria de sua reflexão.

Privilegia as perguntas teológicas que surgem da prática libertadora do cristão. Em vez de prender-se a questões abstratas ou a interesses puramente especulativos, escolhe os problemas que a prática da libertação do pobre e de todo oprimido levanta.


É teologia na práxis. Quem a pensa e produz, assume compromisso concreto de libertação. Está com a mão na massa. Aproxima-se e engaja-se no processo de libertação, para ser por ele estimulado, questionado.


É teologia para a práxis. A sua reflexão orienta-se a oferecer elementos de reflexão para os cristãos que nela estejam. Resolve-lhes os problemas que a práxis provoca em relação à fé. Aponta-lhes o seguimento de Jesus como modelo de compromisso.


É teologia pela práxis. Deixa-se criticar por aqueles que estão engajados para que não seja teologia alienada. A vida do cristão na práxis se faz instância crítica da teologia.

No fundo, a caridade da ação libertadora critica a fé, purificando-a de restolhos conservadores e descolados da realidade do pobre.


Finalmente, é teologia motivada pela práxis da opção pela libertação dos pobres. Não se alinha na perspectiva do puro interesse acadêmico.

O teólogo não se move a escrevê-la para debater questões com os colegas de métier. Mas a situação de opressão a pedir libertação leva-o a empenhar-se nesse tipo de teologia.


As comunidades eclesiais de base realizavam no coração da Igreja o projeto libertador que tal teologia elaborava.

Elas são a face primordial e prática do que a teologia da libertação realiza em nível de pensamento, de reflexão.

As CEBs vivem a teologia da libertação e esta se alimenta principalmente da vida e atividade das CEBs.

Entre ambas reinam harmonia, estímulo, mútuo enriquecimento. Enquanto houver CEBs, haverá teologia da libertação e vice-versa. A atualidade de ambas se conectam.


J. B. Libanio

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