quinta-feira, 2 de junho de 2011

Perfil do novo presidente da CNBB

Em 13 de maio de 2011, o Cardeal Raymundo Damasceno Assis assume a Presidência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, para a qual foi eleito pela 49ª Assembléia Geral Ordinária deste Organismo episcopal. O novo Presidente é arcebispo de Aparecida do Norte e até o mês de julho do corrente ano prossegue como Presidente do Conselho Episcopal Latino-Americano – CELAM. Seu mandato se estenderá pelos próximos quatro anos, no decorrer dos quais estão previstos acontecimentos e celebrações de especial relevância para a Igreja no Brasil e até mesmo para a totalidade da Igreja Católica Apostólica Romana.

Em 2012 a CNBB completa 60 anos de fundação (outubro de 1952) e durante o próximo quadriênio estará realizando sua 50ª Assembléia Geral Ordinária: um jubileu que pode representar um momento especial de graça e uma oportunidade ímpar para que a Igreja no Brasil aprofunde e projete estrategicamente sua atuação em um país chamado a desempenhar nas próximas décadas um novo papel não apenas em termos de América Latina, mas provavelmente também em nível intercontinental.

Em 2012 a Igreja celebra os 50 anos da abertura do Concílio Vaticano II, que segundo as palavras do Papa João XXIII foi convocado, “por inspiração divina”, com o objetivo de fortalecer a Igreja para os embates das últimas décadas do século XX, e de prepará-la ao mesmo tempo para os desafios das primeiras décadas do século XXI, tendo como diretriz fundamental sua renovação constante sempre devotada ao aperfeiçoamento de seu desempenho pastoral em coerência e consonância com o Desígnio divino de salvação.

O Concílio Vaticano II – que representou uma primavera esplendorosa na vida da Igreja – encontrou na Igreja do Brasil um terreno fértil. A implantação sistemática das diretrizes deste Concílio conferiu uma nova fisionomia a esta Igreja, ensejando que ela empreendesse de maneira progressiva e criativa, um vasto programa de educação de fé mais adulta entre seus fiéis, levando em conta a profunda religiosidade popular que caracteriza a maioria esmagadora do povo brasileiro. Essa iniciativa de educação da fé foi acompanhada da criação de estruturas flexíveis e inovadoras capazes de assegurar, numa atitude de serviço, o êxito renovador desse empreendimento eclesial, que optou por priorizar sua ação pastoral junto às camadas de base da população, especialmente daquelas menos favorecidas em termos econômicos, socais e políticos. Depois de passar por outonos e invernos as diretrizes deste Concílio podem representar hoje para a Igreja uma nova e pujante primavera no alvorecer do século XXI.

Em coerência com a índole essencialmente católica da Igreja, o Concílio Vaticano II lançou as bases para garantir que as novas estruturas eclesiásticas pudessem acompanhar as exigências de uma humanidade dotada de relacionamentos mais intensos e mais céleres, numa dimensão cada vez mais planetária. Essas estruturas, porém, são por sua natureza suportes aos objetivos da missão pastoral da Igreja.

Três desses objetivos merecem ser realçados. Em primeiro lugar a Igreja é o sacramento (sinal visível e eficaz) da realização do Desígnio divino de salvação no seio da história humana. Sua missão é construir a comunhão e a unidade de todos quantos acolhem na fé o mistério de Cristo, que é o único Mediador entre Deus e os homens (1Tm. 2, 5). Em segundo lugar é missão da Igreja levar esta boa nova do Evangelho a todas as nações, ensinando-as a acolher e observar tudo que o Senhor lhe comunicou (Mat. 28,20). Em terceiro lugar faz parte da missão da Igreja prestar um serviço à humanidade, ajudando-a a aperfeiçoar a obra da criação, ao promover a justiça e a paz pelo seu ensinamento, pelo seu testemunho e pela sua atuação, fomentando os valores da fraternidade, da partilha dos recursos da criação, de respeito à vida e aos seres vivos do Planeta. Com efeito, o mistério de Cristo o constitui como Primogênito de toda a criação, pois aprouve a Deus fazer habitar nele toda a Plenitude da Divindade e por ele reconciliar todos os seres, tanto na terra como nos céus (Col. 1. 15-20).

A missão do bispo é liderar a Igreja para a consecução desses três objetivos, sobretudo, de maneira colegiada. Com efeito, a constituição dogmática Lumen Gentium do Vaticano II deixa claro que o bispo é antes de tudo membro do colégio episcopal em comunhão com o sucessor de Pedro e a serviço de toda a Igreja. Em segundo lugar ele é chamado a exercer esta missão no exercício da função específica que lhe é confiada, seja no pastoreio de uma Igreja particular, seja no exercício de uma função supra-diocesana que lhe for conferida, seja simultaneamente numa conjugação desses dois tipos de funções eclesiais.

É dentro desse contexto histórico da Igreja ao longo das últimas décadas e da fundamentação explicitada pelo Vaticano II, à luz das Sagradas Escrituras e da tradição eclesial, máxime da tradição dos Padres da Igreja nos primeiros séculos do cristianismo, que se pode apreciar o perfil do atual Presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, o cardeal Raymundo Damasceno Assis.

Desde sua ordenação episcopal esse cardeal tem demonstrado seu inarredável compromisso com os três objetivos fundamentais da missão da Igreja no exercício das funções que lhe foram assinaladas pelo sucessor de Pedro, primeiramente na capital da República e em seguida na arquidiocese de Aparecida do Norte, que representa para os fiéis católicos a capital religiosa do Brasil. No exercício deste seu ministério, além de sua fidelidade a sua missão de pastor tem primado na sua atitude de escutar a comunidade dos féis, bem como o ponto de vista de todos aqueles e aquelas envolvidos no seu raio de atuação.

“Para a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil é providencial contar nesses próximos quatro anos com um Presidente cujo perfil é caracterizado pela afirmação contundente de seu estilo colegial; pela sua capacidade de auscultar e discernir os anseios de todos e de todas diretamente envolvidos no raio de ação de seu ministério episcopal; pela sua clarividência em buscar assessorias capazes de lhe fornecer subsídios valiosos para suas decisões e atuação na qualidade de pastor”, escreve Raimundo Caramuru Barros.


Uma segunda característica de seu ministério é sua capacidade de estabelecer uma vasta rede de assessores relevantes para o exercício de seu múnus episcopal, buscando assim fundamentar mais solidamente suas decisões sempre em coerência com sua missão de pastor para o fortalecimento na fé de todos que se encontram, de uma ou outra maneira, vinculados aos seus cuidados pastorais.

Para a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil é providencial contar nesses próximos quatro anos com um Presidente cujo perfil é caracterizado pela afirmação contundente de seu estilo colegial; pela sua capacidade de auscultar e discernir os anseios de todos e de todas diretamente envolvidos no raio de ação de seu ministério episcopal; pela sua clarividência em buscar assessorias capazes de lhe fornecer subsídios valiosos para suas decisões e atuação na qualidade de pastor.

Raimundo Caramuru Barros

Fonte: IHU


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