O mais conhecido defensor da Teologia da Libertação diz que momento é de cuidar do Planeta, que sofre com os erros do homem |
Entrevista com Leonardo Boff Convidado para ministrar palestra durante a 3ª Semana do Meio Ambiente, o escritor e teólogo Leonardo Boff apresentou sua visão sobre o caminho tomado pela humanidade que contraria as necessidades ambientais. Ele prega que ainda há como contornar a situação, desde que exista boa vontade e orientação da sociedade. Boff ainda diz temer os rumos que estão sendo ditados pelos chefes de Estado. Ele diz ainda que faz parte da “Ecoteologia da Libertação”. Qual o foco que o senhor tem dado em suas palestras? A discussão gira em torno da sustentabilidade. Sobre quais processos e iniciativas devemos tomar em nível global que permitam que a vida possa ser conservada e curada, porque estamos doentes. Todos os itens do planeta: a terra, água, os animais e o ar estão piorando ano pós ano. Não temos sustentabilidade. Nós, seres humanos, temos a missão de sermos os cuidadores da natureza. Temos que ajudar a recuperar a saúde e preservar a água, as florestas e o ar. Tudo isto está envolto na sustentabilidade que deve ser debatida dentro de uma constante.
De que forma a comunicação está envolvida nesse processo de promover a sustentabilidade? Eu creio que a comunicação é mais efetiva quando ela parte de exemplos concretos de empresas e grupos que garantem a sustentabilidade. Por todas as partes do mundo está havendo um movimento de cultivo de sementes, na agricultura familiar, sem o uso das máquinas, com proteção de águas com a mata ciliar, usando também lixo na reciclagem. Há mil formas do ser humano reutilizar o que foi usado. Se fizermos isso chegaremos àquilo que a sustentabilidade quer: o equilíbrio entre natureza e ser humano. A natureza quando preservada ela nos dá tudo para viver.
De que forma a sustentabilidade pode trazer um novo pacto em relação a produção industrial e o desenvolvimento, levando em consideração a preservação da natureza? Uma coisa que está ficando clara é que assim como está nós não podemos continuar. O modo de produção vigente no mundo implica a dominação da natureza, devastação dos recursos, gasto excessivo da água que já falta a mais de um bilhão de pessoas. Nós devemos produzir, pois devemos atender as demandas humanas, mas devemos fazer isso respeitando os ciclos da natureza e os ecossistemas, além de dar o tempo para a terra se recuperar. Por isso temos que regular o nosso consumo. Temos que passar de uma sociedade industrial e de produção para uma sociedade de preservação para toda vida. Podemos usar as tecnologias, mas onde o centro não é o lucro ou a acumulação, mas sim a vida e a humanidade.
As últimas conferências de cúpulas globais trazem respostas concretas para a questão? Eu participei da conferência de Cancun e sai profundamente desolado. Parecia que os 192 chefes de Estado representantes de nações estavam unidos numa guerra contra a Terra. Sabendo que dessa guerra não sairemos vencedores, sendo que a Terra pode continuar sem nós, mas os seres não vivem sem ela. Eles não tomaram nenhuma medida clara e deixaram tudo para a reunião no final do ano, na África do Sul. Resolveram criar um fundo para ajudar os países a reduzir suas agressividades com relação à natureza, não estabeleceram metas para diminuir o aquecimento. O tempo do relógio corre contra nós. Se não tomarmos agora as medidas poderá vir aquilo que se chama aquecimento abrupto. Aí será uma catástrofe mundial das espécies e milhões de pessoas poderão morrer em semanas. Temos que ter sabedoria e usar nossa inteligência para moderar a voracidade e aprender a tratar a terra de uma maneira diferente. A terra é viva, é o útero que nos gerou, ela é mãe e devemos tratá-la como tal.
De que forma autóctones e povos do Brasil podem ajudar a população da cidade a pensar um novo pacto com natureza? Os povos indígenas... Eu visitei muitos deles. Eles têm muitas lições a nos dar. Eles têm um trato profundo de respeito à natureza. Na America Latina, nas culturas andinas, criaram há séculos a categoria do bem viver, que significa estar em harmonia, na família, com a sociedade, entre árvores e a terra, produzindo o suficiente para todos. E quando a terra não consegue dar temos que trabalhar e organizar para distribuir para todos o suficiente. Parece uma utopia - na verdade é - mas uma utopia necessária, porque a humanidade caminha nessa direção, e vamos fazer dizer que a Terra é pequena e tem esses recursos para população como podemos atender a todos, aí vamos ter uma democracia planetária. Se não fizermos isso vamos ao encontro do pior.
Como foi a passagem do senhor das lutas dentro da teologia para as questões ecológicas? A Teologia da Libertação parte dos pobres e oprimidos. Descobrimos que a mesma lógica que cria os oprimidos humanos trabalhadores, é a mesma que oprime os ecossistemas e o planeta. Então o grande pobre é a Terra. A marca distintiva da Teologia da Libertação é a opção pelos pobres, contra a pobreza em favor da vida e da liberdade. Hoje dentro dos pobres colocamos o grande pobre, significa opção pela terra, sua proteção e sua vida, para que todos possam caber dentro dela. Chamamos de uma Ecoteologia da Libertação. Desde os anos 80 eu vinha militando sozinho de forma quase anônima, e hoje é o discurso dominante das igrejas e da própria Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Todas as universidades, saberes e instâncias devem dar sua contribuição para o sistema vida, porque ele está verdadeiramente ameaçado e se não fizermos o suficiente podemos desaparecer da face da Terra, até que daqui a milhões de anos apareça outro ser evoluído capaz de suportar o espírito e consciência para uma nova trajetória. Nós não queremos que chegue a isso. Temos ciência, consciência e responsabilidade e podemos transformar essa tragédia, mas a crise nos purifica e vamos em busca de algo melhor porque a vida sempre mostrou que é mais forte que a morte. Carlos Eduardo Rosa |
terça-feira, 7 de junho de 2011
“O homem está doente”
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