segunda-feira, 2 de maio de 2011

Pernambuco: Odebrecht tenta destruir a tradicional Festa da Lavadeira




“Ela tem demonstrado uma capacidade de resistência muito grande. Apesar de todo o descaso e, às vezes, perseguição, ela continua a existir e persistir no nosso país. Eu acredito que a cultura popular dá a todos nós um grande exemplo, e temos que aprender muito ainda com ela.”

(Ariano Suassuna)

CARTA DE APOIO

Nós, fazedores de cultura, artistas, ilês, entidades representativas e cidadãos paraibanos aqui representados repudiamos as atitudes nefastas e inconseqüentes protagonizadas pela multinacional Odebrecht e a decisão do Ministério Público Pernambucano em restringir a realização da Festa da Lavadeira (PE), bem como toda a cadeia produtiva responsável pelas tentativas de calar o povo e sua cultura, maior ferramenta de resistência do ser humano.

Há 25 anos na praia do Paiva, Cabo de Santo Agostinho-PE, acontece a Festa da Lavadeira, manifestação legítima e orgulhosamente popular, considerada o maior encontro de grupos tradicionais do Nordeste. Realizada sempre no dia 1º de maio, a festa também representa uma grande celebração e reflexão das demandas do mundo do trabalho.

A Festa da Lavadeira tem uma grande importância no processo de resistência popular, de fortalecimento da identidade do povo e sua autonomia, de resgate das tradições orais, de manifestação da fé. Todo dos esses elementos antes garantidos por todas as esferas da lei, hoje são silenciados ao se depararem com o poder do capital multinacional.

Assim como muitas áreas do litoral nordestino, a praia do Paiva vem sofrendo com os vários impactos ambientais e socioculturais do processo de privatização pela especulação imobiliária, que toma do povo espaços que lhes são de direito. Na tentativa de tornar a praia “menos popular” a Odebrecht, multinacional que vem impondo seus interesses de modo violento - cercando a área com arame farpado, contratando capangas, espalhando vidro no tradicional banho de lama da festa, entre outras atrocidades – e, atropelando a lei municipal que garante a realização da festa (Lei nº 2015/2022), conseguiu, junto ao Governo e Ministério Público Pernambucano, restringir a realização da Festa da Lavadeira para apenas o seu aspecto religioso, minando todo o evento.

Para o povo, a festa representa um espaço importante de trocas de conhecimentos, a maior referência de resgate, valorização, resistência e difusão da cultura popular, sobretudo no que tange as manifestações culturais de matriz africana e indígena.

Comprometidos com o processo democrático, reconhecemos que a Festa da Lavadeira contribui para o fortalecimento de grupos de cultura popular de todo o país, sobretudo do nordeste, seja através da divulgação e valorização dos mesmos, seja através da promoção de intercambio real entre os grupos e estados.

Exigimos do poder público o respeito devido às manifestações populares, acreditando na cultura como a grande forma de expressão o povo e com a certeza de que essa perda não é só do povo pernambucano, mas sim todo o movimento de fortalecimento da identidade cultural brasileira.

Solidários, assinam,

Ateliê Multicultural Elioenai Gomes

Grupo Zumbi de Cultura Popular

Grupo Raízes de Ritmos Afroindígenas

Centro Popular de Cultura

Escola Mukambu de Capoeira Angola

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