Nota da CPT Ceará pelo assassinato de José Claudio Ribeiro da Silva, Maria do espirito Santo Silva e Adelino Ramos.
A Romaria dos Mártires aumentou!
A Romaria dos Mártires aumentou!
“Se me matarem, ressuscitarei nas lutas do meu povo”
(D. Oscar Romero)
O ano de 2010 foi marcado por muitos assassinatos de lideranças camponesas. O Caderno de Conflitos no Campo Brasil, da CPT, registrou 34 assassinatos.
Recentemente, foi com profunda tristeza e igual indignação que recebemos a notícia do assassinato de mais três companheiros que, após várias ameaças, tiveram suas vidas ceifadas:
• No dia 24 de maio, os ambientalistas JOSÉ CLÁUDIO RIBEIRO DA SILVA e sua esposa MARIA DO ESPÍRITO SANTO SILVA, foram assassinados a tiros no interior do Projeto de Assentamento Extrativista, Praia Alta Piranheira, no município de Nova Ipixuna, sudeste do Pará.
• No dia 27 de maio, foi ADELINO RAMOS, o Dinho, sobrevivente do massacre de Corumbiara, assassinado pela manhã, no distrito Ponta de Abunã, município de Porto Velho, em Rondônia.
Os motivos? A luta pela justiça, a defesa da floresta e dos direitos de seus povos. Preocupa-nos, cada vez mais, a ação de fazendeiros e madeireiros, bem como de outros grupos do grande capital, que ameaçam aqueles que levantam a voz contra as injustiças e preocupa-nos, ainda mais, a omissão e o descaso dos governos em garantir a segurança destas pessoas ameaçadas. Os representantes políticos, que ocupam os mais diversos cargos, em todas as instâncias, deveriam agir no sentido de coibir estes crimes e não o fazem. Assim, não são somente omissos, mas também coniventes, pois fazem concessões e criam leis favoráveis a latifundiários e madeireiros que desmatam, expulsam comunidades, perseguem e assassinam lideranças que se colocam ao lado dos mais pobres.
A violência Deus condena e, aqueles que a praticam, de maneira especial contra os mais pobres e indefesos, pagarão caro. A história de impunidade vai se repetindo. Somente numa semana, assassinaram três companheiros e, muito provavelmente, os mandantes e executores permanecerão impunes. Quando muito, serão condenados os executores, mas os mandantes, os “grandes do crime”, seguirão livres fazendo mais vítimas desta ganância por dinheiro e assalto às riquezas naturais.
Indigna-nos este fato e perguntamos até quando viveremos numa sociedade onde manda e desmanda quem tem dinheiro e, aqueles que detêm o poder político, não têm a mínina capacidade e vontade de promover a paz e a justiça.
A tristeza toma conta de nós, mas a morte destes companheiros fortalece a nossa indignação e o nosso compromisso com os camponeses e camponesas. Daremos continuidade à luta destes nossos irmãos e desta nossa irmã, exigindo justiça e punidade para os criminosos, para que outros/as companheiros/as não venham a ter suas vidas tiradas de forma tão brutal.
A Romaria dos Mártires aumentou... Seguem agora José Cláudio, Maria do Espírito Santo e Dinho. Seu martírio é fonte de testemunho vivo e vivificador, pois morreram defendendo a vida dos pobres, os preferidos de Deus, e a da natureza, a criação de Deus.
Fazemos nossas as palavras do Profeta Miquéias: “Escutem, líderes e autoridades do povo! Vocês que deviam praticar a justiça e, no entanto, odeia o bem e amam o mal. Vocês tiram a pele do meu povo e arrancam a carne dos seus ossos. Vocês devoram o meu povo: arrancam a pele, quebram os ossos e cortam a carne em pedaços, como se faz com a carne que vai ser cozinhada” (Mq, 3,1-3). Mesmo quando não o fazem diretamente, mas deixam de agir quando deveriam a fim de coibir e punir os criminosos do povo, trazem para si a mesma responsabilidade.
O sangue destes companheiros e desta companheira regou o chão e fará crescer a planta a justiça, cujo fruto é a paz (Is. 32,17). Eles permanecem vivos em nossas vidas, em nossas lutas.
A CPT Ceará se solidariza com os familiares de José Cláudio, Maria do Espírito Santo e Adelino Ramos, ao mesmo tempo em que se une na luta pela justiça.
Fortaleza, 30 de Maio de 2011
Comissão Pastoral da Terra
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“Como a terra faz desabrochar suas sementes, Deus fará germinar a justiça diante de todas as nações’ (cf. Isaias, 61,11). Comissão Pastoral da Terra
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Declaração de repúdio ao assassinato do casal
de extrativistas no estado do Pará
de extrativistas no estado do Pará
A Comissão Episcopal Pastoral para o Serviço da Caridade, da Justiça e da Paz - CNBB se une às inúmeras manifestações de repúdio ao brutal assassinato do casal Maria do Espírito Santo da Silva e José Cláudio Ribeiro da Silva, líderes camponeses, ocorrido na manhã desta terça-feira, 24 de maio, em Nova Ipixuna, sudeste do Pará.
Conhecido por sua liderança no projeto de assentamento agroextrativista Praialta-Piranheira, criado em 1997, e na associação de camponeses da região, o casal ganhou o respeito e a admiração de todos na região por sua bravura na denúncia da ação de madeireiros ilegais na floresta amazônica.
A declaração feita, em novembro de 2010, diante de mais de 400 pensadores de diversas áreas do conhecimento sob o tema da qualidade de vida no planeta, nos dá uma dimensão da luta e do comprometimento de José Cláudio com a ecologia:
Vivo da floresta, protejo ela de todo jeito, por isso vivo com a bala na cabeça a qualquer hora porque eu vou pra cima, eu denuncio. Quando vejo uma árvore em cima do caminhão indo pra serraria me dá uma dor. É como o cortejo fúnebre levando o ente mais querido que você tem, porque isso é vida pra mim que vivo na floresta e pra vocês também, que vivem nos centros urbanos.
O assassinato de Maria e José Cláudio, com repercussão internacional, traz à memória Chico Mendes e Ir. Dorothy, vítimas do mesmo poder econômico que avança sobre as florestas. A violência que mata estas lideranças em nosso país, evidencia a urgência de um modelo de desenvolvimento que respeite e promova a riqueza das culturas tradicionais na proteção, convivência e produtividade dos povos da floresta. Este pensamento foi expresso pela CNBB ao afirmar que:
“Organizar um processo produtivo que efetive a solidariedade e harmonize as sociedades atuais com as gerações futuras e com o meio ambiente é o desafio de um novo paradigma para a questão agrária no início do século XXI”. (cf. Doc. 99, Estudos da CNBB, nº 235-236).
Em nome das Pastorais Sociais e dos Organismos a ela vinculados, a Comissão Pastoral para o Serviço da Caridade, da Justiça e da Paz - CNBB manifesta sua solidariedade às comunidades da diocese de Marabá, ao povo de Nova Ipixuna e aos familiares do casal Maria e José Cláudio. Exige, ao mesmo tempo, a apuração imediata dos crimes com a consequente punição dos culpados, bem como a proteção a todas as lideranças camponesas ameaçadas de morte, para que floresça a justiça em nosso país.
Brasília, DF, 26 de maio de 2011.
Dom Guilherme Antônio Werlang - MSF
Presidente da Comissão Episcopal Pastoral
para o Serviço da Caridade, da Justiça e da Paz
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