A partir da Quarta-feira de cinzas, a Igreja inicia o tempo da Quaresma, em preparação à Páscoa. Em sua Mensagem para Quaresma, com o tema “Sepultados com Ele no batismo, foi também com Ele que ressuscitastes” (Cl.2,12), o papa Bento XVI cita a importância do Batismo na vida do cristão e a Quaresma como uma ocasião para essa reflexão.
“Um vínculo particular liga o Batismo com a Quaresma como momento favorável para experimentar a Graça que salva”, diz Bento XVI, num dos trechos da mensagem. E ainda: “O Batismo não é um rito do passado, mas o encontro com Cristo que informa toda a existência do batizado, doa-lhe a vida divina e chama-o a uma conversão sincera, iniciada e apoiada pela Graça, que o leve a alcançar a estatura adulta de Cristo. A Igreja associa a Vigília Pascal à celebração do Batismo: neste Sacramento realiza-se aquele grande mistério pelo qual o homem morre para o pecado, é tornado partícipe da vida nova em Cristo Ressuscitado e recebe o mesmo Espírito de Deus que ressuscitou Jesus dos mortos (Rm.8,). Este dom gratuito deve ser reavivado sempre em cada um de nós e a Quaresma oferece-nos um percurso .. que é uma escola de fé e de vida cristã insubstituível”.
No texto, o papa afirma ainda a importância da palavra de Deus como direção para viver “com o devido empenho este tempo litúrgico precioso. Para empreender seriamente o caminho rumo à Páscoa e nos prepararmos para celebrar a Ressurreição do Senhor, a festa mais jubilosa e solene de todo o Ano litúrgico, o que pode haver de mais adequado do que deixar-nos conduzir pela Palavra de Deus?”.
O papa ressalta em sua mensagem que “através das práticas tradicionais do jejum, da esmola e da oração, expressões do empenho de conversão, a Quaresma educa para viver de modo cada vez mais radical o amor de Cristo. O Jejum, que pode ter diversas motivações, adquire para o cristão um significado profundamente religioso: tornando mais pobre a nossa mesa aprendemos a superar o egoísmo para viver na lógica da doação e do amor; suportando as privações de algumas coisas, e não só do supérfluo, aprendemos a desviar o olhar do nosso “eu”, para descobrir Alguém ao nosso lado e reconhecer Deus nos rostos de tantos irmãos nossos.
Para o cristão o jejum nada tem de intimista, mas abre em maior medida para Deus e para as necessidades dos homens, e faz com que o amor a Deus seja também amor ao próximo (Mc 12,31).
No nosso caminho encontramo-nos perante a tentação do ter, da avidez do dinheiro, que insidia a primazia de Deus na nossa vida. A cupidez da posse provoca violência, prevaricação e morte: por isso a Igreja, especialmente no tempo quaresmal, convida à prática da esmola, ou seja, à capacidade de partilha. A idolatria dos bens, ao contrário, não só afasta do outro, mas despoja o homem, torna-o infeliz, engana-o, ilude-o sem realizar aquilo que promete, porque coloca as coisas materiais no lugar de Deus, única fonte da vida.
O papa conclui sua mensagem pedindo que “renovemos nesta Quaresma o acolhimento da Graça que Deus nos concedeu naquele momento, para que ilumine e guie todas as nossas ações”. Tudo o que o Sacramento significa e realiza, somos chamados a vivê-lo todos os dias num seguimento de Cristo cada vez mais generoso e autêntico. Neste nosso itinerário, confiemo-nos à Virgem Maria, que gerou o Verbo de Deus na fé e na carne, para nos imergir como ela na morte e ressurreição do seu Filho Jesus e ter a vida eterna.
Campanha da Fraternidade e a vida no Planeta
As mudanças climáticas em curso no Planeta, provocadas pelo aquecimento global, afetam todas as forma de vida, dentre as quais a vida das populações mais pobres, obrigando-nos a repensar sobre o modelo de sociedade, as matrizes energéticas, os modos de produção e de consumo. Sendo assim podemos afirmar que humanidade está colhendo os frutos do desenvolvimento centrado na economia de mercado capitalista, e da ideologia que o acompanha.
A primazia do capital, absurdamente concentrado e monopolista, promove um consumismo que leva as pessoas a pensar que só valem pelo que têm. Por esse caminho, os recursos naturais estão quase esgotados, e a poluição da atmosfera faz com que a Terra já não consiga manter em equilíbrio o ambiente da vida. Como resultado, parte significativa da humanidade não tem acesso aos bens necessários à vida, enquanto poucos concentram quase toda a riqueza.
A crise financeira capitalista atual não se reduz aos desajustes financeiros mundiais que, sob o pretexto de evitar a quebra da economia mundial, exige dos governos socorro aos banqueiros, enquanto que aos pobres recaem os sacrifícios. Esta crise tem tudo a ver com a crise ecológica e ética que se aprofunda em todos os âmbitos da vida. A humanidade está experimentando uma “mudança de época”. A civilização do ter, do negociar, do concorrer, do lucro a qualquer custo, do progresso ilimitado, não responde aos anseios da humanidade e não é sustentável (Mudanças Climáticas, profecia da terra, CNBB).
Por outro lado, vários setores da sociedade se articulam para construir outro mundo, outra civilização, fundada em valores e formas de convivência, que defendem e promovem todas as formas de vida, e que cuidam amorosamente da Terra, mãe da vida, casa comum dos seres humanos. Essa nova atitude, proclamando a esperança dos pobres e ecoando o grito da terra, tem se concretizado em diversas Campanhas da Fraternidade, no Fórum Social Mundial realizado em Belém, no 12º Intereclesial das CEBs, e agora na CF de 2011.
O Texto-Base da Campanha deste ano que tem como tema “Fraternidade e a Vida no Planeta” e o Lema: "A criação geme em dores de parto" (Rm 8, 22), focaliza a problemática do aquecimento global, suas consequências em nosso planeta e as atividades do ser humano que estão ocasionando ou no mínimo contribuindo para esta situação no planeta. Ao suscitar preocupações para com a situação em que se encontra o planeta e com os rumos de nossa sociedade, percebemos que ela resulta em maiores dificuldades à vida dos mais necessitados e põe em risco as condições futuras para a vida no planeta.
A reflexão de que esta questão foi agravada pela nossa civilização industrial, e vem se agravando pelo estilo de vida altamente dispendioso em materiais e energia que tende a se difundir, que degradam os bens do planeta e comprometem a sua “saúde”, nos conduz a ações concretas. A solução para que ao menos seja contido o aquecimento global dentro de patamares suportáveis, não é tão simples. É de caráter global, passa por um grande acordo entre as nações, por sacrifícios, especialmente das nações mais ricas e maiores emissoras, por melhores condições de vida de nações inteiras que ainda se encontram em condições de miséria e fome, pela diminuição do apetite de crescimento das empresas, das nações, por inovações em várias áreas que permitam uma pegada ecológica menor. O que certamente resultará na diminuição das emissões de gases de efeito estufa.
Enquanto Igreja, conscientes do papel das comunidades que a compõem, no contexto do Reino, devemos nos revestir da atitude que levou o bom samaritano a reclinar-se sobre aquele sofredor, para que com a força e sabedoria do Espírito, e nos empenhar nesta causa, pois, afinal de contas, “Toda a criação, até o presente, está gemendo como que em dores de parto” (Rm 8, 23).
Dom Frei Moacyr Grechi, OSM - Arcebispo Metropolitano de Porto Velho, Nascido em Turvo (SC) em 19 de janeiro de 1936. Ordenado sacerdote em 29 de julho de 1961 Eleito Bispo em 17 de julho de 1972. Nomeado Arcebispo de Porto Velho em 29 de julho de 1998. Tomou posse como Arcebispo em 08 de novembro de 1998, escreve semanalmente a coluna "A VOZ DO PASTOR" no jornal Estadão do Norte e é colaborador do site Gentedeopinião.
E-mail: arquidiocese@arquidiocese.com.br
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