Após trinta anos do martírio de Franz de Castro Rolzwarth, que aconteceu dia 14 de fevereiro de 1981, na cidade de Jacareí, a Igreja Católica vive a expectativa de sua canonização.
A causa da canonização de Franz de Castro trouxe para as comunidades cristãs e para a sociedade do Vale do Paraíba uma oportunidade de reflexão. O processo instaurado pelo Vaticano reivindicou em definitivo que esta causa seja tratada dentro do campo da Teologia e também com a compreensão sociológica do contexto histórico. No campo teológico porque este é o campo próprio das afirmações da fé, da afirmação da religiosidade e da Transcendência. No campo sociológico porque todas as convenções religiosas se constroem no social. Neste sentido o sociólogo cristão e católico, Otto Maduro, afirma: “Toda religião [...] é uma realidade situada num contexto humano específico: um espaço geográfico, um momento histórico e um meio ambiente social, concretos e determinados” (1983, p.70). Também colabora neste sentido o teólogo metodista Júlio de Santa Ana quando afirma que: “A teologia desde a práxis supõe também que a fé ajuda a interpretar aqueles contextos nos quais a práxis pastoral vai tomando forma” (1985, p. 64). E ele vai mais além: “[...] no catolicismo inclui pelo menos quatro elementos: a situação social, [...]; a memória da fé; a comunidade eclesial e a ordem do ministério que encontra sua culminância hierárquica no episcopado” (1985, p. 30).
A partir de uma reflexão teológica pode-se perceber que o martírio de Franz de Castro foi em defesa da Igreja, pois, também o teólogo Julio de Santa Ana apresenta que, em um trabalho pastoral, na defesa evangélica das pessoas, se faz real a defesa da Igreja de Cristo: “... já que Cristo, por seu Espírito, está no corpo que é Igreja [...] e que, portanto, essa relação entre o Espírito e o povo constitui hoje a realidade pastoral que deve se discernir e se indicar” (1985, p. 37).
Desta forma se faz claro o entendimento do pertencimento e da defesa que Franz de Castro fez da Igreja de Jesus Cristo, no seu gesto profundo de entrega, de martírio: Franz de Castro deu provas de uma espiritualidade humana revestida de uma ação pastoral divina, cujo ápice explica seu martírio. Buscou discernir bem sua missão de leigo ou consagrado. Optou pela entrega pessoal às necessidades do povo de Deus. Uma realidade da América Latina. Cumprindo assim uma opção evangélica.
No Documento de Aparecida, no. 220 o martírio é colocado como consequência de uma “entrega da vida” e de “uma vida apaixonada por Jesus-Vida do Pai, que se faz presente nos mais pequenos e nos últimos...” E ainda o DAp no. 396 faz uma exortação à Igreja Latino-Americana e Caribenha “que continue sendo, com maior afinco, companheira de caminho de nossos irmãos mais pobres, inclusive até o martírio”.
No martírio Franz de Castro assume uma mediação para solução de um conflito, um conflito social. Dialéticamente ele se coloca em proteção aos dois lados em conflito: protege os encarcerados, pelo próprio espírito da práxis pastoral praticada por ele, mas também se entrega no lugar do policial que era refém, um gesto cristão. Neste gesto Franz assume definitivamente sua missão profética, sua missão evangélica: “Felizes os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus” (Mt 5,9). E com seu martírio ele selou sua entrega total à causa do Reino de Jesus Cristo: “Quando foi que te vimos doente ou preso, e fomos te visitar? [...] Eu garanto a vocês: todas as vezes que vocês fizeram isso a um dos menores de meus irmãos, foi a mim que o fizeram” (Mt 25, 39-40). Em assim sendo, o próprio Cristo reconhece a santidade do Franz. Aqui só ficamos na expectativa do momento em que a Sagrada Congregação para a Causa dos Santos reconheça o martírio do Franz, porque nós, que o conhecemos pessoalmente, já o consideramos santo e mártir. Portanto nesta reflexão a Irmandade dos Mártires da Caminhada Latino-Americana vem manifestar seu entendimento que Franz de Castro morreu sim em defesa da Igreja de Jesus Cristo, bem como da fé em Jesus Cristo e Seu Evangelho.
Nivaldo Aparecido Silva
Teólogo
Paulo José de Oliveira
Sociólogo
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