sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

O conservador Papa João Paulo , será beatificado

Conservador, o papa João Paulo 2º lutou pela paz e condenou o uso da camisinha



Nos 26 anos em que esteve no Vaticano, João Paulo 2º fez campanha pela paz e pelos direitos humanos, aproximou a Igreja Católica de outras religiões e culturas, defendeu as liberdades individuais, mas condenou o uso de preservativos em uma época que viu surgir a Aids.

João Paulo 2º, que receberá o título de abençoado em sua beatificação em 1º de maio, confirmada nesta sexta-feira pelo Vaticano, foi o papa que mais beatificou (1.338 proclamados) e mais canonizou (482 santos) na história.

Nomeou mais da metade dos bispos do planeta e quase todos os cardeais eleitores do atual colégio cardinalício.

Nenhum outro papa realizou tantos encontros: mais de 18 milhões de peregrinos participaram de uma de suas 1.160 audiências e realizou 982 encontros oficiais com chefes de Estado.


O papa João Paulo 2º envia e-mail no Vaticano; ele era obcecado com a chegada do novo milênio e em como preparar a Igreja
O papa João Paulo 2º envia e-mail no Vaticano; ele era obcecado com a chegada do novo milênio e em como preparar a Igreja


Outro grande legado foi a alteração do rosário em outubro de 2002, pela primeira vez em nove séculos. Acrescentou mais um bloco de cinco mistérios (luminosos), ligados à vida pública de Cristo: o batismo de Jesus (ponto inicial de sua vida pública), a autorrevelação nas bodas de Caná (quando Jesus transformou água em vinho nessa cidade da Galileia), o anúncio do reino de Deus, a transfiguração (estado glorioso em que Jesus apareceu aos apóstolos no monte Tabor e ponto culminante de sua vida pública) e a instituição da eucaristia.

Os três blocos anteriores são gozosos, dolorosos e gloriosos. Os gozosos são rezados às segundas e aos sábados; os dolorosos, às terças e às sextas; os gloriosos, às quartas e aos domingos; os da luz, às quintas.

Nascido na Polônia comunista, Karol Josef Wojtyla teve o quarto maior pontificado da história do catolicismo. Foi considerado um militante anticomunista, que ajudou a derrotar as ditaduras socialistas do Leste Europeu e a esfriar a Guerra Fria.

Criticou as injustiças e desigualdades promovidas pelo capitalismo. Pediu a paz no Oriente Médio, condenou os atentados terroristas e opôs-se à invasão do Iraque, classificando-a de "imoral e injusta".

Na tentativa de preparar uma velha igreja para chegar ao novo milênio, João Paulo 2º adotou uma postura progressista socialmente, mas ao mesmo tempo conservadora religiosamente.


Ao mesmo tempo em que defendia veemente os direitos humanos, criticando, por exemplo, a globalização como instrumento de acentuação da desigualdade social e concentração de renda, era um inflexível moralista quanto à biotecnologia e à sexualidade.

Na encíclica "Sollcitudo Rei Socialis" (Preocupação com a Realidade Social), de 30 de dezembro de 1987, propunha uma nova ordem social, enfatizando problemas de distribuição de renda e políticas financeiras dos governos.

Porém a oposição à homossexualidade, ao aborto ou qualquer prática anticoncepcional (mesmo para o caso de prevenção à Aids), à fecundação artificial, à manipulação genética e à eutanásia lhe custou severas críticas de diversos setores da sociedade.

O registro dessa postura está nas encíclicas "Veritatis Splendor" (Esplendor da Verdade), de 6 de agosto de 1993, e "Evangeli um Vitae" (Evangelho da Vida), de 25 de março de 1995.

UNIDADE CATÓLICA

A virada do milênio foi uma espécie de obsessão para o papa. Uma de suas primeiras declarações ao sentar na cadeira de Pedro teria sido: 'Tive medo de receber esta nomeação'. A afirmação não decorria de insegurança pessoal, mas da consciência de que a igreja deveria enfrentar desafios apocalípticos na fronteira do milênio.

Essa preocupação estava presente em sua penúltima encíclica (carta papal), "Fides et Ratio" (Fé e Razão), de 14 de setembro de 1998, em que criticou a separação entre teologia e filosofia, que afirmava ser a marca do século 20.

A principal meta pessoal do Santo Padre foi manter a grande disciplina e o consenso diretivo de toda a instituição eclesiástica. Por uma igreja forte e coesa diante da cultura fragmentada e neoliberal, não permitia a dissensão teológico e exigiu cuidado redobrado quanto às liturgias sincréticas.

Em todo o mundo, as principais dioceses passaram a ser orientados por conservadores.

Chegou a polemizar ao apoiar grupos de extrema direita, como a Opus Dei.

No Brasil, por exemplo, reprimiu a Teologia da Libertação e tirou o vigor das CEBs (Comunidades Eclesiásticas de Base).


Como resultado, assistiu à queda do número de casamentos civis e religiosos, à fuga de fiéis para religiões híbridas e ao afastamento da juventude e dos acadêmicos universitários, que se aproximaram do secularismo, do ateísmo pragmático ou do neopaganismo emergentes.

GRANDE COMUNICADOR

Amante da poesia e da dramaturgia na juventude, Karol Josef Wojtyla cursou literatura e teologia. Duas de suas grandes habilidades eram a fluência em várias línguas (polonês, italiano, inglês, francês, alemão, espanhol, português e latim) e a diplomacia.

Viveu nos limites das culturas, viajou o mundo inteiro (125 países, em 104 viagens oficiais internacionais) e buscou uma aproximação das religiões em torno da fé, sem atuação política e condenando quem mata em nome de Deus.

Porém sua atuação contra o comunismo na juventude e sua quarta encíclica, Slavorum Apostoli (Os Apóstolos do Eslavos), deu-lhe fama de anticomunista.

Essa carta papal de 2 de junho de 1985 foi talvez seu primeiro gesto contundente e explícito em prol da derrubada do comunismo na Europa, que por coincidência caiu primeiro em sua pátria.

Também foi criticado por ter inclinação ao judaísmo, devido a seus amigos judeus na infância e adolescência na Polônia.

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