A Liturgia da Palavra deste primeiro domingo do ano litúrgico nas leituras de Isaías 2, 1-5, salmo 121 (122), Romanos 13, 11-14a e Mateus 24, 37-44, nos apresentam a necessidade de vigiar constantemente, pois não sabemos a hora em que o Senhor virá.
O Verbo vigiar denota observar atentamente, velar por, espreitar (1). Cristo exorta aos seus discípulos com a seguinte comparação: “se o dono da casa soubesse a que horas viria o ladrão, certamente vigiaria e não deixaria que a sua casa fosse arrombada”. Portanto, é necessário vigiar, estar observando atentamente.
Como e o que significa vigiar? Paulo escreve aos Romanos que “já é hora de despertar” (Rm 13,11). E completa: “despojemo-nos das ações das trevas e vistamos as armas da luz” (Rm 13,12). Vigiar é estar desnudado das ações ruins, das atitudes negativas da vida. Estas atitudes são o desrespeito para com o ser humano, para com a criatura, para com o meio ambiente. Ações das trevas são todas aquelas que praticamos e que cuja consequência acabam por prejudicar nossos irmãos e irmãs. Mas quais são as armas da luz que Paulo fala? Sãos os dons que o Senhor nos concede, bondade, amor, mansidão, respeito.
Vigiar significa estar atento as necessidades do meu irmão mais próximo. Às vezes a necessidade de minha irmã é apenas um ombro amigo. Um “oi”. Um simples “bom dia”.
Nesta semana que passou, o jornal Estadão divulgou que segundo a ONU as promessas de corte de CO2 (dióxido de carbono) realizada pelos países na cúpula de Copenhague no ano passado (2009) ficaram abaixo do necessário (2). O CO2 é o gás que mais contribui para o aquecimento global. (3) Este gás é jogado em toneladas na natureza por inúmeras indústrias internacionais de grandes marcas. Marcas que conhecemos e utilizamos. Será que estamos sendo atentos e vigilantes? Alguém pode afirmar que não é de sua responsabilidade tais conseqüências, mas sim dos grandes empresários. Engano. Pois, o que estou fazendo para reverter tal situação. Ensino meus filhos a reciclar a ‘caixinha’ de leite? Onde jogo a garrafa de refrigerante? O que faço com as roupas que não me servem mais?
Desperta, já é hora! Só assim poderemos como o profeta Isaías dizer: “Vamos subir ao monte do senhor, à casa do Deus de Jacó, para que ele nos mostre seus caminhos e nos ensine a cumprir sues preceitos” (Is 2,3).
Existe um provérbio popular que diz: “Os ignorantes, que acham que sabem tudo, privam-se de um dos maiores prazeres da vida: APRENDER”. Este aprender está extremamente correlacionado ao ato de vigiar, pois quem está observando tudo atentamente está aprendendo e quem está aprendendo só está pela razão de estar vigilante.
Conta-se uma estória que certo dia um leopardo estava a caçar pela floresta quando escutou ao longe uma algazarra de macacas. Mais do que de pressa correu e se colocou a espreitar atentamente aquelas três macacas. Porém, as macacas notaram a presença ameaçadora e rapidamente em poucos saltos, já estavam lá em cima da árvore, todas rindo por terem enganado o leopardo.
Após algumas horas o leopardo que não era nada bobo estirou-se debaixo da árvore e fingiu estar morto. As três macacas cansadas de pular de galho em galho se decidiram por ver o que aconteceu com o leopardo. No entanto, só uma desceu. Notando a suposta falência do felino fez sinal para as outras duas descerem que não haveria perigo. As outras duas se juntaram a macaca que já estava no chão a cutucar o leopardo. Como bem sabemos macacas adoram fazer uma festa. O leopardo no chão estirado foi um prato cheio para a festança. Puxavam os bigodes, as orelhas, o rabo; pulavam em cima até ficarem exaustas.
Repentinamente, o leopardo que não estava morto, deu um salto e comeu uma por uma das ignorantes macacas. (4)
A estória apresentada à cima aponta, justamente, para a intrínseca correlação que há entre vigiar e aprender que vimos no provérbio popular. Não basta só vigiar é necessário aprender. O leopardo não só vigiou as macacas, mas aprender um modo de facilmente derrotá-las.
Neste primeiro domingo do tempo do advento podemos pinçar da mesa da Palavra três verbos que poderão nos motivar a refletir melhor durante a semana. Subir, despertar e vigiar. Este três verbos apontam para outro verbo aprender. Seremos ignorantes se não aprendermos continuamente e aprendendo estaremos despertos e vigilantes para então subir ao monte do Senhor e cantar: “Que alegria quando me disseram: ‘Vamos à casa do Senhor! ’ ”(Sl 121).
Ir à casa do Senhor significa ir ao encontro do irmão e da irmã, sair de minha casa e dispor-me a caminhar atentos e “deixemo-nos guiar pela luz do Senhor” (Is 2,5). Rezemos juntos.
Vigiai!
Vinde, com alegria!
Vamos em família para a casa do Pai.
Somos filhos do Deus da Luz:
abandonemos as obras das trevas
e caminhemos à luz de Cristo.
Peçamos a paz para todos os povos:
que façam das espadas alfaias agrícolas,
e das armas, ceifeiras para os trigais.
– Mostrai-nos, Senhor,
a vossa misericórdia
e dai-nos a vossa salvação.
Revesti-vos do Senhor Jesus Cristo,
o Filho muito amado que o Pai nos enviou
como nosso Salvador.
– Mostrai-nos, Senhor,
a vossa misericórdia
e dai-nos a vossa salvação.
Senhor, despertai-nos do sono da evasão.
Ensinai-nos a vigiar e a estar preparados,
para que não nos surpreenda o vosso Dia.
Amém. (5)
Frei Osvaldo Maffei, OFM
(1) Cf. CUNHA, A. G. da Dicionário etimológico nova fronteira da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982, p.821.
(2) Disponível em:
(3) Disponível em:
(4) A presente estória foi retirada de:
FRANCIA, A. Educar com fábulas. São Paulo: Mundo Mirim, 2009, p. 94-95.
(5) Oração escrita por: Frei Lopes Morgado
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