terça-feira, 21 de dezembro de 2010

A Teologia da Libertação

Na década de setenta, o teólogo peruano Gustavo Gutierrez lançava o seu livro “Teologia da Libertação”, no qual sistematizava os fundamentos de uma teologia condizente com as especificidades da realidade latino-americana sob vários aspectos.

Antes de tudo, o trabalho de Gutierrez representava o esforço de compreender as modificações ocorridas na Igreja iniciadas com a eclosão do Vaticano II.

A Igreja a partir daquele momento, nos continentes do Terceiro Mundo, realizava um deslocamento de lugar social, aproximando-se de segmentos desfavoráveis economicamente.

Algumas consciências de tendências ideológicas, pensando proferir a verdade irrefutável, concomitantemente sem reconhecer a relação existente entre a Igreja e as classes sociais no Brasil, defendem na mudança, uma estratégia maquiavélica com a qual a Igreja continuaria mantendo uma relação de dominação com o povo.

No intuito de desmistificar esses argumentos, as seguintes conjecturas devem ser analisadas: uma seria o elemento humano da hierarquia, bispos e padres, que mesmo aceitando adentrar às estruturas da instituição, dispuseram-se a seguir uma linha evangelizadora.

Preferiram ser cristão em troca da comodidade católica. Há enorme diferença entre ser um ou outro. Muitas vezes o catolicismo consignou na história a degenerescência da fé cristã.

A outra recai sobre a dinâmica da sociedade, resultando a proliferação da miséria.

Ao tomar o “milagre Brasileiro” como parâmetro, veremos que ele atingiu o ápice no governo militar de Médici, O país alcançou crescimento vertiginoso na economia.

Em contrapartida não houve a justa distribuição de renda, mas a concentração, exacerbando a distância entre ricos e pobres.

Nos grandes centros urbanos como São Paulo, por exemplo, aumentaram os índices de acidente de trabalho e de mortalidade infantil.

Alguém teve que pagar o tributo pela elevação do Brasil à posição de 7ª potência mundial.

E foram os trabalhadores com a amputação de parte de seus membros e a vida de seus filhos.

Na última suposição queremos enfatizar o papel da Igreja numa sociedade dividida por interesse de vários setores.

O traço marcante do seu perfil, em tempos remotos e ainda hoje em menor intensidade, foi o assistencialismo.

Era possuidora de uma função social, significando livre trânsito por entre o povo.

Isso nos leva a concluir que a opção pelos pobres não é recente; inovadora é a natureza dessa opção.

O povo sempre esteve sobre os cuidados da Igreja.

Como bem diz o jargão eclesiológico: opção preferencial pelos pobres, descartando qualquer aproximação exclusiva e radical dos pobres. Desta forma ela é a Igreja de todos. O enlace recebeu a repulsa da ala conservadora, que viu a união como uma família de mentalidade pequeno-burguesa, que sente a perda da posição social planejada para sua filha. O povo não teria condições de arcar com as pompas, antes concedida com tanto esmero, no período em que ela estava eclusa em casa. Além do mais, os padrinhos (teólogos) fizeram uso de categorias das ciências sociais, indispensáveis nas análises que visam a erradicação de problemas estruturais, vistas preconceituosamente pela Congregação para a Doutrina da Fé. Até agora presenciamos o prelúdio de uma relação que se tornará consistente e madura.

Primeiro porque a decisão de parte da Igreja é determinada e o povo, por sua vez, está assumindo o compromisso com responsabilidade.


Jomar Ricardo da Silva - Professor da Universidade Estadual da Paraíba

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