terça-feira, 7 de dezembro de 2010

São Paulo emite 143 milhões de toneladas de CO2 equivalente, indica inventário

Estado planeja reduzir em 20% as emissões até 2020; estratégia pede novas rotas tecnológicas


Para a secretária-executiva do Proclima, inventário é resultado de uma iniciativa inédita no país


A Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) divulgou no último dia 30, o primeiro inventário de gases de efeito estufa equivalente (GEE) do Estado, que traz dados referentes ao ano de 2005. Segundo o levantamento, São Paulo emite 143,4 milhões de toneladas de CO2. A meta é reduzir em 20% esse volume nos próximos dez anos.

De acordo com o estudo, os setores de energia e de agropecuária são os grandes responsáveis pelas emissões de GEE equivalente, com 57% e 20%, respectivamente, de contribuição. O setor de uso da terra, mudança no uso da terra e florestas aparece com 9%. Já a indústria emite cerca de 8% do total e os resíduos respondem por 6%.

Para secretária-executiva do Programa Estadual de Mudanças Climáticas (Proclima), Josilene Ferrer, o inventário é resultado de uma iniciativa inédita no Brasil de elaboração de um amplo e detalhado diagnóstico das emissões de gases de efeito estufa no período de 1990 a 2008, e servirá de base para se atingir as metas de redução de emissão de GEE.

Os números foram antecipados pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) na semana anterior, em Brasília (DF). De acordo com a instituição de pesquisa, para atingir a meta estabelecida, será preciso investir fortemente em soluções inovadoras. “Se nada for feito a emissão poderá chegar a 238 milhões de toneladas em 2020. Devemos definir o que fazer nessa década para impedir isso”, alertou do diretor de Inovação do instituto, Fernando Landgraf.

O instituto se debruçou nos últimos seis meses para construir cenários e apontar alternativas capazes para auxiliar o governo estadual. Os estudos foram norteados pela Lei Estadual nº. 13.978/2009, que instituiu a Política Estadual de Mudanças Climáticas.

Os desafios tecnológicos para reverter esse quadro são, na avaliação do instituto, gigantescos, e passam principalmente pela ampliação do uso de biocombustíveis, mudanças nos modais de transporte, uso de tecnologias limpas na indústria, mudanças no setor agrícola, uso de tecnologias de captura e estocagem de carbono e gaseificação de biomassa.

Soluções inovadoras

Dentro dessa nova demanda, que pede cada vez mais o uso de tecnologias limpas, já está em curso no IPT, um projeto para o desenvolvimento de uma nova rota metalúrgica para produzir silício de grau solar. Segundo o instituto, a técnica, além de ser mais econômica também possibilita a obtenção do material de alta pureza, empregado na produção de células solares fotovoltaicas utilizadas para conversão da energia solar em energia elétrica.

Trata-se de uma necessidade de substituir as energias baseadas em combustíveis fósseis por energias mais limpas e renováveis. O projeto recebeu recursos da ordem de R$ 10 milhões e conta com apoio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Outra estratégia, segundo o instituto, é reduzir gradativamente a frota de carros a gasolina e substituí-la por veículos a etanol, que poderia economizar 27 milhões de toneladas mesmo dentro de cenário tímido. “Estamos supondo um uso modesto de biodiesel. Sabemos que não é possível usar 100% nos caminhões”, considera.

Para Landgraf, o Estado também pode apostar em tecnologias de sequestro de carbono, já que São Paulo possui um solo com estocagem subterrânea de gás natural em aquífero. “É um grande potencial. Vamos precisar de muito investimento financeiro para investigar qual é o tamanho desses reservatórios e qual a capacidade deles de sequestrar CO2”, explica.

O diretor do IPT apresentou, ainda, o grande projeto do instituto para os próximos cinco anos. Trata-se da gaseificação da biomassa. Para defender essa iniciativa, a instituição utilizou os números da colheita de 2009 da cana-de-açúcar. Os dados mostram que foram colhidas, 650 milhões de toneladas naquele ano, e 14% desse volume pode ser utilizado na gaseificação – o suficiente para gerar 18 GJ/T, ao custo de R$ 130 por Mwh.

“Esse é o resultado com um rendimento de 40%, que é altamente possível numa gaseificação de biomassa, com ciclo integrado com geração de energia a partir de usinas a gás”, explica. Todo esse processo renderia R$ 24 bilhões. Entretanto, Landgraf lembrou que as iniciativas não podem ser isoladas. Para alcançar meta estabelecida, será preciso desenvolver dezenas de rotas tecnológicas diferentes. “Vamos ter que pesquisar. É um desafio para muitas instituições de pesquisa tecnológica”, completou.


Cynthia Ribeiro

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