Queridas irmãs, aspirantes, simpatizantes e colaboradores,
Com certeza, na noite de natal fazia muito frio em Belém. A cidade, pobre e sem condições de hospedagem, recebeu, naqueles dias, muita gente (pobres, sem-teto, sem-chão, sem emprego, sem-eira-nem-beira e outros...) para se recensear. Uma dessas famílias-sem-nada hospedou-se numa estrebaria a fim de condividir o calor no aconchego dos animais e, assim, aquecer o recém-nascido, a mãe e o pai que haviam caminhado dias e noites na longa viagem de Nazaré a Belém.
Em nossos tempos, também acontecem situações semelhantes, como a do povo haitiano, vítima da injustiça social que os reduziu ao país mais empobrecido das Américas. Não bastasse isso, no dia 12 de janeiro deste ano, foi dizimado pelo forte terremoto que deixou pelo menos 200 mil mortos, 300 mil feridos, um milhão de desabrigados e destruiu a já precária infraestrutura do país. Hoje, cerca de 80% das pessoas sobrevivem abaixo da linha da pobreza e, desesperadamente, brigam por um prato de comida ou tentam deixar o país.
Religiosas/os da América Latina estiveram em Haiti e algumas continuam lá em solidariedade ao povo. Ir. Tereza Albanez e eu tivemos a graça, em outubro (na semana do anúncio da epidemia do cólera), de poder fazer uns dias de experiência em meio àquele povo. O que vimos? Fome estampada nos corpos magérrimos das pessoas, tanto de adultos quanto das crianças que, ao nos ver, de longe estendiam a mão implorando leite para os filhinhos ou água e comida... Vimos multidões de pessoas ao longo das ruas tentando vender alguma peça de roupa, algumas frutas, feixes de lenha... muitas pessoas mutiladas, com bengalas ou cadeira de rodas. Vimos milhares de tendas e barracas – uma “colada” na outra, cheias de gente sem água, sem alimentos, sem luz, sem condições sanitárias. As autoridades afirmaram que um milhão de pessoas está ainda debaixo de lonas e tendas. Vimos grande parte das casas, prédios, templos... ruídos ao chão e outras com grandes rachaduras. Olhando as multidões que perambulam desnorteadas, sem-eira-nem-beira, nos pareciam “ovelhas sem pastor”.
Mesmo assim, nesse complexo caótico, vimos muitos gestos solidários: pessoas abrigando vizinhos debaixo dos escombros que sobraram, pessoas partilhando cama, comida, carona ou cuidando de mutilados. Escolas e Colégios entulhando as salas de aula com a acolhida de alunos de outros complexos escolares que ruíram.
As três Irmãs brasileiras enviadas ao Haiti pela CRB (Conferência dos Religiosos do Brasil), realizarão seus projetos (meio ambiente, horta comunitária; Pastoral da Criança/Saúde e trabalhos manuais com grupos de mulheres no setor Canaã (uma ocupação com, aproximadamente, 40 mil acampados). Ao visitarmos os franciscanos OFM ficamos mutuamente felizes: nós com a notícia de que eles já estão desenvolvendo um projeto ecológico nessa ocupação; e eles por saberem que nossas Irmãs também escolheram aquela área para a missão. Encontramos também muitas pessoas de outros países prestando serviço voluntário e gratuito. Pessoas que escutaram os gemidos, tiveram compaixão e a coragem de ir ao encontro.
Em consequência da história de empobrecimento do país, muitas pessoas já não têm acesso a sequer um prato de arroz ao dia. Alimentam-se quase só de “biscoitos de barro” (argila, água, uma pitada de sal e um pouco de margarina). Após amassar os ingredientes, fazem as pequenas porções e as colocam para secar ao sol. As mulheres e as crianças os vendem nas ruas ou nos mercados e, com o trocado, compram leite para os bebês ou alimentos para a família. Disse uma jovem, com seu bebê no colo: “quando minha mãe não tem outra coisa para cozinhar nós nos alimentamos só com esses biscoitos, três vezes ao dia”. E acrescentou “mas os biscoitos me dão dores de estômago e diarréia e quando amamento até mesmo o bebê sofre de cólicas intestinais”.
Nossas irmãs que trabalham na fronteira Haiti e República Dominicana e que diariamente se deparam com a chegada de mais haitianos refugiados, têm nos ouvidos o constante gemido: “Estamos com muita fome, perdemos tudo: familiares, o casebre, a lavoura, os animais domésticos, a saúde... não temos sequer sementes para plantar...”.
Aqui no Brasil também tivemos, neste ano, regiões fortemente atingidas por vendavais, secas prolongadas, enchentes... Lembro especialmente do povo dos Estados de Alagoas e Pernambuco. Nós, Irmãs Catequistas Franciscanas, estamos presentes, de forma solidária, ajudando a população de Palmares (PE) na reivindicação de seus direitos sociais e de políticas públicas favoráveis, a fim de que recuperem o ânimo de viver.
O tempo de advento é sempre um período propício à solidariedade, à partilha e comunhão entre familiares, amigos, vizinhos e povo em geral. Nós, cristãos e cristãs, temos também o bom costume de fazer “campanhas de advento” em favor de pessoas empobrecidas, carentes e, de algum modo, necessitadas.
Nossa proposta é de fazermos, neste advento, em cada fraternidade e nas comunidades, a campanha do alimento: leite para os bebês e sementes de verduras e frutas, de feijão, milho e arroz... para semear. O resultado do dinheiro arrecadado será enviado, uma parte ao povo haitiano, refugiado na República Dominicana (onde nossas Irmãs estão em missão), e outra parte ao povo de Palmares. Será nossa expressão de NATAL SOLIDÁRIO com esses povos. Assim, a nossa partilha produzirá frutos e incluirá ao redor de nossa mesa pessoas que sobrevivem das migalhas. E nossos olhos verão não só uma noite feliz no céu, mas o amanhecer de um novo dia de paz na terra do Haiti e no chão de Palmares.
Se você quiser colaborar, fale com a pessoa que está coordenando essa campanha em sua comunidade.
Desejamos que nossa comunhão solidária nos ajude a celebrar a Boa Nova do Natal e seja fonte de VIDA para esse povo que quer viver!
A você e sua família,um alegre e significativo NATAL eum abençoado 2011!
Ir. Carmela Panini – CF
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