sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Água do rio São Francisco será a mais cara do país - Bispos apontam falta de revitalização








A água transposta do rio São Francisco chegará à torneira do nordestino como a água mais cara do país. Enquanto o preço médio cobrado em outras bacias hidrográficas pelo uso da água é de R$ 0,01 a R$ 0,02 por mil litros, a do São Francisco vai custar R$ 0,13.

O dinheiro será recolhido pela Agnes, estatal em gestação na Casa Civil da Presidência da República. A empresa vai gerenciar as operações da transposição do rio e a distribuição da água para as previstas 12 milhões de pessoas beneficiadas.

Um dos maiores críticos do projeto, o pesquisador João Suassuna, da Fundação Joaquim Nabuco, acha difícil que o agricultor das áreas atendidas pela transposição consiga pagar essa conta. "Os colonos do Vale do São Francisco, hoje, já estão com dificuldades para pagar por uma água a R$ 0,02. Imagine com esse preço", afirma Suassuna.

O pesquisador vê, ainda, outro problema. O porte das obras e o volume de água deixam patente que o propósito da transposição não é matar a sede e a fome de quem vive na seca. A mira, afirma ele, está no agronegócio para exportação, na criação de camarão e no abastecimento de indústrias.



25/11/2010

Bispos observam falta de revitalização do Rio São Francisco e cobram mais fiscalização nas obras de transposição

Os bispos do Regional Nordeste 2 da CNBB (Alagoas, Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte) se reuniram no município de Floresta (PE), no dia 8 de novembro, para tratar de vários assuntos internos e pastorais, e realizaram uma visita às obras da transposição de águas do Rio São Francisco, nos dias 9 e 10. Na oportunidade eles observaram a falta de revitalização do Rio e cobraram fiscalização nas obras de transposição.

"Os trabalhos de revitalização são praticamente inexistentes no trecho do Rio São Francisco de onde saem os dois Eixos da Transposição. Embora não tenham chegado a todas, os trabalhos de saneamento básico constituem exceção, porque estão sendo realizados em muitas cidades da bacia". Os prelados também cobram mais fiscalização nos trabalhos. "Estes trabalhos, porém, deveriam ser melhor fiscalizados, pois existem fortes dúvidas quanto à qualidade e à utilidade das obras realizadas em várias cidades", disseram os bispos em mensagem divulgada após a visita.

O objetivo da visita, que teve caráter pastoral, foi conhecer o andamento dos trabalhos e, sobretudo, ver de perto os reflexos e conseqüências da obra na vida das pessoas das comunidades atingidas. Eles também aproveitaram para manifestar solidariedade às comunidades que se sentem prejudicadas e detectar problemas sobre os quais se faz necessário um maior controle por parte da sociedade.

Na terça, dia 9, os prelados foram acolhidos pelo atual Ministro da Integração, Dr. João Santana. Ele apresentou todo o projeto de transposição aos bispos e, no período da tarde, eles visitaram algumas partes do Eixo Leste, o qual levará água para o Ramal do Agreste e para a bacia do Rio Paraíba, cuja nascente é em Monteiro.

No dia seguinte, com o acompanhamento dos técnicos do Ministério, foram visitados, no Eixo Norte, trechos do canal de aproximação que está sendo construído em Cabrobó e conheceram uma das Vilas Produtivas Rurais (VPR) que estão sendo construídas para recolocar as famílias, cujas casas ficaram na área desapropriada de Uri, em Salgueiro (PE).

Ainda quarta-feira, os bispos se reuniram no centro Dom Guanella, em Salgueiro, com um grupo de representantes de várias comunidades atingidas, em boa parte indígenas, que apresentaram suas dificuldades. Os principais problemas expostos foram: a indenização das terras, freqüentemente "irrisória" e demorada; as dificuldades de atravessamento do canal para os moradores que ficam com terras de um lado e de outro; e a grande rotatividade de trabalhadores que são demitidos depois de poucos meses de serviço. Uma grande preocupação, em particular, é relativa às terras indígenas; muitas das quais não foram homologadas.

Todos os dias, à noite, os bispos participaram de missas nas catedrais de Floresta e Salgueiro, acolhidos, respectivamente, por dom Adriano Ciocca Vasino e dom Magnus Lopes.

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