Brasília 17 de Outubro de 2010
Ilma Srª. Dilma Russeff
M. D. Candidata a Presidência da República.
Prezada Senhora:
Após consulta a lideranças nacionais do Povo Tradicional de Terreiro chegamos ao arcabouço da presente carta, que tem como principal objetivo lhe transmitir o sentimento dominante de nosso Povo Tradicional de Terreiro, ainda que haja opiniões contrárias como é natural. Mas em sã consciência podemos afirmar que a grande maioria se irmana conosco e com o que abaixo iremos expor.
Inegavelmente sua candidatura à presidência da República é o que há de mais seguro para o Povo Tradicional de Terreiro.
Nosso Povo de Terreiro efetivamente se movimentou no primeiro turno a seu favor, mas sem receber nenhum apóio oficial dos comitês responsáveis por sua campanha; em poucas cidades especialmente nas capitais, esse processo se deu de forma diferenciada, mas o que predominou foram situação como a de Manaus, o material de divulgação voltado a População Negra só chegou as mãos das lideranças de Terreiro três dias antes da votação, um completo e total descaso para conosco.
Vimos com muita preocupação que nos últimos dias um esforço concentrado de sua coordenação de campanha, em mudar a imagem negativa forjada junto aos cristãos católicos e, principalmente, evangélicos. Também observamos com pesar que durante toda a campanha do primeiro turno os seus encontros com as comunidades evangélicas e católicas ganharam grande espaço junto à mídia.
Se o mesmo tipo de encontro se deu junto ao Povo de Terreiro no primeiro turno ou agora no segundo, isso se fez de forma muito tímida, sem nenhuma divulgação ou destaque. É corrente o pensamento de que um encontro da senhora conosco lhe tiraria votos de evangélicos radicais.
O seu recente encontro com pastores evangélicos no nosso entendimento foi um infeliz episódio. Com toda a certeza seu compromisso com o grupo lhe renderá votos, mas com toda a certeza lhe fez perder muitos votos do Povo Tradicional de Terreiro, do Movimento LGBT católicos e a sociedade em geral por conta de ter sido um encontro com apenas e tão somente com evangélicos.
O resultado de tal iniciativa foi um significativo e crescente número de manifestações via internet conclamando a população a votar em branco ou no seu opositor. Manifestações essas que respeitamos enquanto direito de livre manifestação, mas não concordamos.
Acreditamos na sua proposta de um Estado laico. Temos presente pelo seu histórico pessoal e político que, se eleita, a senhora se empenhará na execução dessa demanda social.
A partir do momento em que a candidata assinalou pactuar com o pensamento dos pastores evangélicos, em questões altamente delicadas como o aborto e a parceria civil, nos preocupa o empoderamento que seu ato proporcionou as religiões hebraico-cristãs especialmente o seguimento neopetencostal, em detrimento das demais religiões.
Em todo o Brasil é tido como fato concreto que os religiosos evangélicos jogaram a eleição presidencial para o segundo turno, que a candidata do governo, já considerada eleita, teve que se curvar diante do poder e ditames dos pastores evangélicos para poder garantir a eleição. Pelo que até o momento pudemos vir de sua conduta pessoal esse deve ter sido um momento extremamente difícil na sua história de vida.
Admitimos que o grupo evangélico está cumprindo, muitíssimo bem, o objetivo de chegar ao poder; estão organizados social e politicamente, os currais eleitorais garantem o voto de cabresto em nome de Jesus e das penas do inferno para quem não seguir as diretrizes dos pastores. A significativa bancada federal de evangélicos no Congresso Nacional lhe obriga a dialogar politicamente com o grupo como um todo, a fazer concessões e a pactuar.
As caminhadas, marchas e encontros com milhares de fiéis evangélicos são manifestações incontestes de força e poder. Força e poder conquistado com substancial ajuda dos governos passados e atuais. A prova maior disso é que a cada dia surgem denúncias e mais denúncias junto aos Tribunais de Contas de Municípios, Estado e União de repasse de verbas, convênios e parcerias de governos municipais, estaduais e federal com o seguimento evangélico que não foram cumpridos e ou foram usados de forma indevida, criminosa até.
Em contra posição qual é o potencial de voto do Povo de Terreiro?
Com certeza somos milhões, mas não dispomos da mesma estrutura que dispõem os evangélicos. Não nos foi possível criar hegemonia por conta do preconceito e racismo institucional. Foi graças ao Governo Lula que o Povo Tradicional de Terreiro passou a ser tratado com alguma distinção, mas as ações estruturantes do governo federal ainda não chegaram até nós como deviam. A grande maioria ficou fora, não consegue escrever projetos na linguagem oficial do governo, faltou investimento na capacitação de nosso Povo.
Mas nosso voto, no atual contexto poderá ser a diferença entre o sucesso e a derrota.
Todo esse quadro acima descrito aumentou nossa apreensão e dificultou a busca de votos no meio do Povo Tradicional de Terreiro, temos ouvido argumentos de que em sendo a senhora eleita, isso decerto, alavancará o prestígio dos evangélicos junto a população bem como junto ao próprio governo. O que para as demais religiões restantes seria extremamente danoso, haja vista o processo de intolerância vigente no país.
Há poucos dias da eleição entendemos que seria difícil articular uma única reunião da Senhora com lideranças religiosas nacionais do Povo Tradicional de Terreiro; entendemos que nesse momento precisamos lhe blindar. Qualquer movimento poderá ser mal interpretado.
Nosso apóio a sua candidatura é fato concreto, acreditamos que a Senhora é a melhor opção de continuidade das ações afirmativas do governo federal que deram a População Negra o que lhe foi secularmente negado desde a chegada do primeiro negro escravo ao Brasil, entre as que mais se destacam está a criação da SEPPIR, a Saúde Integral da População Negra, a Lei 10.639 e o polêmico Estatuto da Igualdade Racial que não é o que nós quereríamos, mas que é um ponto de partida para novas conquistas.
Como estamos tratando de Política que reflete o desejo do Coletivo há alguns aspectos que precisam ser pactuados entre o Povo Tradicional de Terreiro e seu futuro governo.
Com base em tudo o que acima destacamos queremos pactuar com a Senhora o que abaixo segue:
1 – Após as eleições, onde a senhora com a ajuda dos Vòdún’s, Nkices, Òrisá’s, Encantados, Caboclos, Catiços e Exús será vitoriosa, um encontro dos representantes nacionais do Povo Tradicional de Terreiro e a presidente eleita.
2 – Que seja firmado o pacto interreligioso e a presidente eleita de uma maior ênfase na proposta da promoção do Estado laico e do tratamento equânime às religiões como um todo.
3 – A realização da Primeira Conferência Nacional Sobre Religiosa com ampla participação dos vários segmentos religiosos existentes no país.
4 – Efetivação do mapeamento do Povo Tradicional de Terreiro nos estados da União, identificando as matrizes culturais.
5 – A revisão do Estatuto da Igualdade Racial onde seja ouvida a População Negra e suas demandas.
É de fundamental importância para a divulgação de sua campanha e a conquista de eleitores que tenhamos material e recursos para fazermos o corpo a corpo com nosso Povo.
Acreditamos que nessa hora decisiva para nosso País, nossos Vòdún’s, Nkices e Òrisá’s não nos abandonarão e haverão de conduzi-la, com o nosso voto, a Presidência da República Federativa do Brasil.
Até a vitória.
Em nome do Povo Tradicional de Terreiro,
Dr. Alberto Jorge Rodrigues da Silva - Vodunsi Re Rohsovi
RG Nº 405.562 SSP/AM
Coordenador Geral da Coordenação Amazônica da Religião de Matriz Africana e Ameríndia – CARMA
Federação Nacional da Religião de Matriz Afro-Brasileira – FENAREMA
Makota Valdina Oliveira Pinto
Salvador – Bahia
Babá Diba de Yemanjá
Dida Ará – Congregação em Defsa das religiões Afro no estado do Rio Grande do Sul - CEDRAB-RS –
Fórum das Comunidades Tradicionais de matriz Africana do RS Rio Grande do Sul - FORMA-RS
Babá Alexandre de Oxala
Rede Afrobrasileira Sociocultural
Marcio Alexandre M. Gualberto
Awofakan ni Orunmila Ogunda Trupon Omo Aganju
Ogan do Ilê Axé Iyá Omo Eja
Coletivo de Entidades Negras/Centro Cultural AfroRio
Tata Konmannanjy
ACBANTU
Pai Itaparandi Amorim
Paço do Lumiar – Maranhão
Jonathan Azevedo de Souza – Babá Sianoré
RG Nº 1547906-4 SSP/AM
Associação de Desenvolvimento Cultural Toy Badé
Pai João Clenardo
Associação dos Terreiros de Umbanda do Amazonas – ATUAM
Pai Henrique
Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileiras e Saúde – Coordenação Amazonas
Yá Raimunda Nonata Corrêa
Associação Nossa Senhora da Conceição
Ogan José Arimateia
CARMA – ACRE
SEJUDH
CERNEGRO
Mameto Nangetú
CARMA – PARÁ
Instituto Nangetu
Babá Jorge de Sangó
Curitiba – Paraná
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Sindicato dos Psicólogos do Amazonas – SINDPSI/AM
Federação Nacional dos Psicólogos - FENAPSI
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