quinta-feira, 27 de março de 2008

UM CONVITE À CONVERSÃO


Um convite à conversão - 27/03/2008

de Jaime Carlos Patias, imc

Abundante nos documentos da Igreja é o convite à conversão. O Documento de Aparecida é o mais recente deles, objetivando mudanças urgentes e necessárias na vida dos seguidores de Jesus. Dentre as várias chamadas à conversão, podemos destacar três: a pessoal, no encontro com Cristo ressuscitado, numa experiência de fé profunda que gera mudança integral de vida (DA 226); a pastoral, na passagem do esquema existente, de mera conservação, para uma pastoral decididamente missionária (DA 370); e a conversão estrutural, na renovação das estruturas eclesiais, abandonando as ultrapassadas (DA 366).




Detalhe: a renovação das paróquias exige a reformulação


de suas estruturas, para que se torne uma rede de comunidades e grupos capaz de se articular, conseguindo que seus membros se sintam realmente discípulos missionários de Jesus Cristo em comunhão. Tudo isso sem esquecer da realidade dos nossos povos e comunidades e das mudanças em curso no continente da esperança e do amor.
Toda mudança é um processo que requer tomada de consciência pessoal, decisão e esforço para que de fato, aconteça na nossa vida. Isso também vale para a vida da Igreja. Ousamos colocar algumas questões para contribuir no debate proporcionado por Aparecida. Estaria a Igreja Povo de Deus, decidida a converter-se? A Igreja, organizada sobre a hierarquia e comunidades, estaria consciente da necessidade de algumas mudanças? Estaria a Igreja disposta a rever sua postura e práticas pastorais em relação a temas como a inculturação do Evangelho, que enriquece a fé cristã nas mais variadas culturas e povos indígenas e afro-americanos, incluindo um pedido de perdão pelos danos causados por uma pastoral pouco encarnada? Estaria a Igreja disposta a deslegitimar o sistema neoliberal capitalista que produz pobreza, impede a experiência comunitária e inviabiliza a vivência do cristianismo? A tratar com seriedade a questão dos ministérios ligados à Eucaristia para garantir a atualização do mistério Pascal na grande maioria (70%) das comunidades cristãs sem a Eucaristia? Discutir uma revisão do exercício de poder em suas instâncias e pastorais para superar uma mentalidade machista que ignora a novidade do cristianismo quando reconhece e proclama a igual dignidade e responsabilidade da mulher em relação ao homem? A reconhecer a chave da questão acerca da família? Rever critérios e opções em relação à presença do clero no meio do povo? Repensar a catequese, a liturgia, a comunicação, a acolhida...? A lista continua... o que precisamos fazer é nos dar conta do quanto a Igreja como um todo, fala, insiste e aponta para a conversão e mudanças, mas ela mesma dá poucos sinais dessa conversão, especialmente naquilo que, ao longo dos séculos foi assumindo e que não a deixa livre para avançar. Não negamos a realidade humana da Igreja de Jesus Cristo, que também é divina. Contudo, ficar repetindo que a Igreja, Povo de Deus é santa e pecadora para justificar as suas incoerências, pouco ajuda. Aparecida não passará de mais um projeto ousado se não levar a Igreja a tomar decisões sérias nas questões que bloqueiam um verdadeiro processo de conversão pastoral e missionária. Tudo tem seu início na conversão pessoal que nos dispõe a propor, aceitar e implementar as mudanças almejadas.
O Senhor nos diz: “Não tenham medo” (Mt 28, 5). Como às mulheres na manhã da ressurreição, Ele nos repete: “Por que buscam entre os mortos Aquele que está vivo?” (Lc 24, 5). Os sinais da vitória de Cristo ressuscitado nos estimulam enquanto suplicamos a graça da conversão e mantemos viva a esperança que não engana (DA 14).

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